Os veículos híbridos plug-in (PHEVs) são frequentemente sugeridos como uma solução sem compromissos para eletrificar seu trajeto diário, mas a realidade é mais complexa. Um novo estudo da J.D. Power nos Estados Unidos revela que os PHEVs são mais caros e menos satisfatórios para os compradores. Se você deseja um carro plug-in, deve optar por um veículo elétrico (EV). Se, por qualquer razão prática ou pessoal, você não quer um EV, um híbrido tradicional ou um veículo a combustão é provavelmente uma escolha melhor.
O argumento é simples. Os híbridos plug-in (PHEVs) resolvem os desafios de infraestrutura enfrentados pelos carros elétricos (BEVs) a um custo menor, oferecendo o melhor dos mundos elétrico e de combustão interna, o que é uma das principais razões pelas quais eles são considerados a solução ideal por muitos americanos. Mas há um problema com esse raciocínio: todas essas premissas estão erradas. O estudo mais recente da J.D. Power explica o porquê.
Vamos começar com a ideia de que todos querem um híbrido plug-in. Essa afirmação é frequentemente feita por céticos dos BEVs, que argumentam que a escolha mais inteligente é o híbrido e que os fabricantes e reguladores estão "forçando" os carros elétricos. Nunca se fala que, há 10 anos, essas mesmas pessoas consideravam os híbridos e os PHEVs desnecessários. No entanto, atualmente, os híbridos plug-in representam uma fração muito pequena do mercado nos Estados Unidos, com apenas 2% de participação, de acordo com a última edição do relatório E-Vision Intelligence da J.D. Power.
Os híbridos e os carros elétricos representam cerca de 10% do mercado geral nos EUA (no Brasil fica em torno de 5%), e isso não se deve ao fato de haver menos PHEVs disponíveis. Na verdade, o oposto é verdade no caso dos híbridos. A J.D. Power contabiliza 41 modelos de PHEVs disponíveis nos EUA, em comparação com 39 híbridos tradicionais. Para comparação, há 60 modelos de BEVs à venda. Enquanto as vendas de HEVs e EVs estão crescendo este ano, as vendas de PHEVs estão em queda, em grande parte devido às dificuldades enfrentadas pela Stellantis, uma das principais vendedoras de PHEVs por lá. Portanto, a ideia de que as pessoas estão clamando por PHEVs não se sustenta, ao menos na América do Norte.
Quem critica os subsídios governamentais também deve observar que os PHEVs recebem créditos fiscais federais semelhantes aos dos BEVs. No entanto, apesar disso, a complexidade de construir um motor a combustão interna completo junto com um sistema elétrico, combinando-os e integrando seus desempenhos de maneira eficiente, eleva os custos. A J.D. Power afirma que o preço médio de transação de um SUV compacto PHEV — considerando créditos e incentivos — é de US$ 48.700 (R$ 270 mil). Para os híbridos, que não recebem créditos fiscais, esse valor é de US$ 37.700 (R$ 208 mil). Para os carros elétricos, o valor é ainda menor: US$ 36.900 (R$ 204 mil).
Portanto, nos Estados Unidos os PHEVs são mais caros e menos populares que os BEVs, híbridos e veículos a combustão. Pode-se pensar que a recompensa estaria na experiência de propriedade. As pessoas esperam uma condução diária sem emissões e uma autonomia infinita para viagens longas. Na realidade, os clientes não estão tão entusiasmados. Em primeiro lugar, ninguém pode dizer com certeza qual a porcentagem de pessoas que realmente conecta seus híbridos plug-in para carregar. Os dados sugerem que menos pessoas fazem isso do que se imagina. Quando os PHEVs não são carregados, eles consomem mais combustível do que um híbrido padrão equivalente, pois carregam mais peso. Alguns estudos sugerem que eles poluem muito mais do que seus números oficiais indicam.
Mesmo quando são carregados, eles geralmente não têm o torque instantâneo que torna os BEVs tão fáceis de dirigir. Muitos PHEVs precisam do motor a combustão em situações de potência máxima. Eles também são menos confiáveis do que os BEVs ou veículos a combustão, segundo a Consumer Reports. As empresas que são melhores em fabricar veículos híbridos convencionais e confiáveis — como Honda e Toyota, e também a Ford — tendem a se concentrar principalmente em híbridos tradicionais, oferecendo opções PHEV em apenas alguns modelos.
Por fim, eles não suportam carregamento rápido por corrente contínua (DC), o que significa que devem ser carregados lentamente. Se você não estaciona o veículo em locais com carregadores de nível 2 por várias horas na maioria dos dias, geralmente estará operando como um híbrido tradicional, já que a muitos dos PHEVs só consegue lidar com um dia normal de deslocamento antes de precisar ser carregado. Isso significa que é necessário ter carregamento em casa ou no trabalho para fazer um PHEV funcionar de forma ideal.
Se você pode carregar o veículo de forma consistente em casa ou no trabalho, então provavelmente um carro elétrico a bateria (BEV) pode atender às suas necessidades. Aqueles que fazem viagens longas mais de seis vezes por ano, talvez sejam melhor atendidos por um PHEV, mas para quase todos a ideia de uma condução sem gasolina será mais barata, suave, confiável e confortável. Aqueles que não conseguem carregar em casa ou no trabalho, que fazem muitas viagens longas, que são mais conscientes sobre preço e que ainda não estão prontos para mudar seus hábitos, desfrutarão da simplicidade e maturidade da tecnologia híbrida tradicional.
Talvez seja por isso que os PHEVs foram o grupo de veículos menos satisfatório nos dados da J.D. Power. O "pau para toda obra" mais uma vez não se destaca em nenhuma área.
Por fim, vale destacar que o estudo da J.D. Power aborda o comportamento dos consumidores norte-americanos em relação aos modelos plug-in. No Brasil, a julgar pelos números de vendas, os híbridos plug-in ainda não sofrem essa resistência e estão entre os preferidos dentro do segmento de eletrificados - aqui, o grande número de lançamentos, sobretudo de marcas chinesas como BYD e GWM, alguns deles com alcance elétrico superior a 100 km, também ajuda a impulsionar as vendas.
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