Até agora, os grandes grupos automotivos tradicionais estavam navegado com calma na questão das emissões devido aos baixos requisitos vigentes na União Europeia. Mas essa tranquilidade está prestes a acabar: é que embora os novos limites de CO2 sejam conhecidos há anos, algumas marcas acabaram se atrasando demais, o que resultará em pesadas multas.
Sem dúvida, o caso da Volkswagen é um dos piores. O grupo investiu muito dinheiro no seu programa de carros elétricos, mas, ao contrário das expectativas, só vê seus números caindo. Ao mesmo tempo, continuou esticando a corda do rentável motor de combustão, literalmente queimando o futuro da marca.
No próximo ano os valores da frota que os fabricantes devem atingir serão ainda mais reduzidos. Em vez de 116 gramas de CO2 por quilómetro (medidos de acordo com o ciclo WLTP), o valor desce para 93,6 gramas. Os fabricantes que não atingirem essa meta terão de pagar uma multa de 95 euros por cada grama ultrapassada e os veículos fatalmente acabarão tendo seus valores afetados.
Segundo dados do portal alemão Automobilwoche, a cota de carros elétricos vendidos por grupos como a Volkswagen teria de aumentar para pelo menos 25%. Porém, no primeiro semestre de 2024, ficou em apenas 10%. Além disso, a participação dos híbridos plug-in teria que aumentar de 6 para 11%.
De acordo com um relatório do banco de investimento UBS ''Não é realista pensar que a Volkswagen pode atingir as suas metas de CO2 sozinha. O salto é muito grande.''
Uma das alternativas é buscar acordos com marcas que possuam créditos de emissões excedentes. Uma fórmula já utilizada no passado que pode ajudar a mitigar o problema, embora a oferta destes direitos de emissões, segundo o UBS, possa não ser suficiente.
Não é apenas a Volkswagen que enfrenta enormes desafios no que diz respeito a metas de emissões na sua frota. A Ford também é uma das piores no ranking, e segundo os dados, teria de aumentar a sua participação de carros elétricos de 5% para 23%. Um salto impensável em um ano. Nem o mais otimista especialista espera essa meta para os próximos dois, três ou cinco anos.
Fiat Grande Panda EV
Citroën ë-C3
Por sua vez, as marcas do Grupo Stellantis teriam de duplicar os seus valores atuais, passando de 9 para 18%. Mais uma vez, seria necessário uma grande melhoria num curto espaço de tempo, mas neste caso é favorecida pela entrada de modelos de volume na gama do grupo, como a compra recente da Leapmotor, além de modelos como os novos Fiat Grande Panda e Citroen C3. O que deverá aumentar substancialmente as vendas nos próximos meses.
Em melhor situação estão a BMW e a Mercedes, com participação já mais elevada, e terão de aumentar de 19% e 18% respetivamente, para 24%.
Alcançar os objetivos será também um enorme desafio econômico para os fabricantes, mas especialmente para a Volkswagen. De acordo com cálculos do UBS, a Volkswagen perderá cerca de 10% do seu lucro operacional em 2025 caso se adapte às novas metas de CO2.
E isto equivale a cerca de 2 bilhões de euros antes de impostos, o valor mais elevado entre todos os fabricantes na Europa. Aspecto que poderia explicar a manutenção de curto prazo do motor a combustão, um ''cofre'' que possibilite enfrentar as multas sem levar o grupo à falência financeira.
Mas depois de 2025 virá 2026, onde a situação se repetirá novamente, com a diferença que a concorrência será cada vez maior e será cada vez mais difícil vender carros elétricos simplesmente por serem elétricos, e também devido ao impacto da indústria chinesa, que pretende se instalar em países europeus, onde terá fábricas próprias e ampliará as suas redes de vendas e reparação, o que lhes permitirá reduzir custos, aumentar a sua visibilidade e, assim, aumentar as vendas.
Devemos ainda acrescentar fatores individuais, mas de grande relevância, como a chegada no próximo ano da nova geração do Tesla Model Y, um best-seller, bem como o esperado lançamento do modelo mais econômico da Tesla, que pode ser um golpe fatal nos planos da Volkswagen.
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