Toda empresa, seja ela fabricante de gadgets simples ou de softwares complexos, deseja que sua tecnologia se destaque e se torne o padrão na indústria. No entanto, também precisa acompanhar as tendências do mercado. Isso é ainda mais desafiador no setor automotivo atualmente, pois as regulamentações globais pressionam as montadoras rumo a um futuro de emissões zero.
Maior montadora do mundo em volume de produção e vendas, a Toyota, também compreende essa realidade. Embora tenha ficado para trás nos últimos anos na corrida dos veículos totalmente elétricos, seu sucesso com os híbridos a leva a planejar o fim dos modelos a combustão pura.
Toyota bZ3c 2025
O cientista-chefe da Toyota admitiu que a empresa está discutindo uma data final para seus carros não eletrificados nos Estados Unidos, conforme afirmou à Bloomberg esta semana.
"Nos EUA, uma decisão está sendo tomada agora — e eu não faço parte dela — sobre a possibilidade de parar de fabricar modelos a combustão pura para o mercado americano", disse Gill Pratt, cientista-chefe da Toyota, em uma entrevista ao veículo. "O simples fato de estarmos pensando nisso significa que, OK, deve estar próximo."
Lexus RX 450h+
Isso pode ser uma surpresa para quem é apaixonado pelos motores de combustão interna da Toyota (reconhecidamente muito bons), como o pequeno motor de três cilindros do Corolla GR ou o V8 de 5,0 litros naturalmente aspirado, quase o último de sua espécie, do Lexus IS 500 F Sport. No entanto, se você prestar atenção às vendas da Toyota, poderá perceber que essa mudança já vem acontecendo há algum tempo.
O histórico da Toyota com veículos elétricos não tem sido tão positivo. Suas três ofertas de elétricos nos EUA (incluindo o Subaru Solterra) são bastante inferiores em termos de autonomia, tempo de carregamento e tecnologia geral em comparação com os concorrentes dos EUA, Coreia do Sul e Europa — sem mencionar as montadoras chinesas, que estão muito à frente nesse quesito.
Apesar disso, esses modelos elétricos ainda estão vendendo bem, assim como os modelos híbridos da Toyota. A empresa foi pioneira na tecnologia híbrida com o Prius e agora possui a maior linha de carros eletrificados entre todas as montadoras. Em setembro, quase metade de suas vendas nos EUA foi composta por veículos elétricos ou híbridos. A Toyota transformou o onipresente Camry em uma configuração totalmente híbrida, o que significa que um dos poucos sedãs médio-grandes ainda vendidos em volume significativo nos Estados Unidos agora é um carro eletrificado.
Para a Toyota, esse é o futuro. Não se trata apenas de veículos a combustão. Os funcionários da empresa já sugeriram algumas vezes que o plano final é um futuro totalmente híbrido ou elétrico nos Estados Unidos, mas esta é uma das mais claras admissões até agora sobre a direção que as coisas estão tomando.
Toyota Prius
Pratt está na Toyota há quase uma década e também é o CEO do Toyota Research Institute. Antes disso, ocupou cargos de liderança na Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa dos EUA (DARPA) e no MIT. Isso tudo para dizer que ele é uma pessoa inteligente e, quando fala sobre questões climáticas, sabe do que está falando. Na entrevista à Bloomberg, admite estar "completamente deprimido" com a quantidade crescente de emissões de CO2 causadas pela atividade humana. "Se você não está assustado com essa curva, então não a está vendo direito", disse ele.
Ao mesmo tempo, Pratt tem sido um defensor veemente da abordagem cética da própria Toyota em relação à eletrificação pura como o futuro dos carros. Em vez disso, a montadora defende uma abordagem "multipathway", com muitos tipos de motorização diferentes, dependendo das necessidades do cliente, sejam elas híbridos, veículos a hidrogênio ou elétricos puros. (Também vale a pena observar que, novamente, qualquer empresa deseja que sua tecnologia vença. E duas dessas três opções foram impulsionadas pela própria Toyota).
Toyota Mirai, o modelo a hidrogênio da japonesa
Há duas maneiras de analisar essa abordagem. A mais crítica é que a energia do hidrogênio para carros de passeio, como o Mirai, não está tendo o sucesso esperado até o momento, e que os veículos híbridos, embora sejam muito mais limpos e eficientes em termos de combustível do que os veículos com motor a combustão pura, ainda geram emissões de carbono, ao contrário dos veículos elétricos.
Por outro lado, uma visão mais pragmática é que qualquer iniciativa que tire modelos a combustão pura das ruas representa um progresso, e que é mais fácil levar as pessoas aos híbridos — por enquanto — do que transformar todo o mercado em uma direção totalmente elétrica. Há alguns dias, a Toyota anunciou que se juntaria a outras montadoras para desacelerar a produção de veículos elétricos nos EUA, em meio a preocupações sobre a demanda desigual.
"O que estou tentando enfatizar em minhas conversas agora é que, por favor, por favor, por favor, todos nós queremos a mesma coisa, mas vamos parar com os desejos... Vamos pensar no que realmente vai ocorrer, como é a natureza humana, como é a política, e vamos encontrar uma maneira de aceitar a realidade de todas essas coisas. Vamos mudar o que realmente podemos mudar", disse Pratt.
Mas, independentemente de como você queira pensar sobre a evolução da tecnologia automotiva, o fato de a maior montadora do mundo admitir que os modelos a combustão sem nenhum tipo de eletrificação têm um prazo definido é algo muito importante. Em um futuro próximo, todo Toyota à venda nos EUA poderá ser um híbrido, um elétrico ou talvez um carro a hidrogênio. E isso diz muito sobre a direção que tudo está tomando.
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