O CEO da Ford, Jim Farley, está repensando a abordagem da fabricante em relação à eletrificação de uma maneira importante. Na quarta-feira, Farley disse que a Ford precisa se concentrar em oferecer veículos elétricos pequenos e baratos aos consumidores daqui para frente - e não picapes grandes movidos a bateria. É uma admissão bastante surpreendente de uma empresa cuja identidade está profundamente ligada à venda de grandes caminhonetes.
Conforme explica Farley, a mudança para os veículos elétricos virou o negócio de automóveis de cabeça para baixo. Com os veículos de combustão interna, maior sempre foi melhor. Um veículo maior pode exigir um preço mais alto, o que, em última análise, gera margens de lucro maiores para a Ford. Em termos simples, a Ford pode ganhar muito mais dinheiro por unidade vendendo F-150 de US$ 65.000 (R$ 365.924) do que EcoSport de US$ 25.000 (R$ 140.740). Essa matemática simples fez com que a Ford e seus pares priorizassem as picapes grandes e os utilitários esportivos em detrimento dos carros menores.
Mas isso não se sustenta na era elétrica, disse Farley.
"É exatamente o oposto para os veículos elétricos", disse ele na conferência de resultados do segundo trimestre da Ford. "Quanto maior o veículo, quanto maior a bateria, maior a pressão sobre a margem [de lucro], porque os clientes não pagarão um prêmio por essas baterias maiores."
Pelo contrário, é o fato de tornar as baterias menores que pode aumentar as margens ao reduzir os custos, disse ele. Além disso, acrescentou Farley, o desconto federal de US$ 7.500 (R$ 42.222 mil) para compras de veículos elétricos torna-se um fator maior quando aplicado a um veículo mais barato.
A bateria de íons de lítio é a parte mais cara de um carro elétrico. E SUVs e caminhonetes grandes e pesadas precisam de mais capacidade de bateria para proporcionar o tipo de autonomia que os consumidores esperam. Tudo isso leva a preços que muitos compradores não conseguem suportar. Uma picape elétrica Ford F-150 Lightning com autonomia de 515 km custará pelo menos US$ 68.000 (R$ 382.812), cerca de US$ 20.000 (R$ 112.592) a mais do que o modelo equivalente movido a gasolina.
Dê uma olhada nas vendas de picapes elétricas da Ford e é fácil ver de onde Farley está vindo. A Ford não conseguiu encontrar tantos compradores para a F-150 Lightning quanto esperava. Há pouco tempo, a fabricante planejava aumentar a produção para um um volume anual de 150.000 unidades até o final de 2023. Mas ela reduziu consideravelmente essas ambições. A empresa encerrou o ano passado com cerca de 24.000 Lightnings vendidas. Em contrapartida, cerca de 750.000 clientes adquiriram caminhonentes da Ford movidos a gasolina em 2023.
Tudo isso prova que as fabricantes de automóveis não podem simplesmente ficar à deriva, oferecendo versões elétricas de seus veículos a gasolina mais vendidos - especialmente se essas alternativas elétricas tiverem um preço significativamente mais alto. A taxa de crescimento das vendas de veículos elétricos diminuiu, mas a variedade de produtos que as pessoas podem comprar é um grande contribuinte. Isso é algo que as fabricantes podem controlar.
A Ford não falou muito oficialmente sobre como serão esses carros elétricos menores, mas sabemos que ela criou uma pequena equipe na Califórnia para projetar uma plataforma nova e de baixo custo. Farley se refere à equipe como a "Skunkworks" da Ford. Na quarta-feira, Farley deu um pouco mais de detalhes, dizendo que o esforço se concentrará em dois segmentos: trabalho e aventura.
Ele disse que a Ford oferecerá elétricos "muito diferenciados" com preços abaixo de US$ 40.000 (R$ 225.184) "ou até mesmo [abaixo] de US$ 30.000 (R$ 168.888)". Isso preencheria uma lacuna no mercado de VEs dos EUA, que se inclina fortemente para a extremidade premium do espectro e oferece poucas opções realmente acessíveis. Ele também disse que os VEs podem oferecer muito espaço interno em uma silhueta pequena, pois não possuem todas as partes volumosas de uma motorização convencional.
Os carros elétricos grandes ainda terão um lugar na Ford, mas a empresa terá que "ser muito cuidadosa" e "fazer escolhas muito mais inteligentes nos segmentos", disse Farley, parecendo reconhecer os erros da empresa em relação ao F-150 Lightning. O negócio de veículos elétricos da Ford perdeu US$ 1,1 bilhão (R$ 6,19 bilhão) no segundo trimestre, enquanto a empresa trabalha para aumentar os volumes de produção e obter economias de escala significativas, informou a Ford na quarta-feira.
Farley disse que, daqui para frente, os VEs maiores da Ford serão veículos comerciais e de trabalho e que a empresa contará com "muitas parcerias" para colocá-los no mercado.
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