Quão grande será a mudança de combustível usado na Fórmula 1? Será tão grande quanto a troca dos V8 pelos híbridos? E embora muitos governos ao redor do mundo parecem falar hoje apenas sobre carros elétricos como o futuro, quão poderosa será a mensagem que a Fórmula 1 enviará, dizendo que o futuro dos carros e da mobilidade não precisa ser totalmente elétrico?

Para nos ajudar a responder isso, conversamos com Mattia Binotto, o chefe da equipe Scuderia Ferrari da Fórmula 1, e seu parceiro de combustível na categoria, István Kapitány, vice-presidente executivo global de mobilidade da Shell.

A grande mudança nos combustível está acontecendo rapidamente. Muitos países introduziram um novo tipo de combustível mais ecológico, o E10, que é gasolina com 10% de bioetanol desligado de material vegetal. Na temporada 2022, a F1 adotará este combustível e, em seguida, liderará em uma mudança para combustíveis 100% sustentáveis. Se a F1 seguir seu caminho, a tecnologia desenvolvida na categoria logo chegará às avenidas e aos bilhões de carros que já circulam nas ruas pelo mundo.

“Certamente é algo grande. É essencial para que o futuro da Fórmula 1 seja sustentável”, diz Binotto. “ A F1 sempre foi uma plataforma de inovação, não apenas em desempenho, confiabilidade e tecnologia, mas pode ser inovadora para sustentabilidade. Ser totalmente elétrico não é a única solução. Acreditamos que existem outras soluções como a hibridização com combustíveis totalmente sustentáveis.

Ferrari boss Binotto says switch to sustainable fuels “is a big deal”

“Em termos de design de motor, será uma mudança bastante significativa em termos de know-how, acho que ainda haverá muito o que aprender sobre os combustíveis deu ma nvoa geração, combustíveis que hoje não são bem conhecidos no meio do automobilismo. Estamos introduzindo o combustível E10, 10% etanol em 2022.

Mas o que obteremos nos próximos cinco anos é certamente muito diferente da primeira etapa do 10% etanol. É divertido porque você tem o desafio é uma curva de aprendizado, mas é inovação. O desafio é obter o máximo de desempenho de um produto totalmente sustentável. A dificuldade será tentar ser o melhor, porque é um ambiente competitivo e a competição tem tudo a ver com vantagens relativas.”

Houve reações mistas dos fãs da Fórmula 1 quando os híbridos foram introduzidos na categoria em 2014, a principal reclamação sendo em torno do som menos impactante que os motores faziam. Essa narrativa mascarou a impressionante história de inovação de que os motores a F1 ficaram mais de 50% eficientes termicamente, o valor mais alto de todos os motores do mundo. Então, que mudança os fãs notarão em 2025?

“Acho que não será visível de fora”, diz Binotto. “Ao passar dos V8 para os V6 híbridos, o som acompanhou a mudança. Mas se você olhar para o formato dos carros, não acho que, para os fãs, isso tenha mudado muito. E se você considerar o propulsor que temos hoje, híbrido e com uma eficiência térmica muito alta, não acho que os fãs irão perceber essa diferença e acredito que caberá a nós explicar e enfatizar as vantagens dos combustíveis sustentáveis. Então, em termos de mudança, acho que para os técnicos, as equipes e as fabricantes de motores, será uma grande mudança e um grande desafio. Mas não acho que será tão visível para os fãs.”

“Avanços incríveis nas tecnologias de baterias foram alcançados nos últimos anos”, diz Kapitány. “Mas os combustíveis líquidos têm maior densidade de energia, o que nos dá uma tremenda oportunidade de entregar um desempenho alto. Esta é uma das razões pelas quais é importante para nós trabalharmos em conjunto com a Ferrari.”

“Para chegar a um combustível sustentável, existem diferentes maneiras. E a Fórmula 1 é o ambiente certo de teste para este tipo de atividade. Já estamos produzindo etanol de segunda geração em quantidade comercial. Não é produzido com a parte comestível da cana, mas com as sobras agrícolas. Também temos uma solução patenteada chamada IH2 Technology, que está produzindo combustíveis de qualidade a partir de resíduos agrícolas ou domésticos. E não somos estranhos aos e-fuels, combustíveis sintéticos, componentes sintéticos e também combustíveis como gás liquefeito.”

“Os combustíveis sustentáveis representam outra alternative aos veículos elétricos (VE). Os VEs são muito bons, estão vindo e farão parte do portfólio das fabricantes. Mas também precisamos ter certeza de que estamos oferecendo soluções diferentes, um mosaico de soluções para nossos clientes e é por isso que temos tanta vontade de trabalhar neste mundo.”

Então, quais são os próximos passos? “Estamos trabalhando de perto com a FIA, a F1 e outras equipes e fornecedores, junto com a Shell no nosso caso, para ter certeza que iremos desenvolver as especificações e regulamentos corretos para um combustível totalmente sustentável em 2025”, diz Binotto. “Estamos trabalhando duro neste ponto porque entendemos a urgência dele, e entendemos como ele é importante também para o futuro do automobilismo.”