Qual será o papel dos biocombustíveis na transição energética que se apoia em boa parte nos veículos elétricos? Eles serão uma solução global ou local? E por quanto tempo? Alguns desses temas foram abordados nesta semana durante uma entrevista publicada pela AutoData com o CEO do Grupo Volkswagen, Thomas Schäfer, no evento de comemoração dos 70 anos da Volkswagen no Brasil.
Primeira operação da Volkswagen fora da Alemanha, a trajetória da marca alemã no país foi um caso de sucesso e referência por décadas. Modelos como Fusca, Kombi e Gol, entre tantos outros, viraram ícones e deixaram sua marca na história da indústria automotiva nacional.
No Brasil, há 20 anos a Volkswagen apresentava o primeiro carro flex do mercado: o Gol 1.6 Total Flex, que podia rodar com gasolina, etanol, ou qualquer proporção de mistura entre os combustíveis, iniciando uma nova era para a indústria.
Centro de pesquisa de biocombustíveis da Volkswagen
E agora, a Volkswagen celebra os 70 anos de trajetória em um mundo completamente diferente, que passa por uma profunda transformação da indústria automotiva dentro do cenário de transição energética. A própria marca alemã foi uma das precursoras desse novo futuro com carros elétricos, que culminou com o lançamento da linha ID em 2020.
Com a proposta de se transformar em uma montadora de carros elétricos na próxima década, a Volkswagen acelerou a eletrificação em mercados como Europa, China e Estados Unidos.
Schäfer deixou isso claro durante a entrevista:
"Na China, na Europa e nos Estados Unidos a descarbonização será por meio dos veículos elétricos. Este será o futuro de todos nós. Eventualmente faremos investimentos em outras tecnologias como os híbridos"
Mas aqui no Brasil os planos são bem diferentes, onde a empresa alega uma transição mais lenta e apoiada em biocombustíveis, sobretudo o etanol. No entanto, quando questionado sobre o uso mais amplo dos biocombustíveis, a exemplo do etanol, como alternativa aos veículos elétricos, o CEO global deixou claro que isso não é possível.
"Não é possível ter escala suficiente de biocombustíveis, qualquer um, capaz de atender à demanda global"
Mas ponderou que no Brasil e na América do Sul o etanol pode servir de ponte até que esses mercados estejam prontos para uma adoção mais efetiva de veículos elétricos. Ele destacou a nossa capacidade de pesquisa para esse tipo de combustível, com potencial de exportação para mercados importantes para empresa, como a África do Sul, por exemplo.
Por fim, Thomas deixou claro a importância de se ter uma política de mobilidade elétrica que permita avanços, e citou casos da Alemanha e Itália, que foram contra a exigência da União Europeia de proibir os carros a combustão em 2035, abrindo uma exceção para os combustíveis sintéticos.
Alexander Seitz, CEO da Volkswagen na América Latina, acredita nos híbridos como solução para mercados emergentes e prevê que o custo de produção desse tipo de propulsão está muito próximo de baixar a ponto de ser possível a sua popularização.
Explicando que o mercado de carros elétricos ainda é pequeno para se justificar uma produção nacional, Thomas Schäfer diz que o flex e o híbrido ainda terão o seu papel por um tempo.
"Teremos que utilizar tecnologias como o flex e o híbrido para esta passagem até que toda a infraestrutura para a mobilidade elétrica esteja madura"
De fato, não há nada de muito novo na opinião da Volkswagen em termos de veículos elétricos para os mercados além da Europa, China e EUA. A montadora alemã seguirá com a estratégia de oferecer modelos flex, e mais adiante híbridos - ainda não ficou claro se híbrido HEV ou híbrido-leve de 48V, ou mesmo ambos.
Sabemos que outras montadoras têm visões diferentes para a transição energética. Será que a Volkswagen realmente está fazendo a melhor escolha?
Fonte: AutoData
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