Retrocesso em SP: PL 825 libera ônibus a diesel e sabota eletrificação
Câmara Municipal aprova projeto de retrocesso ambiental às pressas, sem audiência pública
A aprovação do Projeto de Lei 825/2024 nesta quarta-feira (18) pela Câmara Municipal de São Paulo é vergonhoso e sinaliza um preocupante retrocesso nas políticas ambientais da maior metrópole da América. A decisão afeta diretamente o avanço da frota de ônibus elétricos, amplificando o impacto ambiental ao permitir o retorno de veículos movidos a diesel, conhecidos por suas emissões prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. De autoria do vereador Milton Leite (União Brasil), o PL permite a compra de até 50% da frota de novos ônibus movidos a diesel, alterando as metas intermediárias da Lei de Mudanças Climáticas de 2018.
A decisão contraria a regra vigente desde 2022, que determinava que todas as novas aquisições de ônibus fossem de veículos menos poluentes, como elétricos ou movidos a gás natural. Com isso, a cidade não apenas atrasa o cronograma de eletrificação da frota de transporte público, mas também compromete os compromissos ambientais e a qualidade de vida dos paulistanos.
Galeria: Scania - ônibus elétrico K 230E B4x2LB
As Mudanças Propostas pelo PL 825/2024
O PL 825/2024 apresenta os seguintes pontos principais:
-
Mudança nas Metas Intermediárias: As metas de redução de emissões serão flexibilizadas, permitindo o uso de ônibus a diesel até que as obras de infraestrutura para modelos elétricos ou a gás natural sejam concluídas.
-
Prazo para Projetos, mas não para Obras: As empresas de ônibus terão 90 dias para enviar demandas de infraestrutura às concessionárias ENEL ou COMGÁS, que também terão 90 dias para apresentar os projetos. Contudo, o texto não estipula prazo para a conclusão das obras.
-
Manutenção das Metas Finais: As metas de descarbonização até 2038 permanecem, mas os parâmetros são calculados com base nos índices de 2016, quando a frota era mais poluente.
-
Prorrogação da Eletrificação Total: O prazo para eletrificação plena da frota de ônibus da capital paulista, inicialmente fixado em 2038, foi estendido para 2054.
Galeria: Inauguração - Eletra (ônibus elétricos)
Impactos Negativos da Decisão
A aprovação do PL gera sérias preocupações quanto aos impactos ambientais, industriais e de saúde pública:
-
Retrocesso Ambiental: O retorno à compra de ônibus movidos a diesel representa um retrocesso na política ambiental de São Paulo. Esses veículos são conhecidos por sua contribuição significativa à emissão de gases de efeito estufa e poluentes locais, prejudicando a qualidade do ar e a saúde da população.
-
Desaceleração da Indústria Sustentável: Empresas como Scania, Eletra, Volvo, Mercedes-Benz e BYD investiram em tecnologias para atender à crescente demanda por ônibus elétricos. A nova legislação pode reduzir o ritmo de desenvolvimento dessa indústria, afetando também outras cidades que seguiam o exemplo de São Paulo.
-
Comprometimento da Qualidade de Vida: A exposição a altos níveis de poluição atmosférica está associada a problemas de saúde, como doenças respiratórias e cardiovasculares. A decisão de adiar a transição para veículos menos poluentes agrava esses riscos.
Volvo BZL - ônibus elétrico urbano
Críticas
A decisão foi amplamente criticada por organizações ambientais e entidades da indústria de mobilidade elétrica. Por exemplo, a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) alertou que o PL 825 compromete diretamente as metas de descarbonização previstas na Lei de Mudanças Climáticas de 2018 e prolonga a dependência de combustíveis fósseis. Estudos indicam que ônibus a diesel emitem até 1,5 kg de CO2 por quilômetro rodado, agravando os níveis de poluição atmosférica em São Paulo.
Além disso, a ABVE destacou o impacto negativo na indústria nacional de veículos elétricos, que já havia investido significativamente para atender à demanda crescente por ônibus elétricos. A entidade declarou que o PL compromete a descarbonização do transporte público e pediu aos vereadores que rejeitem o projeto. A ABVE também enfatizou a importância de priorizar a infraestrutura de recarga elétrica como solução para o impasse.
Segundo a ABVE, “a tentativa de diluir e postergar as metas de descarbonização previstas na Lei 16.802/2018 compromete não apenas a qualidade de vida dos paulistanos, mas também o papel de liderança de São Paulo na transição para uma mobilidade mais sustentável”.
Ankai - ônibus elétricos
O Que Pode Ser Feito
Para evitar os impactos negativos do PL 825/2024, é essencial que o poder público adote medidas mais eficazes, como:
-
Acelerar a Infraestrutura de Recarga: Investir na construção e adaptação de garagens para atender à demanda de veículos elétricos e a gás natural.
-
Estabelecer Prazos Concretos: Fixar datas limite para a conclusão das obras de infraestrutura, garantindo maior previsibilidade e compromisso.
-
Incentivar a Indústria Sustentável: Continuar fomentando a produção de ônibus menos poluentes, mantendo São Paulo como referência em mobilidade limpa.
-
Engajar a Sociedade: Promover audiências públicas para discutir o impacto das políticas de transporte e envolver a população nas decisões.
A aprovação do PL 825/2024 representa um passo atrás nas metas de sustentabilidade e qualidade de vida em São Paulo. Embora alegações de falta de infraestrutura sejam um desafio real, a solução não pode ser o retorno ao uso de tecnologias ultrapassadas e prejudiciais. O foco deve estar em acelerar a transição para uma frota totalmente limpa e sustentável.
A redação final do texto aprovado em segunda votação da PL 825 já foi encaminhada ao prefeito Ricardo Nunes.
RECOMENDADO PARA VOCÊ
Acidente com ônibus elétrico em SP reforça segurança das baterias
"Não vamos dar isenção de IPVA para carro feito na Bahia", diz Tarcísio
Retrocesso: Votação relâmpago na Câmara de SP adia frota elétrica para 2054
Novo esportivo da BYD é flagrado pela primeira vez: rival do Porsche 911
Brasil lança plano nacional para impulsionar ônibus elétricos
ElectricDays Podcast #14: Avançando na infraestrutura de recarga no Brasil
Higer Azure 7: Novo ônibus elétrico compacto chega ao Brasil em dezembro