Quando se fala de carro elétrico logo vem a pergunta: e a autonomia? Aos poucos essa desconfiança vem sendo quebrada com a disponibilidade de cada vez mais pontos de recarga rápida pelo país, como os disponíveis na via Dutra, estrada que liga São Paulo ao Rio de Janeiro. Para mostrar na prática do que um carro elétrico moderno é capaz, resolvemos colocar o novo JAC IEV60 numa missão que você só verá aqui no InsideEVs: com autonomia de 380 quilômetros, seria possível rodar da capital paulista até a capital fluminense sem recarregar? Venha com a gente e descubra como foi esse teste exclusivo e pioneiro no país.
Lançado na China há cerca de um ano meio, o JAC iEV60 é na verdade a versão elétrica do T6. Classificado como SUV médio em nosso mercado, tem porte praticamente igual ao de um Jeep Compass. É o principal modelo da ofensiva elétrica da marca e irá atuar na faixa de preço da maioria dos carros elétricos disponíveis no país atualmente, ou seja, ao redor dos R$ 200 mil.
O visual externo é conhecido e se diferencia muito pouco em relação ao irmão movido a combustão. A diferença mais notável está da dianteira, com a grade frontal fechada e que abriga o bocal para carregamento das baterias. Na traseira, a harmonia do estilo se mantém com as belas lanternas de LEDs conectadas pelo friso cromado e se diferencia, obviamente, pela ausência das saídas de escape. Medindo 4.410 mm de comprimento, 1.800 mm de largura e com distância entre eixos de 2.620 mm, o SUV recebe bem o motorista e carona com boa ergonomia e fácil acesso a todos os comandos. No banco de trás, o espaço é bom o suficiente para que os passageiros viagem com conforto.
Ponto positivo na cabine é o fato de seguir o mesmo padrão do T60. Basta entrar no carro para ver o quanto a JAC evoluiu nos últimos anos. Nesta versão elétrica, diferencia-se pelo quadro de instrumentos com visual exclusivo, que permite a rápida visualização das informações mais importantes para o gerenciamento da condução, como nível de bateria e intensidade de consumo da energia. Pois é, quem dirige um carro elétrico sabe que precisa gerenciar no pé direito a dosagem de energia para fazer a "bateria render".
A grande tela de 10,25 polegadas continua lá na parte central do painel, mas, como se trata de um modelo de testes da JAC, ainda não foi traduzida para o português, ou seja, está tudo em chinês. Neste nosso primeiro teste, contamos com ajuda do pessoal da engenharia para explorar algumas funções úteis nesta versão elétrica - novamente, como monitorar o consumo, eficiência e ativar o modo Eco, entre muitas outras funcionalidades. Obviamente, os carros para o mercado brasileiro, que chegam no início de 2021, estarão devidamente "falando português".
Em relação aos equipamentos, a lista é farta. De série traz faróis e luzes de rodagem diurna em LED, faróis auxiliares de neblina dianteiro e traseiro, faróis com função de curva, ajuste elétrico de altura do banco do motorista, ar-condicionado, saídas de ar e portas USB para os passageiros traseiros, bancos com revestimento em material sintético, câmera e sensor de ré, controle de cruzeiro, volante multifuncional, teto solar, controles de estabilidade e tração, entre outros - a lista oficial e demais detalhes serão detalhados na apresentação oficial, prevista para o fim do ano.
A grande estrela do novo iEV60 é seu coração. Estamos falando de uma unidade elétrica que entrega 110 kW (150 cv) de potência e 33,6 kgfm de torque em qualquer rotação. Esse sistema é alimentado por uma bateria de íons de lítio de 63 kWh com sistema de refrigeração líquida (mais eficiente). O SUV elétrico está homologado para 380 km de autonomia com uma única carga.
O painel indicava autonomia de 399 km e a distância a ser percorrida era de 406 km, tendo como destino uma concessionária da JAC localizada na zona norte da capital fluminense. Parecia arriscado, mas o objetivo era aproveitar ao máximo o sistema de recuperação de energia através da frenagem, o que, teoricamente, daria um aumento da ordem de 10% a 20% no alcance, segundo estimativas da própria marca.
Era uma manhã cinza de quarta-feira quando saímos de São Paulo rumo ao Rio de Janeiro com o iEV60. Partindo da zona norte da capital paulista, acessamos a rodovia Presidente Dutra (BR-116). Como o trânsito estava fluindo bem (coisa impensável em São Paulo não fosse a pandemia), resolvi conduzir o iEV60 com moderação, sem pisar fundo. No início, a média foi de 80 km/h - primeiro porque o fluxo estava bastante intenso nos primeiros 100 quilômetros saindo de SP e também para poupar energia considerando a ausência de uma margem de segurança na autonomia restante.
Esse primeiro trecho foi bem positivo. Passados os primeiros 100 quilômetros, o gerenciamento de energia indicava 80% da carga, o que ainda assim, em teoria, estaria num limite perigoso para cumprir o desafio. As coisas começaram a melhorar a partir dos quilômetros seguintes, principalmente no trecho após Taubaté. Desde então, tanto o consumo (medido em kWh) quanto a autonomia restante foram ficando mais otimistas, o que diminuiu um pouco a preocupação e permitiu uma velocidade média um pouco mais alta, em torno dos 90 km/h.
Ao fazer a única parada da viagem próximo à divisa SP/RJ, já havíamos percorrido 212 km, enquanto a autonomia indicava 222 km restantes. Ou seja, neste momento ainda faltavam 194 km para chegar no Rio. Isso me deu ainda mais tranquilidade para continuar a viagem, praticamente sem a preocupação de não conseguir chegar ao destino. Seguindo o nosso teste, cerca de 80 quilômetros adiante, chegava o momento de encarar a Serra das Araras, um trecho de 9 km de descida íngreme e sinuosa. Era parte da estratégia aproveitar essa serra para recuperar um pouco de energia, além de entender a dinâmica do iEV60 nas curvas acentuadas. Fiquei surpreso com o comportamento do carro, mostrando ser um pouco mais assentado e com menos rolagem que o irmão a combustão, mérito da suspensão mais firme e do centro de gravidade mais baixo. A direção bem calibrada também contribuiu para a boa impressão.
Após o fim do trecho de serra (saindo de 450 metros de altitude em relação ao nível do mar para apenas 70 metros), um dado interessante: a autonomia, que era de 99 km no início da serra, aumentou para 102 km. Em termos práticos, percorremos 9 quilômetros e ganhamos 13 km de autonomia. Ponto para o sistema de regeneração de energia.
O último trecho de menos de 100 km foi concluído sem preocupações, mantendo velocidade entre 90 km e 110 km. Mas pegamos tráfego um tanto congestionado na Avenida Brasil, entrada do Rio de Janeiro. Menos mal que neste ponto do teste já não havia mais preocupação alguma coma a autonomia. O SUV elétrico consume pouco em baixas velocidades e os números indicavam que a viagem seria concluída sem problemas. E foi. Chegamos ao destino após 406 km percorridos e ainda restavam 7% de carga das baterias. Missão cumprida!
Em termos de consumo, concluímos a primeira metade do trajeto com a excelente marca de 12,8 kWh/100 km. Na segunda parte da viagem (menos preocupado com a possibilidade de não chegar ao destino) a tocada foi um pouquinho mais rápida e a média ficou em 14 kWh/100 km, ainda assim um bom número para a bateria que possui capacidade total de 63 kWh.
Gostei bastante do desempenho, um dos pontos altos do iEV60. graças ao elevado torque de 33,6 kgfm disponível em toda a faixa de rotação. No entanto, como o objetivo era chegar ao destino com um baixo consumo de energia, a potência do SUV não chegou a ser explorada durante a viagem, a não ser em algumas retomadas e subidas mais acentuadas, as quais o iEV60 superou sem tomar conhecimento.
Após a viagem para o RJ, avaliamos o carro na cidade para entender seu uso cotidiano. Quem vive em uma metrópole como São Paulo sabe que o trânsito muda a cada instante e, por isso, embora a velocidade máxima não seja um fator determinante, a agilidade nas arrancadas conta muito no trânsito. Logo de cara, a forte arrancada chama a atenção. Basta encostar o pé no acelerador que o todo o torque já está ali disponível. A JAC divulga que a aceleração de 0 a 100 km/h é feita em 7,9 segundos, o que é condizente com a sensação ao arrancar com o SUV - e um número que o coloca no nível de um carro a combustão com pegada esportiva. Após a chegada do iEV60 nacional, levaremos o SUV para a pista e colocaremos estes números à prova.
No entanto, apesar de toda essa força disponível, o compromisso do iEV60, assim como a maioria dos carros elétricos, é com a eficiência. Como sobra potência, ele vai muito além de apenas acompanhar o fluxo, seja na cidade ou estrada, e mesmo assim sem gastar muito. E com o tempo você se acostuma a fazer o uso mais inteligente do carro, conciliando desempenho mais que satisfatório com baixo consumo de energia. E nesse ponto o sistema de regeneração é fundamental, tanto quanto o fato de saber aproveitá-lo cada vez melhor.
O iEV60 possui também o modo ECO, que pode ser ativado ou desativado pelo menu na tela central. Na cidade ele faz mais sentido, porque atua em baixas velocidades no anda e para do trânsito pesado. Na prática, você "sente" o sistema de regeneração com o freio sendo acionado assim que solta o pé do acelerador, exigindo menos pisadas no pedal para essa finalidade - durante a viagem para o RJ não usamos esta opção para deixar o carro "mais solto" e aproveitar melhor as descidas.
Questões técnicas à parte, o iEV60 agradou na condução urbana por sua agilidade, eficiência e possibilidade de rodar mais 400 km gastando pouca energia (dá pra alcançar a média de 14 kWh sem problemas). O comportamento dinâmico é ponto alto em relação ao modelo a combustão. Outro ponto a ser destacado é o sistema de freios a disco nas quatro rodas, eficiente em sua dupla função: frenagem e regeneração. Um dos pontos que precisam ser corrigidos, além da tradução da central multimídia, é um ajuste fino da suspensão (lembrando que dirigimos a versão chinesa) para evitar batidas secas ao passar mais rápido em lombadas e valetas, além de um tratamento acústico mais elaborado para vias de pavimento ruim.
O JAC iEV60 já pode ser encomendado no Brasil por R$ 210.000, mas a JAC diz que as primeiras entregas só vão começar em fevereiro de 2021. O SUV elétrico estava previsto para agosto/setembro, mas a pandemia atrasou os planos do Grupo SHC, que representa a marca chinesa no Brasil.
O mercado de elétricos ainda é restrito a poucas opções no mercado brasileiro, então não dá pra cravar um rival direto para o iEV60, mas a JAC acredita que logo ele será o o principal modelo da empresa, tornando-se o modelo elétrico mais vendido da marca no país.
A JAC também já trabalha nos planos de revisão de sua gama de elétricos para ter preços convidativos. Fato inédito é a tabela de preços única para toda a gama de elétricos. Tanto no iEV20 como nos maiores iEV40 e iEV60, os preços de revisão serão os mesmos, começando em R$ 59,90 na primeira aos 10.000 km. Para um ciclo completo, até os 60.000 km, o valor total gasto será de apenas R$ 739,40.
O iEV60 já está disponível no site da marca para encomendas, mas a apresentação oficial com a divulgação de todas as especificações técnicas e apresentação para a imprensa ocorrerá até o fim do ano.
Fotos: divulgação e autor
Ficha técnica: JAC iEV60
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