Nesta terça-feira (7), houve a apresentação do relatório revisado da reforma tributária. Nele, o artigo 19, que contempla a renovação dos incentivos fiscais apenas para tecnologias com propulsão elétrica (carros elétricos e híbridos) e retirava o benefício para os motores de combustão interna (gasolina, diesel e flex), foi alterado na noite desta segunda-feira (6) para manter o estímulo para os veículos a combustão no período até dezembro de 2032.
A emenda estende os benefícios fiscais para as montadores que produzirem veículos movidos por motores de combustão interna que utilizem biocombustíveis ou combustíveis derivados de petróleo, atendendo a certas condições, como iniciar a produção até 1º de janeiro de 2028 e cumprir compromissos de investimento, produção e manutenção da produção.
Essa mudança de última hora é um retrocesso, pois coloca em igualdade de condições para receber os benefícios tributários os carros elétricos, híbridos e de novas energias, juntamente com os veículos equipados com motores de combustão interna, o que impacta diretamente nas políticas e investimentos em tecnologias que contribuirão com a descarbonização, ao mesmo tempo em que desestimula o desenvolvimento e a popularização de veículos com propulsão mais limpa.
Segundo Fábio Rua, vice-presidente de políticas públicas e comunicações da General Motors, se o incentivo fiscal for mantido nestes termos provocará distorções no setor automotivo e insegurança jurídica, além de não promover a concorrência e não beneficiar os estados.
"Temos que agir e evitar que esse artigo, como foi apresentado hoje, seja aprovado na comissão de Constituição e justiça e depois no plenário do Senado."
Questionado sobre o impacto que a proposta pode ter para as decisões das montadoras aqui, Rua disse falou em afastamento de investimentos:
"Ele passa um recado para todos os grandes investidores brasileiros da indústria automotiva de que a estabilidade jurídica do Brasil é frágil, de que o compromisso com o investidor que aqui é frágil, que o compromisso com novos investidores é frágil e isso, obviamente, tem impacto"
Uma alteração desta magnitude no texto visa, especificamente, atender a pedidos da Stellantis para a manutenção de subsídios federais que distorcem o mercado, colocando as marcas do grupo em situação de vantagem fiscal frente à todas as outras montadoras do país.
Todas as fabricantes possuem incentivos, no entanto, são relacionados a tributos estaduais como o ICMS. No caso da Stellantis, são subsídios federais que impactam o mercado como um todo.
De acordo com o executivo da GM, a aprovação deste texto, além de afastar a inovação e produtos mais tecnológicos no Brasil, mostra que o governo brasileiro não está realmente comprometido com os propósitos alardeados pelo programa Mobilidade Verde.
"Eu acho que é contraditório com tudo que o governo vem pregando. Olhando a neoindustrialização, olhando a descarbonização e olhando o país como sendo um grande impulsionador de investimentos externos em temas relativos à sustentabilidade. Se você incentiva a indústria de carros a combustão da forma como está sendo incentivado, ou da forma como está o artigo, sugere incentivar, você passa um recado para o mundo de que o Brasil não é um país efetivamente comprometido com as mudanças climáticas. Não é um país que está olhando a descarbonização da frota como um dos principais elementos para limpar nossa matriz.
Nossa reportagem conversou com lideranças de outras montadoras que também ficaram em estado de choque com a alteração do texto na calada da noite. Extraoficialmente, existe o receio de que planos de investimentos que estão sendo estudados e envolvem a produção de veículos elétricos no Brasil possam ser repensados.
"Estamos falando de bilhões de investimentos, produção de tecnologia de ponta no país e geração de empregos", citou uma das fontes.
A CCJ discute e realiza a votação nesta terça-feira (7), para que amanhã (8) o texto vá ao plenário do Senado. Pelo regime atual (e com a emenda de última hora), a montadora mais beneficiada com os incentivos fiscais é a Stellantis, que mantém um polo de produção em Goiana (PE), mais abaixo, vem as empresas Caoa e HPE, ambas instaladas em Catalão (GO).
Com Fábio Trindade do Motor1 Brasil
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