Alguns carros vão além do racional. Conseguem despertar sentimentos, desejos e vontades por diversos aspectos, como uma carga histórica, carisma e exclusividade. Diversas montadoras se guiam nesse sentido com modelos que mais servem para reforçar imagem e ganhar dinheiro que pelo volume. A VW ID.Buzz seria perfeita para isso.
Só que a Volkswagen decidiu que, no Brasil, ela só pode ser assinada. Ou seja, você paga um valor mensal e, depois de um certo tempo, é devolvida. E estamos falando de valores que variam de R$ 12.990 a R$ 17.890 mensais, dependendo da quilometragem e período escolhidos. E esse é praticamente o único problema da tão carismática Kombi elétrica.
Lógico que a ID.Buzz é uma homenagem a Kombi, não uma nova geração. A plataforma MEB foi desenvolvida para boa parte das marcas do grupo e permite que a ID.Buzz tenha diversos assistentes de condução avançados, além do projeto que dispensa o motor a combustão e está preparado para baterias em posição central no assoalho.
Com seus 4.712 mm de comprimento, engana nas fotos. É grande, com 1.985 mm de largura e 1.927 mm de altura, o que exige um certo costume para dirigir principalmente em ruas mais estreitas e trânsito pesado e tomar muito cuidado na hora de entrar em estacionamentos cobertos. Só que os 2.989 mm de entre-eixos são bem aproveitados e aposto que nenhum carro te dará o espaço que a ID.Buzz tem.
Apesar da preparação para três fileiras, a ID. Buzz chegou com cinco lugares, muito bem aproveitados em todos os sentidos, seja ombros, pernas e cabeça. O formato clássico de "pão de forma" permite um aproveitando exemplar do interior e, de quebra, um porta-malas de 1.121 litros que, nesta unidade, contava com um piso elevado para separar as bagagens em dois níveis, se desejar. Para famílias maiores, uma ótima opção, ou para quem faz transporte executivo e quer dar muito conforto aos ocupantes e levar diversas malas.
Em cada porta, uma tomada USB-C está disponível para recarga de smartphones. Para o motorista, duas USB-C estão ao lado do volante, assim como um carregador por indução, além de entre os bancos dianteiros ter uma caixa removível que serve como porta-objetos comum ou para guardar objetos maiores em seu interior. Para os ocupantes traseiros, duas mesas nos encostos dos dianteiros reforçam a proposta familiar da ID.Buzz. Até o engate retrátil vem de série.
A carga tecnológica da ID.Buzz vai muito além da Kombi e até de muitos carros modernos. O painel de instrumentos é uma tela de 5,3" apenas com o necessário, presa na coluna de direção, que não tem aquela folga ou nem de perto a posição de dirigir da clássica Kombi. O sistema multimídia tem a tela flutuante de 12", com espelhamento sem fios para Android Auto e Apple CarPlay, e é a responsável por todos os comandos do carro - barras táteis abaixo regulam volume do som, temperatura do ar-condicionado de duas zonas, e ativam opções como modos de condução (Eco, Normal, Sport e Individual) e assistentes de condução.
O volante e seus comandos táteis são comuns a diversos VW, com acabamento em couro, mas o seletor de marchas na coluna é algo que apenas a ID.Buzz e ID.4 trouxeram ao Brasil, por enquanto. Os LEDs ambientes tem diversas opções de cores selecionáveis e o acabamento, apesar de todo em plástico com apliques emborrachados ou tecidos, é bem feito, com toques de alumínio e simulação de madeira.
Sem um seletor de marchas no assoalho ou console central, livra um espaço que, com o piso plano, amplia ainda mais a sensação de espaço entre os bancos dianteiros. A posição de dirigir é como em uma cadeira, com regulagens elétricas para o motorista, e não esconde que você está dirigindo uma van, sem tentar parecer um carro normal. É cômoda e confortável, além da grande área envidraçada, o que é bom para o uso diário na cidade.
Até quem não é tão ligado ao mercado de automóveis não consegue passar pela ID.Buzz sem olhar. Além do formato, basta procurar que ela mostra que a Kombi foi sua inspiração, como as peças que simulam as entradas de ar na última coluna. As portas laterais são corrediças, com abertura elétrica, e fitas estão nas colunas B e na tampa do porta-malas, também elétrica, para remeter ao passado.
A ID.Buzz é carismática demais. Para entrar, percebe-se que é alta pois, no assoalho, a engenharia encaixou as baterias, com 77 kWh úteis (82 kWh brutos), que alimentam o motor traseiro com 204 cv (150 kW) e 31,6 kgfm de torque. É um conjunto que leva 2.200 kg, aliviados por peças como a tampa traseira e o capô, se assim podemos chamá-lo, em plástico. A recarga pode ser de até 11kW em AC e bons 170 kW em DC, número difícil de conseguir pelos carregadores rápidos brasileiros.
Desde o momento em que precisamos subir um degrau para entrar na ID.Buzz percebe-se algo diferente. No mundo dos SUVs, é diferente dirigir por aí, apesar de não ser a mesma coisa da clássica Kombi. Além das respostas conhecidas de um carro elétrico, a ID.Buzz é bem estável para a sua altura, muito pelo centro de gravidade mais baixo pelas baterias no assoalho, mas não se comporta como um carro baixo ou o ID.4, por exemplo. É a dinâmica de uma van, um pouco melhorada.
A suspensão reclama um pouco em pisos mais judiados das grandes cidades, principalmente por não ser um carro tropicalizado e acostumado ao piso europeu, e que acaba pulando demais em algumas situações. É firme para não ser insegura com sua carroceria alta e, mesmo provocada, tem uma rolagem bem contida, apesar de mais uma vez, não ser conduzida como um carro ou SUV normal.
A grande área envidraçada e um ângulo de terço bem generoso ajudam a manobrar a ID.Buzz e o uso principalmente urbano. Em autonomia, registramos uma média de 4,4 km/kWh na cidade, ou uma autonomia de cerca de 339 km - como já disse, é um carro pesado e que, para sair da inércia, precisa de uma boa quantidade de energia, mas que tem regeneração automática usando câmeras e radares dos assistentes de condução e uma boa rolagem quando se tira o pé do acelerador.
Essa rolagem e regeneração ajudaram bastante a ID.Buzz a não ter números piores de eficiência. O modo B na transmissão até está presente, mas o modo automático percebe carros na frente ou situações onde ela pode reduzir a velocidade e recuperar energia sem intervenção do motorista. Piloto automático e assistente de tráfego também conseguem entrar nesse esquema em busca de uma boa autonomia.
Incontáveis pessoas me abordaram para perguntar da ID.Buzz. E em comum, ficaram desapontados quando revelei que ela só poderia ser alugada. Há quem diga que, pelo carisma e história da Kombi, pagariam para levá-la para casa no lugar de algum SUV elétrico premium e, os conhecendo, acredito.
A VW trouxe 70 unidades, importadas da Alemanha. Algumas empresas já importaram a ID.Buzz de forma independente e cobram até mais que R$ 800 mil por ela - preço que o próprio CEO da VW, Ciro Possobom, disse que é bem alto, sugerindo que a ID.Buzz poderia custar menos que isso se fosse realmente vendida para o público.
A Volkswagen tem a oportunidade nas mãos. Mesmo que cobrasse um valor relativamente alto, a ID.Buzz conquistaria por não ser um carro comum e, para um cliente premium, isso daria bons pontos pela experiência. O fator exclusividade e suas particularidades tirariam clientes de SUVs elétricos premium e a ID.Buzz tem qualidades para isso, como a tecnologia embarcada e espaço interno. Se eu que passei alguns dias com ela, sem pagar por isso, já não gostei de devolver, quem dirá os que alugaram por alguns anos. Ela cria um certo apego difícil de explicar.
Fotos: Mario Villaescusa (para o InsideEVs/Motor1.com Brasil)
VW ID.Buzz EV
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