O mercado de carros elétricos ainda é tão recente no Brasil que nem mesmo as montadoras conseguem precificar seus modelos com total certeza. A Renault apresentou o Megane E-Tech a R$ 280 mil, um valor que apagou um pouco a estreia de um carro muito bom que pesou na etiqueta. Entre diversos fatores, a chegada do Volvo EX30 fez a marca francesa pensar bem sobre seu carro.
Como? A Volvo trouxe o EX30 com um preço inicial de R$ 229.950, hoje o carro premium mais barato que você pode colocar na garagem. Como a Renault reagiu a com isso? Ao anunciar o Megane E-Tech a R$ 199.990, um valor bem mais atrativo e que colocam os dois elétricos na rota de colisão pelo mesmo comprador. Mas já parou para pensar qual levar?
Afinal, eles são carros bem semelhantes. Para começar, ambos tem cerca de 4,20 m de comprimento e se beneficiam de plataformas desenvolvidas para elétricos, sem a preocupação com motores a combustão, transmissão ou sistemas de escape, para beneficiar o entre-eixos mais longo, com 2.650 mm no Volvo e 2.685 mm no Renault. Altura e largura também ficam na mesma média.
O que pode separar os compradores é o visual. O Volvo está em um lado mais limpo, sem muitos ângulos e linhas. A versão Core usa rodas de 18" que parecem até pequenas nessa grande caixa de roda, além de ter as maçanetas tradicionais e sem qualquer coisa que pareça uma grade dianteira, só uma inferior. O Megane é mais futurista, com maçanetas embutidas, LEDs que fazem um show quando se destrava o carro e vidros laterais menores, um jeito mais esportivo. As rodas também são de 18" com os exóticos pneus 195/60. Na rua, o Renault chama mais atenção.
Ambos usam um motor elétrico. No Volvo EX30, ele está instalado no eixo traseiro e tem 272 cv e 35 kgfm, enquanto o Megane E-Tech o recebeu no eixo dianteiro com 220 cv e 30,6 kgfm. Só que se escolher o EX30 de R$ 229.950, levará uma bateria de LFP (lítio-fosfato-ferro) com 51 kWh (49 kWh úteis), enquanto o Megane tem 65 kWh (60 kWh úteis) - pague R$ 20 mil a mais e o Volvo recebe bateria de NMC (lítio-manganês-cobalto), mesma composição do Megane, com 69 kWh (64 kWh úteis).
O pacote de equipamentos também segue bem parecida. Entre os principais, temos piloto automático adaptativo, alerta de colisão com frenagem automática, sistema multimídia com Apple CayPlay e Android Auto, ar-condicionado automático, assistente de faixas e alerta de ponto-cego.
Enquanto a Renault trouxe o Megane E-Tech como seu modelo topo no Brasil, o Volvo EX30 é um carro de entrada da sueca, principalmente nesta versão Core. Então percebemos essas simplificações no Volvo, enquanto o Renault procura se mostrar ao máximo, mesmo que a versão brasileira não seja a mais completa disponível na Europa. Isso fica bem claro no interior e na usabilidade.
O EX30 trouxe uma arquitetura simplificada. Não há um painel de instrumentos, que foi integrado ao sistema multimídia em uma única tela central. A marca sueca também colocou os comandos dos vidros elétricos no console central e vai para um lado mais simplista e limpo, que inclui os materiais reciclados nos acabamentos, como plásticos e tecidos. Até a chave é um cartão que é colocada no console para liberar o carro, que nem botão de partida tem.
Isso até tem uma ligação com o que muita gente pensa sobre o minimalismo no luxo, mas chega a ser um pouco exagerado. Ao lado do Megane E-Tech, mesmo não sendo de uma marca premium, o francês impressiona bem mais tanto com design quanto materiais, como a boa escolha dos plásticos e o revestimento em tecido cinza. O volante tem a parte superior maior para dar visualização ao painel de 12,3" de alta resolução e completo em informações.
A tela multimídia tem 9" com espelhamentos sem fios. O Volvo espelha Apple CarPlay sem fios e tem o Google Built-In, sistema operacional Google que funciona como um tablet com os aplicativos logados, como de navegação e streaming de músicas - a vantagem neste caso é a integração da navegação com o carro, como previsão de autonomia e pontos de recarga.
A usabilidade do Volvo exige adaptações. Como todos os comandos estão na tela central, até mesmo regular retrovisores, faróis e afins tem que passar por ela. O Megane é tradicional, com os botões inclusive para o ar-condicionado automático de duas zonas, e uma chave que parece um cartão como os Renault usam há anos, com um botão de partida. Outra coisa em comum é o seletor de marchas na coluna de direção para liberar espaço no console central.
Temos dois bons elétricos aqui. O EX30 é mais potente, mas mais pesado que o Megane E-Tech, mas não o suficiente para perder na relação peso/potência - são 6,7 kg/cv e 52,2 kg/kgfm contra 7,6 kg/cv e 54,9 kg/kgfm - e por isso ele é mais rápido em todos os testes de desempenho. Se isso é o importante pra você, pode parar por aqui que você elegeu seu carro para acelerar em linha reta.
O Megane E-Tech tem o seletor de modos de condução ausente no Volvo. Há muito tempo apresentando carros elétricos, a marca francesa conhece melhor esse segmento e tem uma boa gestão de energia. Na cidade, mesmo com a bateria menor que a do Volvo testado, tem autonomia semelhante por um consumo melhor no ciclo urbano e outra vantagem aparece nos 22 kW em AC, versus os 11 kW do EX30, que é melhor no DC, com 150 kW contra 130 kW.
Em comum, ambos são fáceis de dirigir e disponibilizam a força de forma suave e gradual pelo acelerador. Não há um exagero na entrega e facilmente encontramos carros tranquilos de dirigir, sem aquela aceleração que assusta, mas com o suficiente para o dia a dia e, se precisar, pegar estrada mesmo carregados. É a vantagem de ter duas marcas que sabem fazer carros há muitas décadas.
Indo além, o Renault é melhor resolvido em uso. A suspensão reclama menos em ruas esburacadas e a carroceria é mais estável, dobrando menos em curvas e mudanças de trajetória rápida. A direção é direta e bem calibrada, enquanto o Volvo bate seco em diversos momentos e não é tão dinâmica e, no dia a dia, o francês é mais refinado ao volante, por incrível que pareça.
Na hora de acomodar ocupantes, o Renault é melhor principalmente no banco traseiro para as pernas. Seu porta-malas é mais amplo, com 440 litros, enquanto o Volvo leva 318 litros, mesmo sendo um carro menor em comprimento, mas nenhum deles tem abertura elétrica da tampa nestas versões.
Você paga pela grife premium do Volvo EX30. Se isso é o que te convence na hora de gastar mais de R$ 200 mil, é o que justifica a sua compra ao lado do Renault além de ser mais potente. Por outro lado, a melhor decisão da marca francesa foi reposicionar o Megane E-Tech ao menos com o pacote que veio, principal ponto para ele ser melhor que o EX30 Core neste comparativo.
Se fosse pelos R$ 280 mil cobrados no lançamento, a briga seria com o EX30 Plus, já mais equipado com muito do que sentimos falta aqui, como o teto panorâmico e porta-malas com abertura elétrica, sistema de som assinado e mais itens de segurança ativa. Apesar do Volvo ter ditado as regras no preço, não é aqui que ele leva o comparativo.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com/InsideEVs)
Renault Mégane E-Tech | Volvo EX30 Core | |
MOTOR ELÉTRICO |
no eixo dianteiro
|
no eixo traseiro
|
POTÊNCIA/TORQUE |
220 cv; 30,6 kgfm
|
272 cv; 35 kgfm
|
TRANSMISSÃO |
automática de marcha única; tração dianteira
|
automática de marcha única; tração traseira
|
SUSPENSÃO E RODAS |
McPherson na dianteira; multilink na traseira; rodas de 18" com pneus 195/60
|
McPherson na dianteira; multilink na traseira; rodas de 18" com pneus 225/55
|
PESO | 1.680 kg em ordem de marcha |
1.830 kg em ordem de marcha
|
DIMENSÕES | comprimento 4.200 mm, largura 1.768 mm, altura 1.519 mm, entre-eixos 2.685 mm; | comprimento 4.233 mm, largura 1.837 mm, altura 1.549 mm, entre-eixos 2.650 mm |
CAPACIDADES | porta-malas 440 litros | porta-malas 318 litros |
BATERIA E RECARGA | 60 kWh (65 kWh brutos); 22 kW (AC) /130 kW (DC) |
64 kWh (69 kWh brutos);
11 kW (AC)/ 153 kW (DC)
|
PREÇO | R$ 279.990 (R$ 199.990 promocional) | R$ 229.950 (R$ 249.950 como testado) |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR | ||
---|---|---|
Renault Mégane E-Tech | Volvo EX30 | |
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 3,8 s | 2,8 s |
0 a 80 km/h | 5,2 s | 4,0 s |
0 a 100 km/h | 7,0 s | 5,6 s |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em S | 4,4 s | 3,7 s |
80 a 120 km/h em S | 4,1 s | 3,8 s |
Autonomia | ||
Ciclo cidade | 6,7 km/kWh (402 km) | 6,3 km/kWh (403 km) |
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