O BYD Seal ainda é o melhor elétrico da marca em nosso mercado? Lançado em agosto do ano passado, o sedã-cupê causou alvoroço com um preço competitivo e prometendo peitar versões de entrada dos sedãs premium alemães a combustão - e parece que isso funcionou, já que está atrás apenas de Toyota Corolla e Nissan Sentra, com 1.910 unidades emplacadas de janeiro até maio.
Não a toa, foi lançado com pompa. O BYD Seal foi o primeiro modelo da marca desenvolvido em uma plataforma elétrica dedicada, a e-Platform 3.0, que está em outros modelos da empresa chinesa. Mas o que faz do Seal o melhor elétrico da marca em nosso mercado até o momento?
Medindo 4,80 metros de comprimento e generosos 2,92 metros de entre-eixos, o sedã-cupê elétrico está um passo à frente dos outros elétricos da família por conta do conceito CTB (Cell To Body), em que a caixa da bateria substitui o piso da estrutura monobloco, sendo uma de suas principais características técnicas.
Isso contribui para o aumento da rigidez torcional do conjunto em 70%, face a uma estrutura convencional. Essa bateria integrada na estrutura permite reduzir a altura total da carroceria em 10 mm e favorecer a aerodinâmica com com Cx de 0,219. Além do porte superior e amplo entre-eixos que garantem um espaço interno elogiável, o sedã se destaca em outros aspectos importantes, como nível de acabamento e equipamentos superiores; dirigibilidade aprimorada e uma concepção mais refinada em termos de projeto.
O design do Seal se destaca pelas linhas fluidas (ao vivo é ainda melhor do que nas fotos) que auxiliam na aerodinâmica com cx. de 0,22. É arrojado na medida certa, ao mesmo tempo em que as formas e proporções agradam aos olhos. Tudo na 'harmonia do oceano', a não ser pelas ranhuras inferiores no para-choque traseiro um pouco exageradas.
Por dentro, ainda que o interior de outros modelos mais acessíveis da BYD geralmente sejam melhores que dos rivais, o Seal está um passo adiante, se revelando algo mais premium. Temos um maior refinamento nos materiais, superfícies e acabamentos. As camadas de molduras do painel e das portas combinam elementos de ótima qualidade, agradáveis aos olhos e ao tato. Mesmo nas partes inferiores de plástico mais simples, há algum tipo de textura para melhorar a percepção. Dito isto, os encaixes e montagem podem ser considerados muito bons. Os bancos com design anatômico possuem revestimento em couro ecológico e ajustes elétricos de altura, distância e lombar. Ademais, há função de aquecimento e ventilação.
No Seal, para o bem ou para o mal, quase tudo é controlado através da enorme tela central de 15,6", que tem função giratória. Existem alguns botões, mas os ajustes do ar-condicionado, por exemplo, somente na tela. Para ajustar a temperatura, você precisa deslizar de baixo para cima para exibir os controles. Os assentos aquecidos exigem o mesmo, mais dois toques adicionais para chegar ao menu correto. E quando você fizer isso, o menu do assento aquecido ocupará toda a tela. Voltar ao Apple CarPlay/Android Auto requer mais dois toques. De todo modo, a resolução é muito boa e a interface é simples, por assim dizer, mas pode ser melhorada.
Fazendo jus ao projeto moderno, o Seal também não deixou a oferta de equipamentos. A lista de itens de série é ampla, com destaque para o teto panorâmico, seis airbags, head up display, rodas de liga leve aro 19", faróis de LEDs, banco do motorista com ajuste elétrico e memória, retrovisores externos com aquecimento e rebatimento elétrico, câmera 360º com imagem HD, bancos dianteiros com aquecimento e ventilação, atualizações remotas OTA, conexão 4G, chave presencial NFC, acesso e partida sem chave, assistente de estacionamento, quatro modos de condução, entre outros.
Em linha com o que é oferecido no mercado atualmente, os assistentes incluem monitor de pontos cegos, controle de cruzeiro adaptativo com stop & go, frenagem de emergência, alerta de abertura de portas, alerta de tráfego cruzado, assistente de permanência em faixa, alerta de colisão lateral, radares dianteiros e traseiros e monitor de pressão dos pneus.
Para o motorista, banco que acomoda bem, posição de dirigir mais baixa e principais comandos à mão, seja nos botões do volante ou teclas para algumas funções mais comuns relativas à condução no console central. O ocupante do banco dianteiro também desfruta de bom espaço lateral e para as pernas, enquanto quem vai atrás se beneficia de amplo espaço para pernas, ainda que o banco seja um pouco mais inclinado, mas nada que desabone e ainda condizente com a proposta de sedã-cupê. Por fim, há duas saídas de ar traseiras e duas entradas USB-C.
Com os acabamentos em tons parcialmente mais claros e teto panorâmico, a sensação é de amplitude. Os acabamentos e o design dos bancos, painéis de portas, painel e console melhoram a percepção premium na cabine.
Banco mais baixo, volante com boa pegada e do tamanho certo tornam a tocada bem agradável. Mas não apenas isso: a direção é mais direta e rápida do que em outros modelos da marca, sem contar o melhor ajuste de suspensão, que tem multi-link na traseira.
Dito isto, embora mais baixo, o Seal roda tranquilo no asfalto que nem sempre é bom. Lida bem com as imperfeições, trazendo um nível de conforto elogiável. Merece destaque o nível de isolamento de ruídos e vibrações, aqui, mais uma vez, no patamar mais alto entre os carros da BYD.
Com 531 cv, naturalmente o Seal alimenta grandes expectativas. De fato, ele arranca rápido, como os as especificações sugerem, mas a entrega é bem progressiva e, a depender do modo de condução, não deve pregar sustos na maioria dos motoristas. Em nosso teste, acelerou de 0 a 100 km/h em 4,0 segundos, número de carro esportivo, mas um pouco abaixo dos 3,8 segundos oficiais, inclusive, estampado na tampa traseira.
No entanto, considerando que não há nada nessa faixa de preço com essa potência, o Seal fatalmente acaba mirando os clientes de sedãs premium, a exemplo das versões de acesso do BMW Série 3. Aqui, quem gosta de andar mais rápido e devorar curvas, explorando mais os limites do carro, pode sentir falta daquele "feeling" mais europeu, um tanto firme e sensação de controle total em curvas. É um carro que ainda sofre da preferência chinesa, por carros mais confortáveis e para andar em linha reta.
Para compensar a menor eficiência energética das baterias LFP, a BYD aplicou o conceito CTP na construção do Seal, ou seja, em vez de muitas pequenas células cilíndricas ou prismáticas serem organizadas em módulos, que são então montados em um pacote, o Blade pula o estágio de módulo e adota células de lâminas, mais parecidas com longas pranchas dispostas longitudinalmente no pacote, economizando espaço e peso.
É um pacote de 82,5 kWh úteis (84 kWh no total), suficiente para 372 km de autonomia pelo padrão conservador do Inmetro, mas durante o teste, como é praxe, ficou bem acima, no patamar dos 6,25 km/kWh no uso urbano, o que dá uma autonomia de mais de 515 km na cidade. Naturalmente, o tipo de uso, topografia e modos de condução, podem afetar esses números, eventualmente caindo para a faixa entre 400-450 km em trecho rodoviário ou dirigindo com mais empolgação na cidade.
Os modos de condução afetam parâmetros de direção, pedal e potência, mas mesmo no modo Eco o desempenho 'sobra' no uso diário. Isso aliado ao nível de regeneração normal (são três níveis) já contribui para um bom consumo de energia. No entanto, o Seal não possui condução One Pedal, ou uma regeneração mais intensa, como vemos em outros carros elétricos.
E falando das especificações e potência de carregamento, o Seal carrega com até 11 kW em AC e 150 kW em DC, números em linha com boa parte dos carros elétricos disponíveis no mercado, mas vale lembrar que há muitos modelos nesse patamar que chegam a 22 kW AC ou mais de 200 kW DC, mais adequado às baterias de longo alcance.
Tudo considerado, o BYD Seal por R$ 296.800, mesmo preço do lançamento, continua sendo uma opção muito interessante nessa faixa de valor. Sem rivais diretos no Brasil, o sedã cupê acaba mirando em parte os clientes das versões de entrada do BMW Série 3, por exemplo. Não há nada com esse pacote e potência nessa faixa de preço. O mais próximo em proposta é o BMW i4 eDrive35, com 286 cv e 0 a 100 km/h em 6 segundos, custa (bem) mais caro: R$ 469.950.
Reunindo qualidades como projeto moderno, pacote decente de equipamentos e tecnologia, design interessante, acabamento premium, alto desempenho e ampla autonomia, o Seal fica devendo pouca coisa. Poderia até citar alguma readequação no layout do sistema multimídia e mais opções de botões para funções triviais. E como já foi mencionado, carregamento a 22 kW AC faria mais sentido pra um carro elétrico moderno com bateria de longo alcance.
Mesmo sem decepcionar na proposta, o sedã cupê da BYD talvez não agrade totalmente aos clientes mais tradicionais dos sedãs premium, que podem sentir falta daquele 'ajuste fino' alemão ao dirigir. De fato, há alternativas para estes, mas são bem mais caras. No fim das contas, o Seal ainda é um carro bem honesto.
Fotos: Mario Villaescusa (para o InsideEVs)
BYD Seal EV
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