Opinião: Empresas de recarga precisam repensar qualidade do serviço
Estratégia de ser totalmente digital e sem funcionários precisa ser urgentemente repensada para não afastar futuros consumidores
Com o aumento de veículos elétricos e híbridos no Brasil, vemos também o crescimento da infraestrutura de recarga em vários níveis. Eletropostos em estradas, dentro das cidades, estacionamentos comerciais ou até mesmo em praça pública são estratégias para promover a eletrificação. Vale destacar, no entanto, que ainda estamos falando de grandes centros.
Toda a mudança de pensamento e comportamento dos proprietários de carros elétricos que decidem ir mais longe, pegar uma estrada e fazer uma viagem com a família está amparada na confiança de que aquele carregador mapeado pelo aplicativo esteja funcionando quando se chega lá. Tem ainda a possibilidade de estar ocupado, fato contornável na cidade, mas sem solução na estrada.
Nós aqui no InsideEVs.com temos testado praticamente todos os carros elétricos e híbridos a venda no Brasil. Não temos preocupação alguma quando falamos de uso urbano, mas a coisa muda de figura quando colocamos os carros na estrada.
Recarga paga deve ter assistência
Particularmente, defendo que as recargas sejam cobradas. Sejam cobradas para garantir a qualidade e disponibilidade. Mais rápidas e ainda mais baratas que os combustíveis. Porém, vejo que quase todas as empresas de recarga adotaram um modelo totalmente digital para o uso. É legal, mas muitas vezes é complexo.
Pensando na diversidade dos consumidores, como idosos, mulheres ou até mesmo pessoas com alguma limitação de movimentos podem ter dificuldades para simplesmente colocar o cabo de recarga. Como sabem, quanto maior a potência do carregador, maior e mais pesado é o cabo.
Em quase todos os carregadores pagos, o processo é o mesmo: ter o aplicativo da empresa, cadastro feito e cartão de crédito informado. O problema aqui é que, pela diversidade de empresas, muitas vezes é necessário baixar o aplicativo ao chegar no carregador em um posto de estrada. Já aconteceu conosco da região simplesmente não ter sinal de celular para baixar o aplicativo. O outro ponto é cadastrar e validar o cadastro.
Passamos para outra situação. Em determinado ponto de uma viagem, mapeamos que o carregador era da empresa X. Nos antecipamos, fizemos o cadastro antes de ir para a estrada, tudo certo. Depois de rodar algumas centenas de quilômetros e chegar no carregador, o problema: a estação estava sem comunicação. Não havia a possibilidade de iniciar a recarga remotamente.
Como falei, eu prefiro pagar para ter a certeza de funcionamento. Todas as situações problemáticas que citei podem ser resolvidas com a presença de um profissional, apenas uma pessoa, nos locais onde se oferece a recarga. Algumas pessoas não precisarão de assistência, outras sim. No caso de instabilidade ou falta de conexão, esse profissional conseguirá providenciar o reparo o quanto antes.
Em relação aos locais onde se oferece a recarga gratuita, como shoppings e mercados, particularmente acho aceitável não ter assistência. Como não é cobrado (ao menos diretamente na recarga), vejo como uma recarga de oportunidade e não de necessidade.
Exemplo já existe na Europa
No ano passado visitei o Audi Charging Hub, uma estação de recarga modelo onde a marca valida todos os conceitos possíveis em termos de carregamento de veículos elétricos. Aplica baterias usadas como um super powerbank para armazenar energia limpa, eólica e solar geradas localmente, bem como a oferta - ainda gratuita - da recarga para donos de qualquer carro elétrico. Donos de Audi têm o benefício de acessar um lounge completo com infraestrutura para trabalho e reuniões, inclusive.
O ponto mais importante desta visita foi a conversa com o responsável pela estação. Apenas uma pessoa que gerencia os acessos ao lounge, verifica se as cargas estão sendo feitas corretamente e até avisa clientes quando o carregamento estiver completo. Ele também disse que sua função é auxiliar pessoas com dificuldade na liberação da carga (feita por aplicativo) e conectar o carro nos carros, caso justamente de idosos e mulheres. É, praticamente, a garantia de que tudo vai funcionar como o esperado.
Frentistas?
Aqui no Brasil temos os frentistas em todos os postos de combustíveis e já estamos habituados. Nos Estados Unidos, o processo de abastecimento é feito pelos próprios motoristas. No entanto, mesmo lá existe um responsável pelo posto que fica dentro da loja - qualquer problema de cobrança é resolvido imediatamente.
A chegada dos carros elétricos não vai acabar com os postos de combustíveis e nem mesmo com o trabalho dos frentistas. Sabemos que teremos uma convivência por décadas dos carros a combustão e elétricos. Por isso mesmo vejo a oportunidade destes postos que já possuem também recargas rápidas de ter ao menos um profissional que também atenda o consumidor de carros elétricos.
Recentemente recarreguei o Mustang Mach E em um posto tradicional que possui recarga rápida e em nenhum momento fui abordado por um funcionário oferecendo ajuda. Não precisei, mas com certeza alguém pode precisar.
Não tem lucro máximo sem clientes
Toda vez que vejo um carregador elétrico largado no meio do nada, sem assistência, sem nada, penso que aquela empresa está visando o lucro máximo. Não ter funcionários é uma boa estratégia para otimizar os lucros, mas pode afastar os clientes. Sem clientes, não haverá lucro. O momento para repensar é agora.
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