Três carros elétricos chineses são testados nos EUA e impressionam: "é um alerta"

A indústria automobilística global se vê em alerta com a rápida ascensão dos carros elétricos chineses. Combinando preços competitivos com alta qualidade, esses veículos representam uma séria ameaça aos players tradicionais do mercado. Em resposta, os EUA anunciaram um aumento de 100% nas tarifas de importação, banindo os modelos chineses do país por enquanto. A União Europeia segue o mesmo caminho, com planos de elevar suas tarifas. Segundo a Bloomberg, o Canadá também está considerando medidas protecionistas similares.

Mas até que ponto esses veículos elétricos chineses são realmente bons? Eles são uma verdadeira ameaça para os fabricantes de automóveis tradicionais em todo o mundo ou isso não passa de uma postura política? A maioria dos americanos - e a maioria dos jornalistas americanos, por falar nisso - não tem como se familiarizar com esses carros e ver o que eles têm de melhor. Portanto, é um verdadeiro prazer quando especialistas automotivos ocidentais colocam a mão na massa com os EVs chineses e compartilham suas impressões conosco.  

A Caresoft, uma empresa de benchmarking de Detroit, importou três veículos elétricos chineses de tamanhos, marcas e preços variados e convidou John McElroy, da Autoline News, para dar uma volta com eles. 

O veredicto de McElroy: "Esse é um alerta para todos os fabricantes de automóveis tradicionais em todo o mundo".

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Os veículos chineses não eram apenas construídos de forma sólida, agradáveis de dirigir e repletos de tecnologia impressionante. Eles também custam muito menos do que um VE comparável custaria nos EUA. Lá, os VEs ainda tendem a ser mais caros do que os veículos movidos a gasolina, com o carro elétrico novo médio sendo vendido por cerca de US$ 56.648 (R$ 307.000) em maio. 

O presidente da Caresoft, Terry Woychowski, cujo trabalho é ajudar as empresas automotivas a entender a concorrência, disse que os carros chineses oferecem um ótimo custo-benefício. A ideia de que os produtos chineses são inerentemente inferiores ou fabricados de forma barata foi totalmente descartada. 

"Pelo preço que eles têm, e se você observar o conteúdo que eles estão oferecendo, a qualidade é realmente excelente", disse Woychowski. "É um valor muito alto por esse preço."

(Confira as especificações e os preços dos carros testados abaixo, conforme citado pela Autoline. Observe que os valores de alcance são baseados no procedimento de teste da China e não são iguais aos números da EPA dos EUA).

Entre os três veículos testados, o Zeekr X se destaca como um forte exemplo da qualidade e do valor que os modelos elétricos chineses oferecem. Fabricado pelo Grupo Geely, dono de marcas renomadas como Volvo e Polestar, o Zeekr X é um crossover compacto que compartilha plataforma com o Volvo EX30, mas ostenta especificações superiores. 

O Zeekr X.

Esse Zeekr X, que também será lançado no Brasil, tem um preço sugerido de US$ 30.692 (R$ 166.700) nos EUA, uma faixa de preço difícil de encontrar no mercado de veículos elétricos por lá. Além disso, o X oferece equipamentos de luxo, como um display de alerta, acabamento suave ao toque nas colunas e portas que abrem e fecham eletronicamente ao aperto de um botão. O console central, que pode deslizar eletronicamente para frente e para trás, também tem funções de refrigeração e aquecimento. O Zeekr X também tem uma enorme tela central sensível ao toque que pode deslizar pelo painel para facilitar o acesso do passageiro da frente.

Seria difícil encontrar muitas dessas coisas em carros de luxo de verdade nos EUA. E, no entanto, o Zeekr X custa quase o mesmo que qualquer carro "comum" à venda nos EUA. 

"É por isso que as montadoras tradicionais têm tanto medo do que está vindo da China", disse McElroy. 

O carro também foi bem em dirigibilidade, disse McElroy. Ele notou alguns chocalhos no interior em testes anteriores do Tesla Model Y e do XPeng G6, mas não no Zeekr. "Esse carro é sólido como uma rocha", disse ele. 

É basicamente a mesma história de valor com os outros carros que McElroy e Woychowski testaram.

Xpeng G6

Por US$ 32.317 (R$ 175.000), o SUV XPeng G6 é US$ 5.000 mais barato que o Model Y, um concorrente direto. Ainda assim, ele anda quase da mesma forma que o Tesla, tem um interior mais interessante e é confortável, disse McElroy. Enquanto o Model Y reduz os custos por ter uma única tela central, o XPeng também oferece um conjunto de medidores digitais atrás do volante.

"Acho que a Xiaopeng tem um concorrente real e sério para o Model Y aqui" 

Interior do XPeng G6 2023

Enquanto isso, o sedã Avatr 12, de US$ 55.667 (R$ 302.400), oferece um luxuoso interior de couro napa, uma tela de 34 polegadas de largura total ao longo da parte inferior do para-brisa e assentos planos. Além disso, ele vem equipado com um sistema de 900 volts para carregamento extra-rápido (a maioria dos carros do mercado americano funciona com 400 volts) e câmeras em vez de espelhos laterais (que não são autorizados nos EUA). 

Avatr 12

De modo geral, o teste diz muito sobre o quanto os fabricantes de automóveis chineses estão à frente em termos de custo. Enquanto as montadoras ocidentais lutam para aumentar os volumes de produção de veículos elétricos e reduzir os custos para os consumidores, as empresas chinesas já estão lá - graças, em parte, a políticas industriais agressivas que canalizaram bilhões de dólares para a fabricação de veículos elétricos e cadeias de suprimentos. Elas são capazes de fabricar veículos baratos e repletos de recursos. Para mais uma prova disso, basta olhar para o hatchback BYD Seagull de aproximadamente US$ 10.000 (R$ 54 mil).  

A análise vai além da comparação técnica, revelando também as diferenças entre os hábitos de consumo na China e nos Estados Unidos. Apesar da ascensão da indústria automotiva chinesa, o domínio chinês em todos os mercados ainda está longe de ser garantido. 

Portas que se abrem automaticamente e compartimentos refrigerados são legais, mas é isso que os americanos querem? Para que as empresas automotivas chinesas entrem com força no mercado dos EUA - como os formuladores de políticas afirmam que farão se lhes for dada uma abertura - elas precisarão adaptar seu know-how a um tipo de cliente completamente novo. Isso é mais fácil de dizer do que fazer. 

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