Em 2015, a Nissan iniciou um estudo para uma forma diferente de ter um carro elétrico, com a tecnologia chamada de Solid Oxide Fuel Cell (Célula de Combustível de Óxido Sólido). Com ela, um veículo seria movido a um motor elétrico e com uma célula de combustível igual à dos carros a hidrogênio. A diferença está no uso do etanol para gerar o hidrogênio na hora, o que mescla o desempenho de um elétrico com a praticidade de um carro a combustão.

Desde então, a tecnologia vem sendo testada à exaustão pela Nissan. Em 2016, a fabricante japonesa até trouxe alguns protótipos ao Brasil, na forma da van e-NV200. Até dirigimos o protótipo em maio de 2017, que andava da mesma forma que um carro elétrico normal, com a diferença do sistema na parte de carga da van. Logo após isso, a van foi para o Japão, iniciando os testes no país.

Galeria: Nissan SOFC

Neste novo momento, a Nissan está trabalhando em parceria com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) para transformar a tecnologia em algo que possa ser usado comercialmente. Até agora, o sistema trabalha com um reformador que recebe o etanol do tanque e faz a reação química para transformá-lo em hidrogênio, transmitindo direto para a célula de combustível. Esta nova etapa buscará integrar o reformador dentro do módulo SOFC, o que reduz o tamanho do sistema e com custos menores.

Ricardo Abe, gerente de engenharia de produtos da Nissan do Brasil, comenta que o momento agora é reduzir o tamanho da bateria, aumentar a eficiência e integrar mais elementos no sistema SOFC, eliminando o reformador separado. Como seguirá em desenvolvimento até 2025, a empresa evita falar sobre custos de produção, pois isso dependeria primeiro de chegar ao formato final da tecnologia e, só então, cotar as peças com fornecedores.

Nissan SOFC

Apesar do Brasil ser o país que mais usa o etanol, a Nissan está desenvolvendo a tecnologia de olho no mercado global. Um exemplo citado é a China, onde algumas cidades possuem uma grande frota de carros abastecidos com gás natural, ou países como Índia e Tailândia que usam um pouco de etanol. O uso do biogás é até uma possibilidade para um segundo momento.

A missão da Nissan é encontrar uma alternativa aos carros elétricos, eliminando os problemas de recarga. Um carro a hidrogênio tem diversos desafios que fazem com que fique muito caro. Um exemplo é que o hidrogênio ocupa muito mais espaço, exigindo um tanque de combustível maior e, além disso, reforçado para evitar vazamentos – afinal, é um gás extremamente volátil e altamente inflamável. Até para abastecer seria difícil, com um investimento muito grande na produção e armazenamento do hidrogênio.

Com o SOFC, isso fica mais fácil. O dono do veículo para em um posto de combustível comum e coloca etanol no tanque. O combustível passa pelo reformador, onde faz uma reação química com calor, separando o hidrogênio e uma pequena parte de CO2. O hidrogênio vai para o módulo SOFC, onde é usado para gerar energia para o motor elétrico, enquanto um pouco de CO2 e vapor d’água sai pelo escapamento em uma quantidade ínfima. E, como um tanque de combustível de etanol é menor e carrega mais do que um de hidrogênio, o carro terá uma autonomia acima de um FCEV puro.

Nissan SOFC

Um exemplo foi o que vimos no protótipo guiado em 2017. A e-NV200 utilizada tinha um tanque de combustível de apenas 30 litros, mas era o suficiente para que a autonomia ultrapassasse os 600 km. O comportamento dinâmico foi igual ao de um modelo elétrico, com o torque instantâneo do motor. Apesar de não ter as pesadas baterias que normalmente estariam na van, a tecnologia ainda usava um conjunto enorme e que ocupava quase metade do espaço na traseira. No futuro, a Nissan espera reduzir o tamanho e o peso.

"É um prazer interagir com o time de pesquisa da Nissan e poder colaborar com um desenvolvimento global da marca. Eletrificar o etanol, um combustível renovável e estratégico para o país, tem um enorme potencial no contexto das novas energias sustentáveis. A Nissan tem a visão de que investir globalmente em pesquisa é um caminho para superar os desafios existentes para conquistar novas tecnologias. Ver os desenvolvimentos do IPEN participando desse processo é muito gratificante", afirma Fabio Coral Fonseca, pesquisador do IPEN/CNEN.

No entanto, não espere ver esta tecnologia nas ruas tão cedo. A Nissan continuará o trabalho de desenvolvimento até 2025 para, só então, analisar os resultados e decidir se vale a pena seguir em frente, iniciando uma produção em massa ou estendendo o ciclo de pesquisa para melhorar o sistema SOFC o suficiente para que acessível.

Ouça o podcast do Motor1.com:

 

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