Até quando os motores a combustão irão sobreviver com a transição energética? É uma questão ainda difícil de responder, mas montadoras como a Porsche estão trabalhando em alternativas mais sustentáveis para que esse fim seja adiado e nesse processo a grande aposta é o combustível sintético.
E para entender um pouco mais do chamado eFuel, a Porsche fez uma apresentação para a imprensa onde mostrou o desenvolvimento do combustível sintético no contexto de atingir suas metas ambientais. Na sequência, após o abastecimento na própria concessionária, fizemos um test-drive até a região de Mairiporã, no interior de São Paulo para sentir na prática o que muda.
Mas antes de começar, vale conferir o panorama do combustível que a Porsche está testando na Patagônia chilena. O eFuel é um combustível sintético feito de ar e água; seu projeto piloto, chamado Haru Oni, significa "terra dos ventos" no dialeto local, e tem capacidade para produzir 130.000 litros por ano, número que será bastante ampliado.
A região da Patagônia é conhecida pelos seus fortes ventos, que sopram incessantemente pela paisagem árida. Essa energia eólica é utilizada para gerar eletricidade verde, que por sua vez é usada para separar o hidrogênio da água. O hidrogênio é então combinado com o dióxido de carbono (CO₂) capturado do ar para criar metanol, que pode ser convertido em gasolina ou diesel.
O eFuel pode ser usado em qualquer motor de combustão interna, desde carros clássicos até carros de corrida de alto desempenho. Quando queimado, o eFuel libera apenas o CO₂ que foi capturado do ar durante sua produção, tornando-o um ciclo fechado e neutro em carbono.
Conforme explica a Porsche, o combustível sintético tem as mesmas propriedades da gasolina comum. No entanto, sua obtenção é feita por meio da eletrólise do hidrogênio com o acréscimo de CO2, que o torna limpo para o meio ambiente na fase de produção.
Em termos práticos, o eFuel tem as mesmas propriedades e eficiência energética do combustível fóssil, sendo equivalente à gasolina E10, comercializada na Europa.
Fizemos um test-drive entre São Paulo e Mairiporã, dirigindo no trânsito bastante carregado da capital e também em trechos rodoviários. E, em termos de impressões ao dirigir, (felizmente) não há muito o que acrescentar. Não há diferença alguma na direção, ruído, vibrações, marcha-lenta ou desempenho urbano ou rodoviário: é como dirigir um equivalente rodando com gasolina normal. Isso comprova o fato de não ser necessária nenhuma modificação mecânica ou eletrônica nos carros para rodar com o combustível sintético - durante o trajeto o consumo médio ficou ao redor de 9,5 km/l.
E como foi dito no início, a Porsche acredita que o eFuel pode ser uma importante solução para reduzir as emissões de CO₂ do setor de transporte. A empresa planeja aumentar a produção de eFuel em Punta Arenas para 55 milhões de litros por ano até meados da década e 550 milhões de litros dois anos depois. Isso equivale a 1,2% das necessidades de combustível da Alemanha para automóveis de passageiros, só pra citar um exemplo.
A Porsche seguirá investindo na pesquisa e desenvolvimento do eFuel e trabalha para que ele possa ser produzido em escala comercial no futuro. Seus principais desafios são o custo de produção mais alto em relação a uma gasolina baseada no petróleo e uma infraestrutura de distribuição que ainda precisa ser desenvolvida, pois as condições de produção são mais favoráveis em algumas regiões, em detrimento de outras, e é necessário equilibrar essa oferta e demanda com custos razoáveis para a sua popularização.
Pelo cronograma, a Porsche informou que pretende lançar o seu combustível sintético no mercado no período de um a dois anos - além de atender sua própria necessidade, ampliar a oferta para clientes externos. Ainda não dá pra afirmar qual será o preço exato, mas estima-se que ela custará o equivalente a uma gasolina premium, barateando com o passar do tempo e ampliação da produção.
Olhando para o futuro, parece uma boa solução para a Porsche manter em linha alguns de seus modelos a combustão para um público que não abrirá mão deles. Em um primeiro olhar não se trata de uma alternativa à eletrificação, mas sim uma saída complementar em um cenário de transição que não será tão rápido, sem contar a idade média ainda alta da frota mundial de modelos a combustão.
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