O governo alemão, aliado a um grupo de montadoras liderado pela Porsche, apertou o conselho europeu na semana passada: eles conseguiram que a União Europeia cancelasse a proibição de motores de combustão interna - planejada para 2035 - e permitisse seu uso desde que fossem alimentados por combustíveis sintéticos, por lá chamados e-fuels.
A notícia foi bem recebida por boa parte da indústria automotiva europeia, que terá tempo suficiente para adaptar seus atuais motores de combustão interna para a fase dos sintéticos. Isto aproveitará anos de desenvolvimento desse tipo de combustível para torná-los mais eficientes e neutros em carbono. A mudança de direção foi recebida com otimismo por líderes da indústria como o engenheiro Karl Dums e o argentino Horacio Pagani. Também pelos clubes de carros clássicos agrupados na FIVA.
Em meio a esta surpreendente mudança de planos, destacou-se uma voz contrária: a de Thomas Schäfer, o engenheiro mecânico que é o atual CEO global da marca Volkswagen (que também é responsável pela Seat, Cupra e Skoda). Embora Porsche e Volkswagen façam parte do mesmo Grupo VW, Schäfer não poderia se opor mais à posição que Dums e sua equipe em Stuttgart estão propondo hoje.
A posição de Schäfer e suas marcas é definida nos parágrafos seguintes, relatados na revista alemã AutoBild.
* Combustíveis sintéticos: "Na Volkswagen, não vemos muito sentido nos combustíveis sintéticos, pelo menos não nos planos atuais de descarbonização. Pensamos que este é um debate que está fazendo muito barulho. Estamos totalmente comprometidos com a eletrificação de cada um de nossos carros, e é por isso que nós da Volkswagen, Seat e Skoda queremos deixar claro que nossos planos de eliminação gradual dos motores de combustão interna estão indo adiante, apesar das notícias dos últimos dias".
* Hidrogênio: "O hidrogênio não é para nós. O hidrogênio é pura física e é caro. Não é competitivo, especialmente para carros de passageiros, cujos tanques ocupam espaço no compartimento de passageiros. Talvez para veículos comerciais, mas não para o carro de passageiros. Portanto, não vejo isso acontecendo nesta década. Não na Volkswagen, Seat e Skoda.
* Motores de combustão interna: "O último carro com motores de combustão interna que lançaremos na Europa será a segunda geração do VW T-Roc, que está planejado para 2025. O próximo Golf será 100% elétrico e o mesmo com todos os outros modelos da nossa linha. Nos últimos 18 meses, vimos que muitos de nossos clientes tradicionais passaram a utilizar veículos movidos a bateria e estão totalmente satisfeitos com eles. Tornou-se o mainstream. De todos nós, somos nós que estamos levando esta tecnologia a um volume real. Agora estamos fazendo isso com todas as marcas, não apenas Volkswagen, mas também Skoda, Seat, Cupra".
Vale destacar que essa é a posição da marca Volkswagen, uma vez que o Grupo Volkswagen, chefiado por Oliver Blume, tem uma posição mais flexível em relação aos combustíveis sintéticos, até mesmo porque a Porsche tem realizado investimentos pesados nessa área.
Uma das grandes discussões nos últimos dias foi a proibição das vendas de motores a combustão na Europa em 2035. O assunto já estava praticamente encerrado, mas na última hora a Alemanha pressionou a Comissão Europeia para abrir uma 'exceção' para os motores a combustão alimentados por combustível sintéticos, que prometem, em tese, uma menor pegada de carbono.
Combustíveis sintéticos à parte, a transição para os carros elétricos segue acelerada nos principais mercados, onde a discussão já avançou para outros pontos: manter ou não os incentivos estatais, provimento de fontes de energia, células de combustível, hidrogênio e etc.
No Brasil, ainda estamos lá atrás, discutindo "carro elétrico x etanol", esperando a criação de um plano estratégico para a transição energética com metas e objetivos, programas de incentivos para a descarbonização, veículos limpos e afins, entre outras demandas. Precisamos acelerar o passo...
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