Motoristas de aplicativo esperam 1h30 para carregar em Nova York
Prefeitura local exige carros de aplicativos de transporte elétricos desde o ano passado, mas infraestrutura não é suficiente
Alguns de nós somos levados a acreditar que Nova Iork (EUA) é a maior cidade do mundo. Arranha-céus, um caldeirão de talentos globais, uma cena artística e cultural agitada - a lista continua. Mas entre suas glórias, a infraestrutura de carregamento de veículos elétricos definitivamente não é uma delas.
Ela não está se expandindo proporcionalmente ao crescimento das vendas de veículos elétricos nos Estados Unidos, sobrecarregando os carregadores existentes na cidade. A situação está afetando negativamente motoristas de aplicativos que estão cada vez mais dirigindo carros elétricos.
Alguns dias atrás, um proprietário de um Tesla recorreu à uma rede social pedindo ajuda. "SOS, aqui está uma foto do que está acontecendo no Brooklyn NYC Tesla Supercharger. É impossível carregar o carro. Ajude-nos, por favor". O apelo foi feito ao CEO da Tesla, Elon Musk. A imagem mostrava um engarrafamento de Teslas em um estacionamento esperando para carregar.
O InsideEVs foi ao local para investigar o assunto diretamente. Encontramos dezenas de motoristas de aplicativo que se que se renderam aos elétricos graças às mudanças nas regras da cidade de Nova Iorque, que só emite uma autorização para oferecer o serviço de transporte se o veículo não for a combustão.
Esse Supercharger está localizado no estacionamento de uma loja de móveis Raymour and Flanigan, no extremo sul do Brooklyn. Ele é ladeado por um drive-thru da Starbucks de um lado e um centro veterinário do outro, enquanto a rua está repleta de oficinas. O estacionamento, um local desagradável com cabos de transmissão pendurados e postes de luz de madeira inclinados, abriga 12 carregadores para modelos Tesla e quatro da EVgo, para demais marcas. As telas dos carregadores EVgo exibiam uma mensagem de "fora de serviço".
Quinta-feira, 18 de janeiro de 2024, Cidade de Nova York: O Supercharger independente está superlotado devido às opções limitadas de carregamento nas proximidades. InsideEVs/Suvrat Kothari
Desafios aos aplicativos com os carros elétricos
A visão de Teslas fazendo fila do lado de fora das estações de recarga não é novidade. Mas nesse local específico, as longas filas têm persistido desde que a estação foi inaugurada há algumas semanas, disse Bezgod Hoja, um motorista da Uber que estava no local.
Hoja, sentado em um Model S P85D branco, vestindo uma jaqueta preta e calça jeans azul, disse: "Eu [regularmente] espero aqui por uma hora só para chegar à estação de recarga e depois mais uma hora para conseguir pelo menos 80% de carga".
Hoja é morador do bairro de Seagate, em Coney Island, a apenas cinco quadras de distância dessa estação. Ele disse que a Tesla instalou todos os carregadores em março de 2023, mas não os ativou até o final do ano passado. Ele disse que a estação não recebeu as permissões necessárias da cidade por um longo tempo. (O InsideEVs não conseguiu verificar essa afirmação de forma independente, embora Nova York seja notoriamente lenta quando se trata do processo de liberação de permissões.
Quando visitamos o local na semana passada, havia 20 veículos elétricos alinhados nessa estação e outros 12 carregando - a maioria deles Teslas com placas da Taxi and Limousine Commission (TLC) - e isso deixou de ser um inconveniente temporário para se tornar um problema duradouro. No ano passado, a TLC impôs uma nova regra que basicamente exige que as novas licenças de veículos de aluguel (FHV) sejam elétricas.
A medida do TLC tinha como objetivo aumentar o volume de carros de transporte de passageiros com emissão zero na cidade para tornar a frota mais verde, combater a poluição do ar e reduzir a dependência de carros a gasolina. E os motoristas parecem ter aceitado essa mudança.
Desde que a regra entrou em vigor no ano passado, a TLC aprovou mais de 4.700 solicitações de proprietários particulares e empresas de carona compartilhada e continua a conceder mais aprovações. No entanto, os motoristas podem comprar veículos elétricos, obter incentivos federais, registrar-se para obter placas TLC e gastar centenas de dólares em seguro, apenas para se deparar com uma rede de carregamento insuficiente.
Sem alternativa
Quando perguntamos a Hoja por que ele não escolheu um Supercharger alternativo, ele respondeu com desânimo. "Onde?", disse ele apontando o dedo para o mapa na tela de seu Model S, revelando longos tempos de espera em todos os Superchargers da cidade. A viagem até o Aeroporto JFK, o único outro Supercharger da Tesla na cidade sem taxas de estacionamento, levou uma hora de carro. Da mesma forma, uma viagem a duas estações no centro do Brooklyn - com pagamento e estacionamento - durante o horário de pico levou 40 minutos, e os tempos de espera, conforme indicado no mapa, foram igualmente longos.
Ellie Simpson, outra motorista da Uber e organizadora de casamentos, enfrentou o mesmo problema. Vestida com um sobretudo peludo marrom escuro e branco, ela estava sentada em um Model Y Performance preto. O ar quente das saídas de ar do Model Y confortou momentaneamente minha mão congelada enquanto eu puxava o gravador para ela. "Sou uma mãe solteira de três filhos. Estou perdendo uma hora e meia do meu salário por dia fazendo isso, apenas esperando na fila, quando isso poderia ser mais dinheiro e mais comida para meus filhos", disse Simpson com uma voz exasperada.
Simpson experimentou as estações de carregamento rápido de veículos elétricos instaladas pela Revel, empresa novata, que não cobram taxas de estacionamento, mas disse que as velocidades de carregamento às vezes eram muito lentas e que a exigência de pré-pagamento de US$ 40 (R$ 198) em seu cartão para cada sessão de carregamento era incompreensível para alguém que não tem espaço para esse tipo de fluxo de caixa.
Os motoristas do Uber ganham entre US$ 35-50 (entre R$ 173 e R$ 247) por hora, dependendo da demanda, de acordo com Simpson. "Essa é uma das poucas estações da cidade em que não é preciso pagar pelo estacionamento, por isso está atraindo muita gente. E, com o clima frio, precisamos recarregar com mais frequência", acrescentou. Há alguns dias, ela chegou à estação com 5% de bateria restante e, quando se conectou à tomada, a bateria havia estava em apenas 1%.
Simpson ficou desapontada com a taxa adicional aplicada nos Superchargers com muito movimento para evitar que os carros demorem muito para carregar a bateria completamente. Para isso, a Tesla agora cobra uma taxa de US$ 1 (R$ 4,90) para cada minuto que o veículo permanece conectado depois de atingir 80% nível de bateria. As velocidades de carregamento atingem o pico quando os níveis da bateria estão baixos, diminuindo gradualmente à medida que se aproximam da capacidade total.
Quinta-feira, 18 de janeiro de 2024, Cidade de Nova York: Os motoristas disseram que os Superchargers funcionaram bem apesar das condições de congelamento, já que estão em uso 24 horas por dia, 7 dias por semana. InsideEVs/Suvrat Kothari
"Morando em Nova York, a maioria de nós não pode carregar em casa, e essa estação fica a 30 minutos da minha casa. Portanto, eu deveria poder carregar com a capacidade máxima. Em vez de nos cobrar, eles [a Tesla e as autoridades locais] deveriam se concentrar em conseguir mais estações independentes", disse Simpson.
Em uma carta que Simpson planeja enviar à Uber, ela disse: "Os incentivos oferecidos pela Uber por ter um veículo elétrico não compensam a perda de tempo de trabalho. A essa altura, fazer parte de um programa de um aplicativo de transporte se tornou mais um fardo do que um benefício".
Esse Supercharger do Brooklyn também está aberto a veículos elétricos que não sejam da Tesla com compatibilidade para o plugue de padrão CCS. Segundo um motorista de táxi que dirige um Hyundai Ioniq Electric de primeira geração, sua preocupação está nas longas filas e na autonomia reduzida no inverno que afetam seus ganhos. Com o aquecimento desligado, o Ioniq Electric oferece 305 km de autonomia, mas esse número cai para 257 km com o aquecimento ligado, disse ele.
"Recentemente, um cliente queria ir para Connecticut. Concordei, mas solicitei um tempo de carregamento de 30 minutos antes de sair. Eles recusaram e eu perdi centenas de dólares só por causa das longas filas", disse ele. "E o frio piora a situação. Posso dirigir por até oito horas no verão, mas esse carro precisa ser recarregado a cada seis horas em um inverno como este", disse ele, apontando com as duas mãos, frustrado, para a leitura da bateria no painel de instrumentos.
Tanto a Tesla quanto a Uber parecem estar cientes dos problemas dos motoristas. Na semana passada, a Uber disse que agora estava compartilhando dados com a Tesla, começando pela cidade de Nova York, sobre as rotas mais populares para os motoristas, a fim de ajudar apontar as áreas onde a infraestrutura de carregamento é mais necessária.
"O custo de propriedade e o acesso a uma recarga conveniente são as duas principais barreiras que os impedem [os motoristas da Uber] de adotar a eletricidade e estamos animados em trabalhar com a Tesla para resolver esses dois problemas", disse Andrew Macdonald, vice-presidente sênior de mobilidade e operações comerciais da Uber.
De volta ao Supercharger da Tesla em Coney Island, três outros motoristas que não quiseram ser identificados expressaram preocupações semelhantes. Mas nem todos estavam incomodados. Dois proprietários particulares, que não eram motoristas de táxi, disseram que não se importavam de esperar na fila uma ou duas vezes por semana.
Um deles, motorista de caminhão profissional, não dirigia tanto seu Model Y, e outro, que passava o tempo jogando Candy Crush, disse que a fila estava andando rápido. Não estava. Mas para os motoristas de aplicativos e para todos os motoristas de veículos elétricos, que, de acordo com algumas estimativas, percorrem entre 160 km e 480 km por dia, uma infraestrutura de recarga mais robusta deveria ter chegado há muito tempo.
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