Até onde vai o tamanho do mercado de SUVs elétricos no Brasil? As novidades não param de chegar e, além das montadoras já estabelecidas, mais opções de marcas chinesas também buscam seu espaço, como o Seres 3, vendido por uma empresa com sede nos Estados Unidos e que lançará uma interessante linha eletrificada por aqui.
Produzido pela Dongfeng e Sokon (DFSK), o Seres 3 é um SUV elétrico médio que foi lançado na China em 2019, baseado no modelo similar com motor a combustão vendido na época. Ele mede 4,38 metros de comprimento e 2,65 metros de entre-eixos, medidas similares ao de um Jeep Compass, por exemplo. Em relação aos modelos elétricos do segmento ele fica um pouco acima de Peugeot e-2008 e Hyundai Kona EV em termos de porte, potência e espaço.
O visual externo é interessante ao vivo e o SUV até pode ser considerado imponente, dentro das limitações do segmento, é claro. No entanto, nesse quesito ele não se propõe a trazer algo novo. O design é uma mistura de estilos que tende a agradar à maioria das pessoas, mas não dá pra dizer que tem muita personalidade. Dá para encontrar similaridades com outros modelos em diversos pontos.
Por dentro, o Seres 3 superou as expectativas com base no (pré)conceito de um SUV chinês, principalmente pelo bom nível de acabamento, painel e portas com materiais de qualidade e suaves ao toque, boa montagem e bancos com revestimento em couro sintético. De modo geral, tanto o visual quanto o acabamento apostam no sóbrio e funcional, com tons de cinza e grafite, com elementos do painel em preto piano e cromado, confirmando as boas impressões do nosso primeiro contato durante o lançamento.
Diferente dos veículos elétricos mais modernos, que apostam em quadros de instrumentos menores e telas centrais maiores, o Seres 3 herda um padrão mais convencional, com cluster grande (que possui diferentes temas) e comandos do ar-condicionado digital separados do sistema de informação e entretenimento.
A tela da central multimídia tem 10,25" e conectividade Apple CarPlay por meio de um aplicativo de espalhamento, que funcionou sem problemas com o Android Auto (com uso de cabo). O console central abriga o seletor de marchas e mais à frente a base para recarga sem fio de smartphones. No entanto, essa parte dianteira é vazada dos lados e o celular acaba caindo na hora de fazer curvas.
Oferecido em versão única, o SUV elétrico é bem equipado, com ar-condicionado automático, banco do motorista com ajuste elétrico, teto solar panorâmico, abertura elétrica do porta-malas e aquecimento dos assentos dos bancos dianteiros.
Também estão disponíveis assistente de controle de subidas (HAC), controle de descida (HDC), alerta de saída de faixa e de colisão frontal, câmera panorâmica 360º. A direção tem assistência elétrica e o motorista pode escolher entre três modos de condução (Padrão, Conforto e Esporte) - o único opcional disponível é a blindagem SERES Super Shield feita pela Armor.
Apesar do pacote honesto, o volante só tem ajuste de altura, e não de profundidade, e não está disponível o alerta de pontos cegos ou assistentes como o controle de cruzeiro adaptativo. Em um segmento que aposta na modernidade, são falhas que podem afastar o comprador desta opção, principalmente pelo preço.
O Seres 3 está equipado com um motor elétrico síncrono no eixo dianteiro de 120 kW (163 cv) de potência e 30,6 kgfm de torque, suficiente para uma aceleração de 0 a 100 km/h em 8,9 segundos e velocidade máxima de 160 km/h pelos dados oficiais.
O conjunto é alimentado por uma bateria de 52 kWh de lítio ternário, uma composição que já não é tão comum entre os veículos elétricos. Ainda que ela leve vantagem por conta da maior densidade energética em comparação com as baterias LFP (lítio-ferro-fosfato), sua durabilidade em número de ciclos e os níveis de segurança, principalmente em altas temperaturas, ficam abaixo das equivalentes LFP.
O SUV elétrico tem autonomia declarada de 300 km pelo ciclo WLTP e 209 km pelo padrão Inmetro. No entanto, durante nossa avaliação em condições reais o alcance ficou entre 280 e 320 km com uma carga. Em um carregador residencial de 7 kW é possível recarregar de 0 a 100% em 7,6 horas, ou 38 minutos para recuperar de 20 a 80% em um carregador com 50 kW de potência.
Na cidade, o Seres 3 surpreendeu de forma positiva. Roda macio, com bom nível de conforto e baixo ruído na cabine. A suspensão trabalha bem nos buracos e imperfeições, filtrando os solavancos em boa medida e sem ruídos esquisitos ou pancadas de fim de curso - ponto positivo.
A direção pode ser ajustada em três modos, preferível no modo Sport, ficando um pouco mais responsiva. No entanto, não espere comportamento esportivo ou um feedback muito alto, mas no dia a dia é bem agradável. Os freios possuem 3 níveis de regeneração, mas que são acessados apenas pelo menu - merecia uma tecla para acesso mais rápido.
Já o modo de condução tem três opções (Sport, Normal e Eco), mas aqui chama a atenção o modo Eco, que restringe bastante a entrega de potência a ponto de quase não acelerar em subidas mais fortes partindo da imobilidade, tamanho é o delay de entrega de potência, algo inédito em todos os carros elétricos que já testei até hoje. Vale a pena usar no plano e em situações onde não sejam necessárias ultrapassagem ou retomadas, considerando ainda que no modo Normal o consumo é bem aceitável se não abusar do pé direito.
Durante a avaliação, como quase sempre faço, aproveitei a oportunidade pra esticar uma viagem ao interior de São Paulo. No início fiquei com um pouco de receio por conta da autonomia oficial de 209 km pelo Inmetro, mas na prática o rendimento é melhor.
Na ida, rodando exclusivamente na estrada com velocidade média de 100 km/h o consumo de energia ficou em 5,69 km/kWh (17,5 kWh/100 km), um bom número e que daria uma autonomia projetada de 296 km. Na volta, um caminho diferente, com um terço do trecho em pista duplicada e o restante em estradas vicinais e vias secundárias, os números tiveram uma ligeira piora: 5,31 km/kWh (18,8 kWh/100 km) - alcance projetado de 276 km. No entanto, durante o uso na cidade a média tende a melhorar de forma a alcançar uma autonomia na faixa de 300 a 320 km.
Dirigindo na rodovia o Seres 3 também não decepciona, acompanha o fluxo com tranquilidade e tem boas retomadas, mesmo no modo Normal, nem é necessário usar o modo Sport. Na autopista a 120 km/h tem boa dinâmica e tocada agradável. Por outro lado, em curvas acentuadas a carroceria inclina bastante, com rolagem acima do desejável, culpa do ajuste mais macio da suspensão e dos pneus Chao Yang, que também são ruidosos em trechos de asfalto muito gasto.
De modo geral, o Seres 3 pode ser considerado um bom carro. O SUV elétrico produzido pela DFSK é bem equipado, confortável ao dirigir e nem de longe lembra os carros chineses desajeitados da década passada. No entanto, ele não foi projetado desde o zero como um elétrico e carrega certos elementos "datados", ainda que tenha sido feito um bom trabalho de adaptação para o powertrain de zero emissão.
A realidade é o que o mercado de veículos elétricos se atualiza de forma mais rápida que o mundo dos carros a combustão. Nesse cenário, o Seres 3 lida com concorrentes já conhecidos como o Peugeot e-2008, que tem menos espaço e potência custando os mesmos R$ 199.990 do Seres. Além deste, tem o Hyundai Kona EV, que apesar de ser da geração passada, sai por menos: R$ 189.900. Isso sem contar o novíssimo Volvo EX30 (R$ 219.990) e BYD Yuan Plus (R$ 229.9900), projetos mais modernos, sendo que o último terá produção nacional em breve. Resumindo: o Seres 3 mas não terá vida fácil em nosso mercado.
Por fim, a Seres informa que a garantia é de 8 anos para a bateria, motor elétrico e controlador (6 anos para os modelos blindados) e o Seres 3 pode ser encomendado na plataforma digital de vendas da Seres nas cores azul, branco cinza e preto. A marca está estabelecendo sua sede em Alphaville e está inaugurando os primeiros showrooms neste mês.
Seres 3 BEV
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