Carros elétricos e etanol dividem apoio e incentivos do governo no Brasil
Crucial para o agronegócio, o etanol pode limitar incentivos do governo federal à mobilidade elétrica
Carro elétrico ou flex, ou híbrido flex? Qual opção de propulsão o Brasil deve priorizar na transição energética? Essa pergunta surge o tempo todo, mas o país não chegou a um consenso sobre o que vai apoiar. É complexo e esbarra em questões ambientais, políticas e econômicas. Nesse cenário, há uma forte pressão para que o etanol siga desempenhando um papel chave no processo de eletrificação.
Voltando no tempo, vemos que o etanol passou a desempenhar um papel chave com a chegada dos carros flex, há 20 anos. Ao longo desse período, ajudou o país a reduzir as emissões da frota com ampla aceitação, representando atualmente mais de 80% das vendas de veículos leves.
Mas os desafios ambientais ficaram muito maiores, onde a descarbonização passa a depender de outras opções de propulsão mais limpas para que as metas de emissões de gases poluentes sejam atingidas, o que seria impossível com os motores de combustão interna.
Aí os carros elétricos a bateria evoluíram rapidamente como uma solução eficaz para a transição energética, não apenas por sua emissão zero durante o uso, mas também por eficiência e importantes avanços em tecnologia - no caso do Brasil, seu uso faz ainda mais sentido por conta da nossa matriz energética muito mais limpa do que a média mundial.
E no meio-termo ficam os carros híbridos, que no Brasil passaram a ser flex, uma tecnologia de propulsão inédita em termos globais desenvolvida pela Toyota e que deve ser seguida por outras grandes montadores mais adiante.
Há montadoras que apoiam o híbrido flex (Toyota) como uma forma mais viável de transição energética enquanto os carros elétricos estão longe de ser dominantes. Outras apoiam uma transição direto para os BEVs (GM). E, por fim, há fabricantes que enxergam as duas tecnologias de propulsão convivendo no mercado (BYD e GWM).
Etanol x Carro elétrico
Uma matéria recente da Bloomberg News abordou essa tema em uma entrevista com Uallace Moreira Lima, secretário de Desenvolvimento Industrial. Ele deixa claro que o novo Rota 2030 apoiará a redução dos modelos a gasolina rumo a carro menos poluentes, mas não irá mexer com os modelos flex.
Na prática, a leitura é de que o governo federal está dividido entre a pressão do setor que representa o etanol e de outro lado os carros elétricos e eletrificados. Politicamente, é uma linha difícil, do tipo agradar a 'gregos e troianos', pois ao mesmo tempo em que mantém os incentivos ao etanol apoiando o setor sucroalcooleiro, também apoia a vinda de montadoras chinesas que irão produzir carros elétricos no país e outras indústrias de eletrificação, como, por exemplo, de ônibus elétricos no ABC Paulista.
Atraso na eletrificação
Ao que parece, as diferentes opções de propulsão (flex, híbridos flex e elétricos) seguirão correndo juntas por aqui. Vale lembrar que, ao não incentivar de forma mais clara os carros elétricos, apoiando a expansão da infraestrutura de recarga, entre outras coisas, o Brasil ficará atrasado na eletrificação.
Olhando para o resto do mundo, o Brasil ainda possui níveis muito baixos de participação nas vendas de carros elétricos a bateria. Por aqui, eles representam apenas 0,5 das vendas totais, enquanto nos Estados Unidos já respondem por 8% e na China por 25% do total.
Segundo um estudo recente da Bright Consulting, em 2030 os carros elétricos representarão 30% das vendas globais, enquanto no Brasil a estimativa é de apenas 7%.
É inegável que o etanol seguirá tendo um papel na transição energética por aqui. Há questões econômicas e, principalmente, o peso do agronegócio, um setor que responde por uma parcela crescente do PIB nos últimos anos.
Do lado da indústria, também veremos essa influência do combustível vegetal em cada vez mais carros eletrificados que podem rodar com etanol, os híbridos flex. Um esforço coordenado de grandes montadores, indústria do açúcar e governo para manter os carros que podem rodar com etanol por mais tempo possível no mercado.
Fonte: Bloomberg News
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