O Brasil pode se tornar o maior exportador mundial de hidrogênio verde e, assim, resgatar o protagonismo ambiental de outros tempos. Isso em meio a um cenário onde a Europa, sobretudo a Alemanha, busca transformar sua economia ao reduzir a dependência de petróleo, gás e carvão e ao mesmo tempo cumprir as metas de redução de emissões.
O tema ganhou mais repercussão após a publicação do estudo Green Hydrogen Opportunity in Brazil em janeiro, realizado pela Roland Berger. Nele, a consultoria alemã aponta que o Brasil se tornará o principal produtor de hidrogênio verde H2V em um mercado internacional que está despontando por conta das metas climáticas estipuladas pelo Acordo de Paris, em 2015 e o elemento se tornará a principal fonte de energia do planeta.
No entanto, para que se atinjam as metas de globais de descarbonização, nos termos do acordo climático, é necessário que haja um aumento de seis vezes no consumo global de hidrogênio, passando dos atuais 90 milhões de tonelada/ano para 527 milhões de tonelada até 2050.
Primeira molécula de hidrogênio verde em grande escala da América Latina foi inaugurada no Complexo do Pecém, no Ceará, pela EDP
Essa transformação deve movimentar mais de US$ 1 trilhão, sendo que no período o Brasil deve gerar R$ 150 bilhões, sendo R$ 100 bilhões provenientes de exportações, de acordo com as projeções do partner head de Energia da Rolemberg, Jorge Pereira da Costa.
Carro-chefe e maior economia da União Europeia, a Alemanha tem urgência em transformar sua matriz energética, se tornando cada vez menos dependente dos combustíveis fósseis, substituindo, assim, petróleo, gás e carvão mineral pelo hidrogênio para a geração de energia limpa.
Dessa forma, o país europeu assumiu a dianteira no projeto de transição para o uso intensivo do hidrogênio verde: lançou o primeiro edital de compra de insumos verdes do H2V em contratos de 10 anos, segundo Nivalde J. de Castro, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel).
Atualmente, o custo de produção por quilo do hidrogênio verde H2V no mercado internacional, com utilização de fontes renováveis, fica entre US$ 3 e US$ 8. Valor que ficaria na faixa de US$ 2,2 e US$ 5,2 no Brasil, considerando o uso de energia gerada em usinas eólicas ou solares, cada vez mais abundantes no país.
"O Brasil tem tudo para ser a Arábia Saudita do hidrogênio a partir de 2030"
Por fim, o economista ressalta o enorme potencial que o Brasil possui de assumir a liderança mundial em H2V, mas também reforça o desafio de transformar todo esse potencial em realidade.
O Ministério de Minas e Energia (MME) lançou o Programa Nacional de Hidrogênio (PNH2) em julho de 2021, que tem por objetivo criar um plano estratégico nacional para o hidrogênio, tendo como um dos pilares a cooperação internacional.
Nesse sentido, o MME, junto com o Empresa de Pesquisa Energética (EPE), iniciou uma série de estudos e iniciativas de parceria com a Alemanha para desenvolver o mercado de H2V, com destaque para o programa H2 Brasil (German / Brazilian Power-to-X Partnership Program) e a força-tarefa de produção, logística e aplicação do H2V.
A conclusão prévia é de que o país está atrasado nessa 'corrida' e precisa acelerar o passo:
"o aprofundamento do arcabouço técnico, regulatório e tecnológico é imprescindível para a criação de um ambiente de negócios favorável".
O governo atual deixou claro a importância do hidrogênio em diversas ocasiões, incluindo falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e também do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, destacando a necessidade de reindustrialização do país e o papel do hidrogênio verde no cenário de transição energética mundial, bem como as potencialidades do Brasil.
O hidrogênio verde (H2V) é produzido em um processo químico que permite a quebra das moléculas da água em hidrogênio e oxigênio por meio da eletricidade. Dessa forma, ele é feito sem a emissão de carbono e utiliza basicamente fontes de energia renováveis - é o único com produção sustentável e livre de carbono.
No mês passado, foi lançada a primeira molécula de hidrogênio verde em grande escala na América Latina, produzida pela EDP Brasil no Complexo Pecém, no Ceará. Na ocasião, o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que o Brasil vai acelerar o programa de hidrogênio verde:
“Vamos unir o excepcional perfil renovável da nossa matriz elétrica e nosso invejável sistema interligado com a nossa pujante indústria da bioenergia e com a nossa indústria de óleo e gás e sua gigantesca capacidade de inovação e investimento, para fazer do Brasil um dos países mais competitivos na economia do hidrogênio. Não perderemos essa janela de oportunidade”
“Me entusiasma também ver o apetite para investimento em energias limpas de empresas aqui no Brasil. No MME, quero trabalhar em parceria com as empresas, o setor produtivo e os movimentos sociais para garantir o protagonismo do Brasil no desenvolvimento de mercados para tecnologias de baixo carbono”.
A unidade de Hidrogênio Verde (Pecém H2V) recebeu um investimento de R$ 42 milhões para entrar em operação e permitirá à EDP gerar combustível limpo. Contempla uma usina solar com capacidade de 3 MW e um módulo eletrolisador de última geração para produção do combustível com garantia de origem renovável.
A EDP está inserida no projeto do MME e com esta usina piloto poderá analisar a cadeia produtiva do gás, modelos de negócios, parcerias estratégicas com indústrias e adaptações em mobilidade utilizando o hidrogênio. A partir daí, virá a definição das questões regulatórias para viabilizar a comercialização em larga escala, com vistas, principalmente, ao mercado externo.
Fontes: DW, InvesteSP, Portal Hidrogênio Verde, MME
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