Carros elétricos: benefícios para a saúde pública, economia e meio ambiente
Adoção de veículos elétricos pode economizar bilhões e melhorar a saúde pública até 2050
Enquanto o debate sobre os carros elétricos frequentemente se concentra em seus impactos climáticos, um estudo realizado pelo Departamento de Engenharia Civil e Mineral da Universidade de Toronto (U of T Engineering) revela que a ampla adoção de veículos elétricos (EVs) pode trazer benefícios significativos para a saúde pública, com reflexos econômicos expressivos. Publicada na revista científica PNAS, a pesquisa aponta que esses benefícios podem atingir valores entre 84 e 188 bilhões de dólares até 2050, dependendo da velocidade de eletrificação do setor de transportes e da transição para fontes de energia renováveis.
O estudo enfatiza que, embora os EVs sejam amplamente promovidos por sua contribuição à redução de emissões de CO₂, eles também apresentam benefícios significativos ao diminuir a emissão de outros poluentes nocivos gerados por veículos a combustão interna, como óxidos de nitrogênio, óxidos de enxofre e partículas finas (PM2.5). Esses poluentes têm efeitos locais na saúde, contribuindo para doenças respiratórias, cardiovasculares e até mortes prematuras, especialmente em populações vulneráveis, como aquelas de baixa renda ou marginalizadas.
Os pesquisadores simularam dois cenários principais até o ano de 2050:
- Manutenção do status quo: Veículos elétricos não seriam mais produzidos, mas os veículos a combustão interna seriam gradualmente substituídos por modelos mais eficientes.
- Eletrificação agressiva: A partir de 2035, todos os novos veículos vendidos seriam elétricos.
Cada cenário foi analisado com diferentes ritmos de transição da matriz energética para fontes renováveis, como solar e eólica, ou permanência em níveis atuais de dependência de combustíveis fósseis.
Os resultados demonstram que a adoção agressiva de carros elétricos, combinada com uma matriz energética cada vez mais limpa, é a estratégia mais eficaz para maximizar os benefícios à saúde e minimizar os custos econômicos associados à poluição do ar.
Utilizando modelos amplamente aceitos por epidemiologistas e analistas de políticas públicas, o estudo calculou que os benefícios acumulados de saúde pública poderiam ultrapassar os 188 bilhões de dólares (R$ 1,1 bilhão) em cenários de ampla eletrificação e descarbonização da matriz energética. Mesmo em cenários menos ambiciosos, os ganhos ainda são estimados na casa das dezenas de bilhões de dólares.
Desafios
Embora os EVs não emitam poluentes diretamente, eles podem estar indiretamente associados à poluição, dependendo da fonte de energia utilizada para carregá-los. Por exemplo, usinas de carvão ou gás natural podem transferir a poluição das rodovias para as comunidades próximas a essas instalações. Por isso, a descarbonização do setor energético é crucial para amplificar os benefícios da eletrificação dos transportes.
Nesse aspecto, o Brasil tem uma grande vantagem devido à sua matriz de energia elétrica, que é composta por cerca de 90% de fontes limpas, um percentual significativamente superior à média global. Enquanto isso, muitas grandes economias ainda precisam acelerar a transição para fontes renováveis a fim de alcançar resultados mais efetivos na descarbonização do setor de transportes. Em outras palavras, utilizar um carro elétrico no Brasil é muito mais sustentável em termos de emissões do que na maioria dos países.
Além disso, o estudo ressalta que a modernização contínua dos veículos a combustão interna também contribui para a redução da poluição. No entanto, esses avanços não eliminam os impactos ambientais e de saúde pública associados à emissão de poluentes.
O estudo argumenta que adiar a adoção de carros elétricos até que o setor de energia seja completamente descarbonizado pode ser prejudicial. Isso porque os veículos a combustão vendidos hoje continuarão a circular por décadas, gerando emissões que afetam tanto o clima quanto a saúde pública.
“Precisamos iniciar essa transição agora, pois os veículos vendidos hoje determinarão os níveis de poluição nos próximos anos,” afirma a professora Marianne Hatzopoulou, uma das autoras do estudo.
Os resultados apresentados pela pesquisa reforçam a importância de uma abordagem integrada para reduzir os impactos ambientais e de saúde pública dos transportes. A eletrificação da frota veicular deve ser acompanhada por investimentos em fontes de energia renovável, transporte público e infraestrutura urbana mais sustentável, uma lição válida inclusive para países com matriz energética relativamente mais limpa, como o Brasil.
Fontes: Universidade de Toronto (Departamento de Engenharia Civil e Mineral) / Publicação na revista científica PNAS
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