Obviamente que o dono de um carro 100% elétrico irá se planejar para ter um carregador em casa. Uma estrutura básica de recarga é, em boa parte dos casos, oferecida com o carro no momento da compra. Mas e se não for possível fazer essa recarga com tanta facilidade, até onde se chega com um carro elétrico?
Escolhemos o Volvo XC40 P8 para este teste prático. No mercado premium e no chamado mercado para pessoa física (lojas), foi o modelo elétrico mais vendido de 2021 e segue como um dos mais vendidos em 2022, com o reforço do seu irmão C40 aos que procuram um estilo diferente, mas o mesmo conjunto propulsor de 408 cv e tração integral. Qual será o resultado disso?
Não tenho um carregador em casa. No escritório do Motor1.com/InsideEVs, temos um no prédio ao lado (por enquanto), mas a meta principal era utilizá-lo apenas em alguns dias. Aplicativos de localização de carregadores estão no meu smartphone há um tempo e são grandes aliados nesse planejamento.
O Volvo XC40 P8 tem uma bateria de 78 kWh (75 kWh úteis) com capacidade de recarga de até 11 kW em AC e 151 kW em DC máximo. É uma boa capacidade de bateria e de recarga, o que colaborou nesse teste tanto na autonomia quanto no tempo que demoramos para recuperar carga mesmo em paradas rápidas pelos wallbox disponíveis publicamente por diversas empresas, inclusive a própria Volvo.
O XC40 chegou com 98% de bateria em minhas mãos. Tudo bem, esse primeiro dia seria basicamente para ir para casa, apenas. Não me preocupei em fazer nenhuma recarga, já que do nosso escritório para minha casa são apenas 15 km - em nosso teste anterior, o XC40 registrou uma média de 4,9 km/kWh na cidade. Como já disse, não há ponto de recarga onde moro, então o Volvo dormiu como os outros carros na garagem.
Depois, mais 14 km de casa para o escritório. No dia seguinte, uma viagem estava marcada, a mais complicada para o XC40 P8 nesse período: de São Paulo a Campinas, com parada em Indaiatuba e volta para São Paulo. Como já tinha consumido cerca de 10% da bateria e a viagem iria ser de mais de 200 km, por segurança escolhi fazer a recarga em um shopping de São Paulo em um carregador de 7 kW instalado pela BMW. A recarga foi de graça, o estacionamento custou R$ 14,00 e cheguei aos 98% de bateria em cerca de 1:30. Foi mais por segurança que por necessidade, além de estar com fome e aproveitar para me "recarregar".
A primeira perna da viagem era de cerca de 140 km. Como cheguei em casa já com 96% da bateria, ainda assim tinha uma folga baseado nos 4,5 km/kWh do nosso teste anterior. O XC40 me dava cerca de 320 km de autonomia ao sair de casa, sem me privar de ar-condicionado. Ao mesmo tempo, já tinha monitorado os pontos de recarga na região, principalmente o de carga rápida DC instalado em um posto no quilômetro 56 da Rodovia dos Bandeirantes.
A primeira perna foi tranquila. O XC40 P8 e seus 408 cv encaram uma rodovia sem dificuldades, inclusive com o consumo esperado. Na calculadora, 29 kWh foram utilizados, dos 75 kWh úteis que as baterias fornecem no SUV. Poderia fazer a volta de 84 km de Indaiatuba até São Paulo tranquilamente, já que utilizaria cerca de 19 kWh da minha sobra, mas por segurança, fiz a parada no ponto com o carregador DC, onde o XC40 chegou aos 55 kW de recarga, segundo o computador de bordo. Foram 35 km de Indaiatuba até o posto, chegando com cerca de 45% de bateria.
Conectado, o XC40 P8 foi até mais rápido que eu na recarga. Enquanto comia a (cara) coxinha com refrigerante, em 1:30 ele carregou 100% das baterias (de 80 a 100% ele reduz a potência de recarga para proteção) antes que eu saísse para vê-lo. Nesse caso, não paguei o valor do estacionamento, apenas o que eu consumi. Bem que poderiam parcelar a coxinha e o refrigerante.
Mais 50 km e chegamos em casa. Apenas gastando com pedágios e coxinha, o XC40 acompanhou o ritmo com muita facilidade, além de uma certa economia ao não precisar colocar gasolina, que facilmente passaria dos R$ 120 dependendo do carro utilizado. Estacionado, com quase 90% de bateria, não seria recarregado no dia seguinte. Por um compromisso com outro carro, deixei o Volvo com o Nicolas Tavares, editor de home do Motor1.com.
Terceira recarga do Volvo XC40 foi justamente no carregador mais próximo da nossa redação, em um supermercado, com 22 kW. Custou R$ 15,00 e, mais uma vez, chegou aos 100% de bateria, sendo que foi colocado com cerca de 80%. Só fiz essa recarga pois o dia seguinte não seria tão tranquilo, com mais uma viagem programada.
Além do que foi utilizado na cidade no dia anterior, chego ao dia da viagem com 90% da bateria. A viagem é até Santos, litoral de São Paulo, em um total de 130 km de ponto a ponto. Além de um pedágio caro, essa viagem tem a vantagem de ser parte em descida, o que pode "abastecer" o XC40 P8 de graça com a regeneração pelos freios. E de fato: foram 4% recuperados sem precisar ligar o carro em uma tomada em cerca de 15 km de descida.
Tranquilamente o XC40 faria a viagem de volta, praticamente em subida, com folga. O Google Maps integrado ao carro ajuda nas decisões ao mostrar a previsão de carga ao chegar ao destino, mas onde escolhemos para almoçar possui pontos de recarga de 22 kW, com 4 vagas, algo muito bom (e raro) ainda nos dias de hoje. Enquanto a família se abastecia, o Volvo XC40, mais uma vez, chegou aos 100% por mais R$ 15,00.
Sei que o comprador de um carro 100% elétrico provavelmente terá um wallbox instalado em casa. Fica fácil ao deixar ele ganhar autonomia enquanto você dorme, por exemplo, mas aqui o teste era até onde é possível viver com o que há nas ruas. E algumas observações são necessárias nesse tempo.
Primeiro, o XC40 chegou em casa e ainda foi devolvido dias depois, mesmo sendo utilizado no trajeto urbano, com 44% de bateria. Aos poucos, a questão do certo medo sobre a autonomia de um carro elétrico vai se resolvendo, principalmente pelos pontos de recarga espalhados em diversos locais.
Mas isso foi feito em São Paulo, uma cidade grande e que já está se adaptando aos elétricos. Santos mesmo, uma cidade turística, tem poucos pontos espalhados para recarga. As rodovias também não possuem muitos pontos espalhados, dificultando uma viagem - marcas como a própria Volvo já trabalham em carregadores em rodovias, inclusive de carga rápida. Em outras localidades, essa estratégia não teria tanto sucesso, já que são bem menos carregadores disponíveis.
E sim, viver com o elétrico exige mais programação ao viajar. Ver onde estão os pontos, se eles estão funcionando, qual a capacidade de recarga do seu carro e afins são novas questões a serem respondidas antes de pegar a família e cair na estrada. O sistema da Volvo com o Google é um ótimo aliado nisso ao te ajudar a programar e prever a autonomia. É possível viver sem o carregador em casa? Sim, mas terá que se programar ainda mais no dia a dia.
Fotos: Mario Villaescusa (para o InsideEVs) e divulgação Volvo
Volvo XC40 P8
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