Dizem que todas as primeiras experiências na vida são marcantes, como a primeira vez que andamos, que vamos pra escola, o primeiro amor. Como entusiasta, minhas primeiras experiências atrás de um volante foram ainda muito novo, já que minha família sempre esteve envolvida no comércio de automóveis, e eu, um moleque de 7 ou 8 anos, me lembro de acompanhar meu pai nos fins de semana em que ele precisava ficar de plantão, sempre com meu irmão mais velho, que me mostrava todos os carros do showroom e da oficina da concessionária.
Não deu outra, a partir dali comecei a me empolgar cada vez mais pelo setor, brincava que comecei a ler com revistas automotivas e o antigo Carplace (hoje Motor1.com), sempre me envolvia na manutenção dos carros da família, e sonhava com o dia que fosse tirar minha CNH. E aconteceu, em 2015, depois de muitas aulas num Up!, adquiri um Volkswagen Gol de primeira geração, ano 1995. Com o motor AE1000 derivado do CHT, vindo da parceria feita com a Ford, nos anos 90, produto da não tão bem sucedida Autolatina.
Com outros carros muito mais modernos na garagem, todos automáticos, o Gol era uma experiência completamente diferente do que estava acostumado. Um carro totalmente analógico, carburado, com projeto dos anos 80 e que, mesmo com parcos 50 cv e 7,3 kgfm de torque, o carrinho divertia justamente pela sua simplicidade.
9 anos, alguns anos de experiência na direção nas costas, alguns outros carros na garagem e um curso de jornalismo depois, tive novamente uma primeira experiência marcante de fato: um carro elétrico.
Durante 4 dias, fiz todo o meu trajeto de ida para a redação de casa em Interlagos, zona sul de São Paulo, para a redação do Motor1/InsideEV, na zona oeste, podendo medir o consumo, conferir itens de tecnologia e a viabilidade do seu uso. Meu companheiro elétrico, um Renault Megane E-Tech, era o modelo perfeito para isso. O contato que havia tido com o modelo francês até então tinha sido somente em vídeos, textos e fotos em seu lançamento, nada muito aprofundado.
Ao conhecê-lo pessoalmente, a experiência é de embarcar em um dos modelos do filme Eu, Robô. Passei bons 20 minutos sem perceber que o carro estava ligado, após acionar o botão de partida. A sensação de silêncio a bordo comparada a um modelo a combustão é gritante. Talvez nem todos se acostumem.
O design do Megane, como a maioria dos atuais Renault, é bem chamativo. Basta sair do prédio da redação que alguns olhos e pescoços já começam a entortar para o SUV. Seus faróis de LED, as maçanetas que ficam ''escondidas'' quando o carro está ligado, e o retrovisor interno com câmera são destaque. Inclusive, dois motoristas me pararam no trânsito para perguntar mais sobre a câmera interna e se ela era um acessório de série do carro ou opcional aftermarket. Fica a dica para a Renault expandir a tecnologia em mais carros.
Ainda no primeiro dia, apresentei o carro ao meu pai, o mesmo que me apresentou ao mundo automotivo. Hoje, ele é um homem na casa dos 60 anos, relativamente conservador com carros elétricos, e também nunca havia chegado perto de um.
Ele trabalhou durante muitos anos em concessionárias Volkswagen e Audi, preferindo carros mais sóbrios, como Volkswagen Parati e Spacefox e, mais recentemente, Toyota Corolla e Jeep Compass, e só nos últimos 10 anos aderiu de vez aos carros com câmbio automático. Um modelo francês e eletrificado certamente é uma ruptura e tanto.
Quando entrou no carro, vi meu pai parecendo uma criança que ganhou um videogame novo, com a descoberta de vários botões - ponto positivo do francês, diferente de muitos elétricos, é que aqui não faltam botões físicos para quase nada - os modos de condução, a mudança de comportamento imediato graças ao torque instantâneo que só os elétricos proporcionam. Ali, pude ver meu pai no banco do passageiro da mesma forma que eu quando o acompanhava nos feirões de concessionária aos fim de semana, há 10 ou 15 anos.
Os dias seguintes não tiveram grandes altos e baixos, passei quase uma semana com esse elétrico, que, pelo menos segundo o Inmetro, tem autonomia ao redor dos 337 km, o suficiente para uma rotina de cerca de 30 km de ida e 30 km de volta no trânsito diário da capital paulista sem acabar com a bateria.
Confesso que até tentei, principalmente ao utilizar mais o modo Sport nos últimos dois dias, despejando toda a potência do motor elétrico de 220 cv e 30,6 kgfm, números próximos de um Volkswagen Golf GTI, mas com torque instantâneo. Mesmo assim, o carro chegou ao quarto dia com 42% de bateria.
Sobre os modos de condução, sem dúvidas o Sport é o mais divertido, mas também o mais violento. Não há meio termo aqui, em um trânsito pesado, ele se torna cansativo. O mais apropriado para o dia a dia seria o Comfort, um meio termo entre ele o Eco, que, como o nome já diz, é focado na economia. Vale citar que todos os modos alteram a luz de ambientação interna do carro, um item de conforto que faz diferença, principalmente a noite. Um detalhe curioso é o comando satélite da central multimídia. Lembra dos antigos Clio 1.6? Os comandos são basicamente os mesmos.
Ao fim do quarto dia, devolvo o carro na redação com certo peso no coração. Como proprietário e fã de carros franceses, fico feliz em ver a Renault trazendo de volta um ícone como o Megane, o modelo tem nível de construção e refinamento suficiente para manter o nome dos seus antepassados.
Já quanto ao elétrico, fica a experiência. O SUV, hoje, custa R$ 199.990, mas chegou há pouco mais de um ano por R$ 279.990. É preciso ficar atento as constantes readequações de preços promovidas pelas montadoras para não cair numa cilada. Eu ainda não compraria um, mas certamente tenho outros olhos para os elétricos depois de experimentar de verdade um deles.
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