O setor de veículos elétricos da China está sob pressão. Recentemente, a União Europeia anunciou sua intenção de cobrar tarifas de importação de até 36,6% sobre os modelos importados do país asiático. O Canadá e os EUA pretendem taxar em 100%. No Brasil, o IPI para importados também irá aumentar gradativamente.
Mas essas medidas parecem estar atrasando o inevitável. Nenhuma das empresas chinesas está diminuindo o ritmo. As grandes montadoras de lá estão ganhando força e tração de forma consistente nos mercados fora da China e novos modelos estão sendo lançados o tempo todo.
Esta semana, duas das marcas de elétricos mais proeminentes da China - BYD e Xpeng - anunciaram como meta para o futuro a médio prazo (por volta de 2030) que metade de seu volume de vendas seja proveniente de países fora da China.
A Xpeng, em particular, vem ganhando as manchetes por uma parceria com a Volkswagen que, sem dúvida, tem potencial para que a marca alemã aprenda com a chinesa a como fazer carros elétricos. A Chinesa estreou um novo modelo esta semana que mostra o quanto a empresa está levando sua evolução a sério: o sedã Xpeng Mona M03, do tamanho do Tesla Model 3 e que foi lançado por um preço abaixo do esperado, equivalente a R$ 94.624. Para se ter uma ideia do barulho que o carro vem gerando, a marca conseguiu vender 10.000 unidades do sedã em 52 minutos.
É verdade que o Xpeng Mona M03 provavelmente não está no mesmo nível do Model 3, já que tem tração dianteira e apresenta uma configuração de suspensão mais barata. Ele dispõe de multimídia de 15,6" alimentada por um chip Qualcomm Snapdragon 8155 com 16 GB de RAM, além de motores elétricos de 140 kW (190 cv) ou 160 kW (218 cv) e baterias Blade, que fornecem autonomia de até 619 km (embora no ciclo de testes mais generoso da China, o CLTC). É um elétrico "básico", mas nem parece.
Com coeficiente de arrasto aerodinâmico de apenas 0.194 o carro se destaca por ser o mais aerodinâmico da categoria, o Mona M03 também se beneficia de um peso relativamente baixo considerando seus rivais, com versões pesando entre 1.631 kg e 1.739 kg.
Ainda não se sabe se o Mona M03 aparecerá fora da China. Mas a linha da Xpeng está se movendo rapidamente para outros mercados. A Xpeng planeja que seu crossover G6 entre no Reino Unido ainda este ano e está procurando ativamente um local adequado para construir uma fábrica na Europa.
Enquanto isso, a BYD tem objetivos semelhantes. A vice-presidente executiva da BYD, Stella Li, disse que "o mercado externo [da BYD] será responsável por uma proporção relativamente grande de nossas vendas globais no futuro", uma declaração que ela quantificaria mais tarde como quase metade das vendas da BYD. Da mesma forma, o CEO da Xpeng, He Xiaopeng, apresentou ideias semelhantes durante um evento de comemoração do 10º aniversário da Xpeng realizado nesta semana. No entanto, embora a BYD não tenha fornecido um cronograma específico, a Xpeng está planejando que essa meta seja alcançada na próxima década.
Essas metas não são tão grandiosas quanto parecem. À medida que o mercado automobilístico da China começa a se desaquecer, as marcas chinesas têm compensado a retração local com investimentos outros mercados com compradores que consideram suas ofertas atraentes e seus preços competitivos. A receita total da BYD aumentou 26% no segundo trimestre, devido, em parte, a um aumento nas remessas e entregas no exterior.
Porém, o mais importante é que não parece que as tarifas iminentes da Europa deterão qualquer uma das marcas; A BYD tem sido aberta sobre seus planos de construir fábricas na Turquia e na Hungria, mas agora a XPeng também entrou na equação.
Tanto a produção europeia da BYD quanto a da Xpeng têm como objetivo contornar as tarifas da União Europeia sobre os veículos elétricos importados da China, embora não esteja claro se outros bloqueios políticos ocorrerão se e quando qualquer uma das marcas colocar suas respectivas fábricas em funcionamento.
Embora pareça que as tarifas possam ser bem-sucedidas em evitar qualquer reclamação de que a China estaria praticando concorrência desleal com seus carros elétricos em mercados estrangeiros a preços que os fabricantes ocidentais não podem esperar igualar, isso não aborda o fato de que muitos desses chineses ainda são bem avaliados e são atraentes por seus próprios méritos.
E isso é um grande problema. A entrada da Xpeng e da BYD na Europa andará de mãos dadas com os planos de outros fabricantes chineses de veículos elétricos de diversificar suas cadeias de fornecimento e fabricação fora da China, na esperança de angariar novos mercados. Há algumas semanas, a Zeekr anunciou que está considerando usar as fábricas existentes da Volvo e da Geely fora da China para contornar as tarifas da UE.
A BYD está "considerando" uma fábrica no México, o que quase certamente acontecerá; a mera ideia disso faz com que o ex-presidente e atual candidato à presidência dos EUA, o republicano Donald Trump, reflita se as montadoras chinesas não deveriam simplesmente construir carros nos Estados Unidos. Não imagino que a Ford, a General Motors e as demais empresas gostem de ouvir isso.
Em outras palavras, vale a pena perguntar: será que toda essa briga por tarifas realmente funcionará no longo prazo? Até o momento, isso certamente não está fazendo com que as montadoras chinesas recuem.
Fotos: CarNewsChina
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