Baterias de carros eletrificados podem ser 100% recicladas, diz ABVE
Associação Brasileira do Veículo Elétrico argumenta que o país já convive com baterias de lítio há 25 anos
As baterias de lítio, que equipam a grande maioria dos veículos eletrificados (elétricos puros ou híbridos) rodando pelo mundo podem ser 100% recicladas, evitando qualquer risco ou prejuízo ao meio ambiente, afirmou a Associação Brasileira do Veículo Elétrico. A entidade foi criada para apoiar o desenvolvimento do mercado de veículos elétricos e todo o ecossistema da eletromobilidade no Brasil.
A tecnologia para desenvolver este trabalho reciclagem já está difundida mundialmente e já é desenvolvida também no Brasil – as três principais empresas especializadas nessa atividade que operam no país são Re-Teck, Energy Source (associadas da ABVE) e Lorene.
Essas empresas atuam no mercado brasileiro coletando e reciclando as baterias de lítio de aparelhos celulares, notebooks, tablets e máquinas de cartão. A tecnologia dessas baterias é a mesma utilizada pelas montadoras nos seus veículos eletrificados. “As baterias de lítio já fazem parte da sociedade brasileira há, pelo menos, 25 anos”, afirma Marcelo Cairolli, diretor de Infraestrutura da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico) e vice-Presidente de Negócios para América Latina da Re-Teck, que atua no Brasil desde 2016.
De acordo com pesquisa divulgada em 2023 pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV EAESP), o Brasil tinha então 249 milhões de smartphones e outros 115 milhões de tablets e notebooks ativos. “Isso equivale a 42,2 mil toneladas de baterias em operação. Portanto, essa não é uma tecnologia nova no país e as empresas de reciclagem que atuam nesse segmento são bem lucrativas e estão prontas para atender ao mercado automotivo”, acrescenta Cairolli.
Reforma tributária mostra atraso do país
Em julho, a Câmara dos Deputados aprovou a regulamentação do texto base da Reforma Tributária, incluindo o carro elétrico no Imposto Seletivo, conhecido como o “Imposto do Pecado”. O projeto agora será apreciado pelo Senado. Este imposto foi criado para incidir sobre produtos ou atividades nocivos à saúde ou ao meio ambiente.
De um lado, o governo argumentou incertezas quanto à destinação das baterias de veículos elétricos e eletrificados no país. Do outro, o mesmo governo deixou os caminhões a diesel de fora da tarifação maior alegando que o Brasil seria um "país rodoviário".
“Os veículos elétricos e híbridos reduzem ou cortam a zero as emissões de poluentes nocivos, diminuem a poluição sonora e contribuem com a redução dos gases do efeito estufa. Eles favorecem a saúde humana e o meio ambiente. Não faz qualquer sentido esse produto ser incluído no Imposto Seletivo”, argumenta Ricardo Bastos, presidente da ABVE.
Reciclagem das baterias
Vale destacar que a bateria de um veículo eletrificado não quebra ou estraga de um dia para o outro. Na verdade, assim como acontece nos aparelhos celulares, com o passar dos anos, suas células vão perdendo a capacidade de carregamento. No caso dos veículos elétricos, em geral, não é necessário trocar a bateria toda de uma vez: o consumidor poderá solicitar um teste das células e trocar apenas as que estão danificadas – o processo é similar ao que já acontece no Brasil com as baterias de bicicletas elétricas. Estas células substituídas são enviadas para a reciclagem.
Essas células, feitas de lítio, são o componente mais importante da bateria e operam, basicamente, como as pilhas comuns que conhecemos, armazenando a energia necessária para manter o veículo em funcionamento. Os carros elétricos, dependendo do modelo, possuem milhares de células.
Quando o desempenho da maioria das células atinge a marca de 50% abaixo do normal, é a hora da substituição. Porém, aquela bateria usada ainda poderá ter uma “segunda vida” em aplicações estacionárias, incluindo sistemas de armazenamento de energia solar ou eólica para residências e empresas.
As baterias dos veículos possuem, em geral, garantia de oito anos e apresentam uma durabilidade que varia de 10 a 15 anos, de acordo com dados da ABVE. Portanto, diz a associação, ainda não existem modelos eletrificados no Brasil com baterias que necessitem da reciclagem. No momento em que as baterias que rodam atualmente pelo país começarem a chegar ao seu limite de durabilidade, as empresas de reciclagem estarão prontas para oferecer seus serviços para o mercado nacional.
Basicamente, estes serviços poderão incluir a coleta das baterias usadas por todo o país e a reciclagem de 100% do produto. A maior segurança que esse processo terá sucesso, de acordo com a ABVE, é o fato de os itens reciclados terem valor de venda no mercado global, similar ao de comodities, além de contribuírem com a preservação do meio ambiente.
Durante a reciclagem, que consiste na trituração das baterias, são gerados três tipos de produtos que são devidamente separados: plásticos, retalhos de alumínio e cobre e os chamados metais nobres (lítio, cobalto e níquel). Todos são recicláveis, mas os resíduos de metais nobres são os mais valiosos no mercado internacional e são conhecidos como “Massa Negra” (“Black Mass”) pela sua aparência – são um pó metálico e preto que posteriormente é enviado para separação dos metais e reaproveitamento na fabricação de novas baterias. Lítio, níquel e cobalto podem ser reciclados diversas vezes.
Existe um interesse crescente, globalmente, pela “Massa Negra”. Grandes empresas internacionais já estão atuando nesse setor e algumas montadoras já anunciaram parcerias ou joint-ventures para explorar as oportunidades de reciclagem com as baterias de veículos eletrificados.
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