Comparativo Ora 03 Skin vs. BYD Dolphin: A revolução dos compactos elétricos
Eles se tornaram referência na faixa dos R$ 150 mil; qual o melhor?
A faixa dos R$ 150 mil é importante no mercado brasileiro. Há SUVs, picapes e sedãs que dividem a atenção do comprador que vai pelo bolso em busca do seu novo carro que, agora, encontra boas opções de elétricos. Começou com o BYD Dolphin, queridinho dos domingos a tarde, que agora tem a concorrência pesada do GWM Ora 03 Skin com seu visual diferente e marcante.
Chegou a hora de ver como eles se comparam. Semelhantes em preço e porte, a versão de entrada de ambos os hatches elétricos realmente colocam dúvidas na cabeça até de quem não considerava ter um carro elétrico ao menos neste momento. Qual oferece mais? Qual anda mais? Qual vai mais longe? Qual a sua escolha entre BYD Dolphin e GWM Ora 03 Skin?
Nascidos na China para ganhar o mundo
Essa dupla é um reflexo de como as marcas chinesas querem ganhar o mundo. Ambos foram projetados pensando em diversos mercados, inclusive europeus, com capacidade de brigar em pé de igualdade com os modelos de marcas tradicionais. Em diversos lugares do mundo, eles brigam pelos compradores, com algumas variações do que vemos aqui. Um reflexo é a escolha de suas plataformas.
A GWM construiu o Ora 03 sobre a plataforma L.E.M.O.N, uma arquitetura flexível que comporta modelos totalmente elétricos e híbridos. Ou seja, sua base precisa comportar um sistema a combustão quando for necessário. Enquanto isso, o rival Dolphin é baseado na e-platform 3.0, esta já dedicada a veículos elétricos quando desenvolvida pela BYD, sem a preocupação de acomodar um ICE. Neste ponto, o Dolphin está um passo adiante do GWM.
De qualquer forma, ambos são concepções modernas e com muito foco na segurança estrutural, onde os dois receberam a nota máxima de 5 estrelas nos testes de colisão e segurança do Euro NCAP, graças à construção moderna, segurança do habitáculo e sistemas de assistência ao motorista. No caso específico das versões deste comparativo, o Ora 03 Skin sai na frente por contar com o pacote de assistência ao motorista de condução autônoma nível 2, algo que o Dolphin só tem na versão mais cara e equipada, Plus.
Do designer da Porsche aos oceanos
Lado a lado, Dolphin e Ora 03 tem estilos bem diferentes. No GWM, um estilo com linhas arredondadas e uma clara inspiração retrô - não é uma surpresa descobrir que o seu designer é Emanuel Derta, que já foi Porsche. Os faróis redondos com contorno cromado nos levam diretamente a alguns modelos, como um 911 do início dos anos 1970 ou o clássico Fusca.
Quando visto de lado ou pela traseira, o carro elétrico da GWM parece mais moderno e diferentão (e um pouco desconecto da dianteira), com linhas harmoniosas e auxiliadas pelos balanços curtos, típicos dos elétricos mais modernos. As lanternas embutidas no vidro traseiro completam o visual ousado e ao mesmo tempo charmoso, que divide opiniões. Ao vivo é bem melhor do que nas fotos e realmente chama a atenção nas ruas.
Vindo de outra escola, o rival BYD Dolphin foi o primeiro modelo da "Ocean Family" (seguido pelo Seal e Seagull), inaugurou uma nova linguagem de design na montadora e presente em vários elementos na parte externa e interna do carro. De linhas mais simples, porém modernas, o formato da carroceria mescla formas retas e arredondadas, com a dianteira se caracterizando pela grade frontal fechada, elementos em forma de U e para-choque com efeito tridimensional. Os faróis são do tipo fullLEDs complementados pela grade frontal iluminada. É um pouco menos ousado que o Ora e mais discreto.
O clássico retrô e o modernão
No design interior, temos também duas escolas completamente diferentes. O Ora 03 aposta em uma cabine mais clean e bem agradável, com elementos mais retos, console central de tamanho reduzido e poucos botões físicos. O interior tem material suave ao toque na parte superior do painel e um conjunto claramente inspirado no Mini Cooper com os botões centrais e diversos itens com contornos em alumínio. A cor do interior depende da cor exterior.
O BYD Dolphin segue por outro caminho, de bastante personalidade e elementos de design ondulado ou circulares, como as saídas de ar, painéis de porta e um console central mais proeminente que preenche toda a parte central entre os bancos. É um estilo mais moderno, mas um acabamento não tão bom quanto no GWM, mesmo que seja uma versão de entrada.
Enquanto o Ora adota a solução já conhecida do quadro de instrumentos integrado com a tela da central multimídia (as duas de 10,25"), o Dolphin tem o cluster separado (tela de 5") montado na coluna de direção e se vale de uma tela principal maior, com 12,8" e função giratória - algo que ainda é questionável sobre sua utilidade. Ambos tem os controles de ar-condicionado integrados na tela, nem sempre uma unanimidade.
Em termos de espaço, os dois acomodam cinco ocupantes, mas com conforto mesmo, podemos considerar quatro adultos sem maiores problemas. Na frente, o Ora 03 passa uma sensação de mais espaço livre por conta do console reduzido e do acabamento em tom claro, o que é um ponto positivo, embora no banco do motorista o Dolphin ofereça uma ergonomia um pouco melhor. O pênalti da dupla é nenhum dos dois ter ajuste de profundidade do volante, mas o BYD tem um volante menor, mais espesso e de melhor pegada. No banco de trás, ambos tem espaço bom considerando o seu porte e segmento, mas no BYD o banco é pouca coisa mais alto, uma vantagem.
Ainda falando de espaço, ambos não são referência em termos de capacidade do porta-malas, mas aqui o Ora 03 leva a pior. São apenas 228 litros, prejudicados pelo formato mais inclinado da traseira e design mais irregular da carroceria. O Dolphin também não é referência e oferece 245 litros, mas com melhor disposição pelo formato mais quadrado, o que aproveita melhor os espaços. De qualquer forma, nenhum deles parece afim de encarar uma viagem com bagagens.
Lembra que o GWM vem de uma plataforma que precisa prever o motor a combustão? Basta ver suas dimensões. Ele é maior em comprimento (4.235 mm versus 4.135 mm), mas seu entre-eixos é menor, com 2.650 mm, enquanto o BYD tem 2.700 mm e por isso que o BYD aproveita o espaço interno um pouco melhor no banco traseiro e no porta-malas. De qualquer forma, a dupla é maior pessoalmente que por fotos.
Em equipamentos, a dupla colocou um novo patamar no segmento, mesmo como versões de entrada. O Ora 03 Skin, por exemplo, tem central multimídia com Apple CarPlay sem fio, câmera 360°, sete airbags, frenagem autônoma de emergência, ar-condicionado de duas zonas automático, controle de cruzeiro adaptativo, assistente de ponto cego, alerta de tráfego traseiro, autohold, câmeras 360, entre outros.
O Dolphin também oferece espelhamento com Apple CarPlay, mas não para Android Auto e traz curiosidades como o karaokê, disponível com o carro parado, e comandos por voz em português. O BYD fica devendo principalmente nos itens de segurança ativa e assistentes de condução, que o Ora já oferece, mas ainda tem equipamentos como ar-condicionado automático, 6 airbags, controle de cruzeiro, ar condicionado automático, monitoramento da pressão dos pneus, freio de estacionamento eletrônico, auto hold, câmera 360º em HD, acendimento automático dos faróis e sensor de chuva, entre outros.
Afinal, como andam?
Inegável que o BYD Dolphin conquistou o mercado com um nível de conforto e equipamentos que os elétricos até então nesta faixa não ofereciam - e acabaram reduzindo seus preços depois. Neste avanço, o Dolphin também chegou com boa dirigibilidade e desempenho honesto, com seus 94 cv (70 kW) e 18,3 kgfm disponíveis a qualquer toque no acelerador. São números suficientes para o dia a dia.
No nosso teste, o BYD levou 11,2 segundos para chegar aos 100 km/h, número na faixa dos SUVs compactos com motor 1.0 turbo. Porém, os elétricos tem uma vantagem nas velocidades e retomadas urbanas, como 60 ou 80 km/h, onde se destacam. A rodagem é voltada ao conforto e ele não nega que sua preferência será se manter na cidade. Mesmo assim, o compacto pega estrada e mantém velocidades constantes, apesar da suspensão não gostar muito.
Por este sucesso do Dolphin que a expectativa sobre o Ora 03 era bem alta. O elétrico da GWM não decepcionou, com uma tocada mais firme (com jeito de carro europeu), direção mais direta e responsiva e suspensão bem calibrada, principalmente em pisos piores quando comparado ao seu principal concorrente. O único porém fica por conta do volante, que poderia ser menor e ter aro mais grosso, casaria melhor com a proposta do carro, uma reclamação que também é compartilhada com o Haval H6.
Arisco, o GWM convida a pisar no acelerador. Não só pelo acerto do conjunto, mas também pela potência de 171 cv (126 kW) e torque máximo de 25,2 kgfm, números superiores ao do rival e que são prontamente percebidos no uso, seja nas rápidas saídas ou nas retomadas. Cumpriu a arrancada padrão em nosso teste em apenas 7,5 segundos, abaixo do número oficial (8,2 segundos), comprovando sua agilidade por boa margem sobre o BYD. O mesmo vale para as retomadas de 40 a 100 km/h e de 80 a 120 km/h.
Assim como o BYD, ele foi pensado para a cidade, mais por limitação da bateria do que por qualquer outra coisa, mas nos curtos trechos rodoviários que aceleramos ele mostrou disposição de sobra, embora dê pra melhorar o controle em velocidades mais altas, nada que desabone, e essa nem é exatamente a proposta do carro.
Bateria, autonomia e recarga
A bateria dos dois carros têm capacidades bem próximas, mas contam com tecnologias distintas. A do Ora 03 tem 47,8 kWh (45,4 kWh úteis) e composição lítio-ferro-fosfato (LFP). Em nosso teste urbano, entregou consumo médio de 6,1 km/kWh, suficiente para uma autonomia urbana de 277 km, número superior ao divulgado pelo Inmetro (232 km), como é praxe nos testes no mundo real.
Elogiada pelo alto nível de segurança, a bateria do BYD Dolphin tem 46 kWh de capacidade (44,9 kWh efetivos) e também tem composição LFP, mas adota o formato de lâmina (Blade), mais versátil e com maior densidade energética. Mais eficiente, o BYD Dolphin entregou consumo bem melhor, com 7,7 km/kWh, se convertendo em uma autonomia de 345 km na cidade, acima dos 294 km oficiais do Inmetro.
Aqui temos uma vantagem considerável para o Dolphin, que tem alcance médio 25% maior que o rival GWM na cidade. Como sabemos, a autonomia é um dos pontos cruciais dos carros elétricos e decisivo na hora da compra. No entanto, a experiência de recarga pode ser melhor no Ora 03, com tempos de carregamento mais baixos.
Se a autonomia do Dolphin conta pontos a favor, no quesito potência de recarga o Ora 03 Skin leva a melhor com capacidade de 11 kW em AC contra 7,4 kW do Dolphin. Em corrente contínua DC as potências ficam mais próximas, com vantagem para o modelo da GWM: são 60 kW para o BYD e 64 kW para o Ora.
Na vida real, isso representa que ambos podem recuperar de 20-80% da carga da bateria em cerca de 30 minutos usando um carregador rápido DC de pelo menos 50 kW. Usando um wallbox doméstico de 7,4 kW AC a mesma tarefa seria cumprida em cerca de 4 horas no Dolphin ou 2 horas e 30 minutos no Ora 03.
Conclusão: qual é o melhor carro elétrico urbano?
Lançado primeiro, o BYD Dolphin se revelou um sucesso de público e conquistou pela boa oferta de equipamentos e tecnologia, qualidade de construção, eficiência da bateria com autonomia adequada na cidade e dirigibilidade voltada para o conforto. Já o Ora 03 Skin coloca um tempero a mais na experiência de condução, acabamento interno mais esmerado e lista de série mais farta, ainda que peque no alcance e porta-malas menor.
Tudo considerado, temos dois bons carros elétricos compactos no páreo, o que é uma ótima notícia e oportunidade para elevar o nível dos próximos lançamentos. Enquanto o Dolphin tem condições de atender a um amplo público com suas qualidades e praticidade, o Ora 03 dá um passo adiante e apela para quem busca um algo mais no ato cotidiano de dirigir e no pacote de itens, valorizando o quanto se paga em um carro pelos equipamentos, principalmente os de segurança.
Fotos: Mario Villaescusa (para o InsideEVs)
Fichas técnicas
BYD Dolphin | GWM Ora 03 Skin | |
MOTOR ELÉTRICO |
Motor elétrico síncrono de ímã permanente, dianteiro
|
Motor elétrico síncrono de ímã permanente, dianteiro
|
POTÊNCIA/TORQUE |
95 cv; 18,3 kgfm
|
171 cv; 25,5 kgfm
|
SUSPENSÃO E RODAS |
McPherson na dianteira, eixo de torção na traseira; rodas de 16" com pneus 195/60
|
McPherson na dianteira, eixo de torção na traseira; rodas de 18" com pneus 215/50 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira |
PESO | 1.405 kg em ordem de marcha |
1.540 kg em ordem de marcha
|
DIMENSÕES | comprimento 4.125 mm, largura 1.770 mm, altura 1.570 mm, entre-eixos 2.700 mm; | comprimento 4.235 mm, largura 1.825 mm, altura 1.603 mm, entre-eixos 2.650 mm |
PORTA-MALAS | 245 litros | 228 litros |
BATERIA | 46 kWh (44,9 kWh úteis) | 47,8 kWh (45,4 kWh úteis) |
RECARGA | 7,4 kW (AC); 60 kW (DC) | 11 kW (AC); 64 kW (DC) |
PREÇO | R$ 149.800 | R$ 150.000 |
MEDIÇÕES INSIDEEVS BR | ||
---|---|---|
BYD Dolphin | GWM Ora 03 Skin | |
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 4,7 s | 3,6 s |
0 a 80 km/h | 7,3 s | 5,2 s |
0 a 100 km/h | 11,2 s | 7,5 s |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em S | 8,2 s | 5,1 s |
80 a 120 km/h em S | 9,2 s | 5,6 s |
Autonomia | ||
Urbano | 7,7 km/kWh (345 km) | 6,1 km/kWh (277 km) |
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