Retrocesso: Votação relâmpago na Câmara de SP adia frota elétrica para 2054
PL 825 adia metas de descarbonização e permite compra de novos ônibus a diesel na cidade de SP
Um polêmico projeto de lei (PL 825/2024) proposto pelo vereador Milton Leite (União Brasil) foi aprovado a toque de caixa em primeira votação na Câmara Municipal de São Paulo, causando preocupação entre especialistas e entidades do setor de transporte. O projeto adia para 2054 as metas de redução de emissões de CO2 pela frota de ônibus da capital paulista e reabre a possibilidade de aquisição de novos ônibus movidos a diesel, contrariando a legislação atual.
Desde 2022, as empresas que operam o transporte público municipal estão proibidas de adquirir novos veículos a combustíveis fósseis, uma medida alinhada à Lei 16.802/2018. Essa legislação determinou um cronograma para substituir mais de 12 mil ônibus a diesel por modelos não poluentes até 2038. No entanto, o PL 825 pode comprometer esses avanços ao permitir que as concessionárias retardem a transição para tecnologias mais limpas.
Scania ônibus elétrico - K 230E B4x2LB
Impactos
A Lei 16.802/2018, reconhecida nacional e internacionalmente como um exemplo de inovação em sustentabilidade, estabelece que a frota de ônibus da capital deve reduzir 50% das emissões de CO2 até 2025 e 100% até 2038. Com a aprovação do PL 825, esses prazos seriam estendidos para 2044 e 2054, respectivamente. Essa mudança não apenas atrasa o cronograma de descarbonização, mas também permite que as empresas compensem suas emissões por meio da compra de créditos de carbono, em vez de investir diretamente em tecnologias limpas.
Retrocesso
A Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) se posicionou contra o PL 825, classificando-o como um retrocesso. A entidade destaca que a medida compromete a saúde da população paulistana e prejudica a indústria nacional de ônibus elétricos, que já é capaz de produzir 10 mil veículos por ano com a estrutura atual.
Mercedes-Benz: ônibus elétrico na fábrica
Além disso, a ABVE ressalta que existem quase 700 ônibus elétricos em operação no Brasil, a maioria em São Paulo, com excelente desempenho operacional. Segundo a associação, a justificativa de que a tecnologia ainda não estaria madura não se sustenta diante dos fatos.
Outro ponto de preocupação é o impacto econômico negativo. A Lei 16.802 ajudou a consolidar uma cadeia produtiva robusta no Brasil, composta por empresas nacionais e multinacionais que desenvolvem componentes como motores elétricos, baterias e sistemas de recarga. O PL 825 geraria insegurança no mercado, comprometendo investimentos e empregos no setor.
Riscos para a saúde e o meio ambiente
O transporte público é um dos maiores responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa em São Paulo. A ampliação do prazo para a descarbonização da frota de ônibus pode agravar os problemas de poluição do ar, com consequências diretas para a saúde da população. Além disso, a dependência de combustíveis fósseis reduz a capacidade da cidade de atingir metas climáticas globais.
O PL 825 ainda precisa ser aprovado em segunda votação antes de ser sancionado. A ABVE e outras entidades apelam para que os vereadores rejeitem a proposta e garantam o cumprimento dos prazos estabelecidos pela Lei 16.802. Além disso, destacam a necessidade de fortalecer a infraestrutura de recarga elétrica e incentivar a aquisição de veículos não poluentes.
Se aprovado, o projeto pode comprometer décadas de avanços na mobilidade sustentável de São Paulo, colocando em risco o protagonismo da cidade em soluções inovadoras para o transporte público. O debate em torno do PL 825 serve como um alerta para a importância de priorizar políticas públicas que estejam comprometidas com a sustentabilidade e o bem-estar da população.
RECOMENDADO PARA VOCÊ
BNDES aprova financiamento para 87 ônibus elétricos em São Paulo
Brasil vende mais eletrificados plug-in que o resto da América Latina
Retrocesso em SP: PL 825 libera ônibus a diesel e sabota eletrificação
Geely E5: SUV elétrico é flagrado no Brasil e deve chegar em 2025
Acidente com ônibus elétrico em SP reforça segurança das baterias
BYD ultrapassa Toyota nas vendas de carros elétricos no Japão em 2024
Brasil lança plano nacional para impulsionar ônibus elétricos