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Impressões: Zeekr X e Zeekr 001, os elétricos de luxo que chegam em outubro

Fomos à China conhecer a marca de carros arrojados que logo estreará no Brasil

Zeekr X na pista
Foto de: Motor1.com

Quem anda nas ruas da China de hoje vê carros elétricos de marcas locais disputando espaço, de igual para igual, com modelos de fabricantes ocidentais. Nio, Avatr, Li Auto, XPeng… todos com visual futurista, design de primeira e ainda desconhecidos no Brasil. Dessas marcas chinesas mais recentes, uma das que têm maior destaque é a Zeekr, fundada há apenas 3 anos.

É parte do grupo privado Geely, atual dono da Volvo, Smart e Lotus, e que também mantém as divisões Geely Auto, Link & Co, Polestar e Ji Yue (antiga Jidu). Em vez de serem submetidas a uma gestão centralizada, todas essas marcas têm gestão comercial bem independente e estão se lançando no mercado externo por meio de diferentes parcerias e estratégias, com executivos exclusivos para cada uma. Fato é que quase todas as marcas do grupo Geely estão estudando como entrar em nosso mercado.

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Em setembro, a Zeekr fará sua apresentação como marca no Brasil e, em outubro, serão entregues os primeiros carros. Inicialmente, serão dois modelos: o Zeekr X, um hatch do porte do Volvo EX30; e o Zeekr 001, com quase 5 metros de comprimento, na medida para brigar com o Porsche Taycan, ou para quem sonha ter um Tesla S mas não dispõe de revendas da marca norte-americana em nosso país.

Não espere, contudo, um avanço massivo em nosso mercado, como o da BYD. Como marca focada em carros elétricos puros com acabamento premium (rival da Tesla e das alemãs), a Zeekr virá comendo pelas beiradas, sem pretender um grande volume de vendas - tanto que trará apenas versões mais completas, com dois motores. Mesmo o X, modelo de entrada da marca, deverá custar em torno de R$ 300 mil.

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Por enquanto, a equipe da Zeekr no Brasil é enxuta, formada por apenas cinco executivos - o que contrasta com o gigantismo do grupo Geely na China. A ideia é ter, em 2025, pelo menos dez concessionárias Zeekr em capitais ou grandes cidades do interior. Duas em São Paulo (capital), uma em Ribeirão Preto, uma no Rio de Janeiro, uma em Curitiba, uma em Porto Alegre, uma em Brasília, uma em Goiânia, uma em Fortaleza, uma em Belo Horizonte, uma em Florianópolis… Algo por aí.

O nome Zeekr vem de “Ze” (zero emission), “e” (elétrico) e “Kr” (símbolo do elemento químico criptônio, um gás nobre que emite luz quando eletrificado). A pronúncia em chinês é algo como “Ji kê”. Fato é que a marca tem se saído muito bem no segmento dos elétricos de luxo - só no ano passado, a marca vendeu 119 mil carros, mesmo tendo as badaladas Nio e XPeng como concorrentes.

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Viajamos à bela cidade chinesa de Hangzhou, onde está a sede do grupo Geely, e também a Ningbo, onde fica uma das fábricas da Zeekr, para ter um primeiro contato com a empresa e seus automóveis.

A fábrica

A fábrica é enorme e das mais modernas, com capacidade de produzir nada menos que 300 mil carros por ano, não apenas da Zeekr como também dos elétricos das marcas Polestar e Ji Yue. As baterias são fornecidas pela CATL e montadas localmente em um processo bem manual e cuidadoso. Tudo isso vai atrelado às plataformas modulares SEA (sigla de Sustainable Experience Architecture), usadas em modelos elétricos do grupo Geely. Já a produção das carrocerias é totalmente robotizada.

No calor do verão do sudeste chinês (em torno de 37°C), a moderna linha de produção com ar-condicionado central nos pareceu um oásis… Também impressionou pelo silêncio de funcionamento, sem os famigerados toques eletrônicos para apressar os operários, ou batidas metálicas que estamos acostumados a ouvir nas fábricas tradicionais.

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Na montagem e no controle final há mais trabalhadores do que o usual nas fábricas ocidentais. E, se você ainda associa fábricas chinesas a mão de obra barata, saiba que, em Ningbo, o salário médio de um operário na região equivale a R$ 6 mil reais (na conversão direta), para turnos de 7 horas em cinco dias úteis, com direito a moradia em condomínios recém-construídos. Com as agitadas Xangai e Hangzhou na região, é difícil atrair jovens para o tédio de uma cidade industrial, daí os bons salários e benefícios oferecidos pelas empresas.

Segurança de Volvo

A equipe de estilo da Zeekr conta com profissionais de 40 nacionalidades e é comandada pelo alemão Stefan Sielaff, que já foi chefe de design da Audi e teve uma passagem pela Mercedes-Benz. Os projetos dos carros são tocados conjuntamente com a unidade de Gotemburgo, cidade-sede da Volvo. E nota-se o tanto que a experiência da marca sueca influenciou na segurança de suas irmãs chinesas: tanto o Zeekr X quanto o 001 obtiveram nota máxima (cinco estrelas) nos testes de impacto da EuroNCAP.

O grupo Geely é dono de nada menos que dois autódromos completos para testar seus carros (e também os da concorrência). Um deles, em Ningbo mesmo, tem traçado com 4.015 m de comprimento e 22 curvas, certificado pela FIA. Foi aí que pudemos guiar quatro modelos da Zeekr: o X, o 001, o 001 FR e o 007. A linha inclui ainda a minivan ultraluxuosa 009 e, em breve, terá o SUV 7X, cujas primeiras fotos acabam de ser mostradas.

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Autódromo não é o melhor ambiente para demonstrar modelos elétricos. Numa pista de corridas, esses pesados carros de rua acabam evidenciando mais seus defeitos do que suas qualidades. Além disso, foram apenas duas voltinhas com cada modelo, com passagens por um trecho de slalom e outro de arrancada - o que não permite avaliar consumo ou autonomia. Mesmo assim, foi um primeiro contato que permitiu antever algumas características dos Zeekr que logo chegarão ao Brasil.

Zeekr X, o compacto urbano

Lançado em abril do ano passado, o Zeekr X é o modelo de entrada da marca - o que não significa que seja, exatamente, um carro barato. Tem como maiores destaques o design e os recursos eletrônicos que reúne.

É um desenho futurista, com ares de carro-conceito. Está mais para um hatch alto que para um SUV - as proporções o fazem parecer mais curto do que realmente é. A plataforma é a mesma do Volvo EX30, mas com 10 cm a mais de entre-eixos (2,75 m) e 22 cm a mais no comprimento total (4,45 m). Sem falar no luxo extra e nas soluções exóticas de estilo.

Não há maçanetas externas: aperte um botão na coluna e a porta se abrirá automaticamente por meio de um motorzinho, à moda do atual BMW Série 7. Um radar monitora o que acontece ao redor, para que a porta não esbarre em obstáculos. No Zeekr X há até um recurso de destravamento das portas por meio de reconhecimento facial. Quer abrir a porta mais rapidamente? Sem problema: aperte o botão e puxe da maneira convencional. Está dentro do carro e quer sair? Pressione outro botão.

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No painel, 66 Leds retangulares, translúcidos como pequeninos cubos de gelo, iluminam suavemente a cabine. O nome Zeekr, entre as lanternas traseiras, também é iluminado. O teto é transparente, com um tratamento fumê para proteger do calor e dos raios UV. 

Na cabine, nada de plásticos rígidos aparentes. Quase tudo é coberto por couro sintético (ok, se é sintético não é couro, mas vocês entenderam o que eu quis dizer…), numa forração caprichadíssima, especialmente nos bancos e no volante.

O banco do motorista é alto e macio mas, ao mesmo tempo, tem um excelente suporte lombar - um alívio e tanto após quase 30 horas de voos entre o Brasil e a China. Quem viaja no banco de trás dispõe de espaço de sobra para as pernas. Não se assuste com a combinação verde e azul do exemplar avaliado, pois o modelo X deverá chegar ao Brasil em configurações mais sóbrias.

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Por pura bossa de design, o volante tem topo e base meio achatados. Quase não há botões físicos - pesaram a mão nos comandos eletrônicos: até para ajustar a coluna de direção é preciso recorrer à tela da central multimídia. No console central, de dois andares, há até um compartimento térmico que pode manter alimentos aquecidos a 50ºC ou resfriados a - 20ºC.

Aí, outra surpresa: a enorme tela central (de 14,6”) pode ser deslizada facilmente para a frente do carona. Por questões de legislação, porém, esse recurso deverá ser travado nos carros exportados para o Brasil.

Na China, o Zeekr X pode sair com motor e tração traseiros ou com dois motores e tração integral. E é esta versão que deverá chegar ao Brasil. Sua potência combinada é de 428 cv, com 55,3 kgfm de torque máximo - a mesma especificação do Volvo EX30 Twin Motor. Com bateria de 69 kWh, o modelo tem uma autonomia divulgada de 560 km (pelo ciclo chinês CLTC, o mais otimista que há…).

Ficamos pensando se é realmente necessário ter esse exagero de potência - digna de um Mercedes AMG C43 - em um carrinho de luxo essencialmente voltado para o conforto no uso urbano. O Zeekr X tem um acerto nada esportivo, com suspensão excessivamente suave. Levanta a frente quando se tenta fazer o 0 a 100km/h nos 3,7 s anunciados pelo fabricante e rola um bocado nas curvas.

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Os controles de tração e estabilidade entram em ação constantemente, bem antes de os pneus começarem a cantar. Não espere ter prazer esportivo andando rápido com esse carro de 1.960 kg. A praia do Zeekr X é outra: desfilar seu estilo exótico em completo silêncio, só quebrado pela música que você mandar para o excelente sistema de som surround fornecido pela Yamaha. 

Provavelmente, a versão com um motor apenas e 272 cv já seria mais do que suficiente para a proposta desse carro. Haveria um ganho em autonomia e redução no preço final (algo especialmente útil nesse momento em que a Anfavea pressiona o governo a aumentar impostos sobre os elétricos importados).

Na China, o Zeekr X custa a partir de 179 mil yuans, o equivalente a R$ 134 mil. No Brasil, o modelo deverá concorrer com o “primo” Volvo XC40 e com as versões topo de linha do EX30. Ou seja: deverá custar de R$ 300 mil para cima.

Galeria: Zeekr 001 na pista

Zeekr 001, “shooting brake” de luxo

A Zeekr estreou no mercado chinês em 2021 com o modelo 001, um carro elétrico de luxo com 4,97 m de comprimento e exatos 3 metros de entre-eixos. São medidas quase idênticas às do Tesla S e do Porsche Taycan, seus principais alvos. Já a carroceria está mais para Porsche Panamera, bem ao estilo shooting brake, combinando elementos de station wagon e cupê. O resultado é um modelo que fugiu à solução fácil de se lançar mais um SUV no mercado.

Como modelo de estreia da Zeekr, o 001 não traz soluções de design tão ousadas quanto as do X. Mesmo assim, suas linhas ainda chamam a atenção no trânsito chinês. A frente, de certa forma, nos lembrou a do Fiat Coupé dos anos 1990, repaginada para o século XXI.

Para abrir as portas ainda há maçanetas convencionais - mas a abertura também pode ser feita de forma automática, com assistência elétrica. Basta pressionar a extremidade da maçaneta e… abre-te, sésamo!

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O acabamento interno, mais uma vez, é bem caprichado, com materiais suaves e de primeira linha por toda parte. Seu volante é mais convencional, apenas com a base reta. Como no X, há poucas teclas e botões físicos. Quase tudo no 001 - até o ajuste da direção e dos retrovisores - é feito por meio da tela multimídia de 15”, com tecnologia Oled e altíssima definição. Nos carros que guiamos, todos os comandos estavam em chinês, o que dificultava mais as coisas. Por outro lado, foi possível perceber a grande rapidez de atuação do software.

Os bancos, mais uma vez, são extremamente cômodos e, sobretudo, bonitos - característica de todos os Zeekr. E, com 3 metros de entre-eixos, já se pode imaginar o mundo de espaço na parte de trás da cabine. Completando o ambiente, há um teto panorâmico que pode ser escurecido para barrar a luz e o calor. O porta-malas também é muito amplo, com 539 litros.

Como no X, temos o som surround da Yamaha - no 001, são nada menos que 28 alto-falantes (!), alguns deles dentro dos bancos. Fora isso, reina o silêncio. Ou, se você quiser, um arremedo de som sintetizado de motor a explosão ou de nave espacial (melhor não…).

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Um Lidar e nada menos que 13 radares se encarregam dos modos semiautônomos de condução. E, acredite se quiser, há um sistema de wi-fi embarcado que se conecta a um satélite da própria Geely para garantir que você nunca fique sem sinal.

A plataforma do 001 é a SEA1, para os carros grandes do grupo Geely, compartilhada com o Polestar 4, o Ji Yue 01 e as minivans de alto luxo Zeekr 009 e Volvo EM90. Com sistema de 800V e bateria de 100 kWh, há a promessa de até 750 km de autonomia (pelo superotimista ciclo CLTC) ou 580 km (WLTP) e recargas de 10% a 80% em 15 minutos - se houver um carregador à altura, é claro.

Há uma versão do Zeekr 001 com motor apenas na traseira e 272 cv, mas a configuração que chegará inicialmente ao Brasil deverá ser a de dois motores, com potência combinada de 544 cv e 71,3 kgfm de torque.

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Na pista, foi possível sentir o quanto esse 001 se sai melhor nas curvas que o modelo X. Com sua grande distância entre eixos e suspensão a ar (opcional), o 001 é mais progressivo, não inclina tanto a carroceria e pode ser controlado melhor com o acelerador. Apesar do mundo de torque imediato à nossa disposição, os gnomos eletrônicos não interferem tanto na brincadeira. Segundo o fabricante, o carro vai de 0 a 100 km/h em 3,8s e alcança os 200 km/h.

Há muita borracha no chão, e os pneus Continental 255/45 R21 fazem sua parte sem muito sofrimento. Mas não estamos em um esportivo, mas sim em um carro elétrico de 2,4 toneladas - e os freios nos lembram disso. Depois de voltas e mais voltas com os jornalistas convidados, já estavam superaquecidos. Na minha vez, era possível senti-los “borrachudos”, demorando a atuar. Melhor pegar mais leve…

Zeekr 001 - carro de polícia em Hangzhou
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Zeekr 001 - carro de polícia em Hangzhou

Na China, o 001 topo de linha custa 329 mil yuan (R$ 246 mil, pela conversão direta). Uma estimativa é que o 001 chegue ao Brasil custando o dobro disso. A ideia é que brigue com os BYD Han e Tan, os BMW iX, iX1 e iX3, o Mercedes EQS, o Audi eTron, o Jaguar iPace e mesmo com o Porsche Taycan. Qualidades para isso, o Zeekr tem (especialmente em acabamento e  tecnologia de baterias). Resta saber o preço e se conseguirá superar os preconceitos contra marcas chinesas.

Ainda no autódromo, guiamos o moderno Zeekr 007, um rival do BYD Seal, e o Zeekr 001 FR, monstro com quatro motores e 1.250 cv. Mas esses são temas para outra matéria.