Produção de carros elétricos no Mercosul só com incentivos, diz Stellantis
CEO afirma que Brasil e Argentina ainda não têm mercados com poder de compra suficiente para absorver a produção
Um tema cada vez mais abordado é qual será o papel do Brasil e de mercados vizinhos como a Argentina na cadeia produtiva global dos carros elétricos e híbridos plug-in. O que pensam as grandes montadoras mundiais em relação aos principais países do Mercosul?
Segundo o CEO da Stellantis, Carlos Tavares, essa questão passa em primeiro lugar pelos governos locais. É necessário saber se eles realmente pretendem promover a transição para mobilidade elétrica e arcar com os gastos decorrentes dos incentivos para compensar o custo de produção mais elevado desse tipo de veículo.
Galeria: Fiat 500 elétrico - linha de produção na fábrica de Mirafiori
Riscos para as montadoras
Logo após o concretização da fusão PSA-FCA, o executivo havia destacado que a participação de mercado de 17% na América Latina é algo muito importante. No entanto, ele não aconselha uma transição energética tão rápida por considerar que os mercados da região não têm poder de compra para absorver volumes de produção grandes o suficiente para compensar o investimento. E acrescenta que tal medida (acelerar a eletrificação) poderia colocar em risco a já frágil sustentabilidade das principais montadoras.
"A eletrificação traz expressivos aumentos de custos e isso coloca as empresas em risco, seja porque elas reduzem suas margens para não perder mercado, ou porque precisam aumentar os preços e assim perdem clientes. Mas o fato é que veículos elétricos não são acessíveis hoje à maioria da população. Então a questão é como os governos locais querem lidar com essa situação", ponderou Carlos Tavares.
Alternativas locais
Por outro lado, o executivo vê outras possibilidades que podem ser exploradas localmente, como, por exemplo, os biocombustíveis e o aperfeiçoamento de motores a combustão interna. Embora o futuro dos carros elétricos ainda seja incerto por aqui, muitos apostam no desenvolvimento de tecnologias como as células de combustível a etanol, entre outras soluções que podem se revelar mais adequadas à nossa realidade.
Em resumo, Tavares deixa claro que o que não deve ocorrer é simplesmente replicar o modelo de transição energética adotado na Europa e na China, por exemplo, que conta com vultosos investimentos e incentivos estatais, tanto para a aquisição dos veículos como na criação da infraestrutura para esse carros.
"é preciso lembrar que as políticas nacionais também precisam assegurar a liberdade de mobilidade de acordo com as aspirações de seus cidadãos", pontua.
Futuro de híbridos e elétricos
Apesar disso, o executivo aposta no rápido crescimento das vendas de carros híbridos plug-in e elétricos e também na queda constante do custo das baterias. Tudo isso permitirá uma maior disseminação da mobilidade elétrica, mas em um nível ainda insuficiente para popularizar esse tipo de veículo como os carros com motores a combustão.
Trazendo isso para a Stellantis, a realidade será de apostar em plataformas que podem ser equipadas com trens-de-força 100% elétricos, híbridos ou a combustão, de acordo com o perfil do mercado onde o veículo será comercializado.
Como a tendência é de rápido crescimento dos 100% elétricos na Europa, a região tende a produzir somente propulsores elétricos, deslocando a fabricação dos motores a combustão para o Brasil, por exemplo, onde a fábrica da Fiat em Betim (MG) recebeu um grande investimento recentemente para a aumentar a produção e se tornar um polo exportador.
Em um anúncio recente, a Stellantis, que como grupo já possui 29 veículos eletrificados na linha, confirmou que terá mais 10 lançamentos de híbridos plug-in e elétricos até o fim de 2021. No caso do Brasil, podemos esperar por modelos como o Fiat 500 elétrico, Jeep Renegade e Compass híbridos plug-in, além do já lançado Peugeot 208 elétrico.
Fonte: Automotive Business
Galeria: Jeep Compass e Renegade 4xe - Produção na Itália
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