Você já viu pelas ruas uma pequena van de entregas 100% elétrica de uma tal de BYD? Essa "tal BYD" tem inclusive fábricas de chassis de ônibus elétrico em Campinas (SP) desde 2015 e até uma fábrica de baterias em Manaus (AM). Mas agora ela quer entrar no segmento de automóveis de passeio, e com algo forte: o SUV Tan, 100% elétrico que quer atacar...BMW, Audi, Porsche, Mercedes-Benz e até mesmo Toyota SW4.
Uma marca chinesa atacando as premium? Pois é, uma árdua batalha com um SUV de 7 lugares, lotado de tecnologias, multimídia maior que muita TV, mais de 500 cv e mais de 400 km de autonomia. Um novato que chega armado, mas que está entrando em uma batalha pesada, onde o nome conta muito: preços entre R$ 400 mil e R$ 500 mil.
O que é?
A BYD está batizando seus carros com nomes de dinastias chinesas, mas se quiser saber mais sobre isso, procure no Google. O carro em si impressiona pelo design, assinado por um ex-Head de design da Audi por fora e da Mercedes-Benz no interior. É bonito, apesar de uma mistura de coisas que parecemos conhecer - mas isso não é mais exclusividade dos chineses. Precisava do "Build Your Dreams" na traseira? Não, apesar de ser o significado de BYD.
As rodas de 22" estão com pneus 265/40 R22 da Continental. Os freios são de 6 pistões da Brembo. O sistema de som é assinado pela Dirac. Usando muitas marcas conhecidas, o BYD Tan ganha força no mercado premium. A montagem tanto do interior quanto da carroceria é boa, como esperado de qualquer carro de marcas mais tradicionais.
O BYD Tan tem 2 motores elétricos, um em cada eixo. O dianteiro tem 245 cv e 33,7 kgfm de torque, enquanto o traseiro tem 272 cv e 35,7 kgfm - combinados, são 517 cv e 69,3 kgfm. As baterias são diferentes do que normalmente encontramos nos carros elétricos. No lugar do sistema Íons de Lítio, temos as baterias de lítio-ferro-fosfato, no formato Batery Blade - lâminas que tem função estrutural e são mais seguras a incêndio em impactos.
Mas nem tudo são flores: esse tipo de bateria tem uma densidade menor de carga que a de Lítio. São 86,4 kWh em cerca de 700 kg - o Audi e-tron tem o mesmo peso, mas uma capacidade de 95 Kwh. Mesmo assim, o BYD Tan está homologado no Brasil com 472 km de autonomia na cidade, 395 km na estrada e 437 km no misto, pelo Inmetro. A recarga pode ser feita em pontos DC, indo de 30 a 80% em 30 minutos a uma rede AC de 7 kW de 0 a 100% em 15 horas.
Para impactar, a BYD trabalhou bastante no interior do Tan - que em outros mercados se chama Tang. Os materiais são bons e não devem nada a outras marcas, com uso de Alcantara, painel de instrumentos totalmente digital (que a própria BYD produz) e a impressionante tela de 15,6" que pode ser vertical ou horizontal a um toque de botão no volante ou na própria tela. É estranho e legal ao mesmo tempo.
É um SUV de 4,87 m de comprimento e 2,82 m de comprimento. Tem amplo espaço interno, piso plano e até que um bom espaço na terceira fileira, mas é o de sempre: não ache que cabe pessoas altas por muito tempo ali. No porta-malas, 235 litros com 7 lugares e 940 litros com a terceira fileira guardada sob o assoalho.
Lotado de tecnologias, o BYD Tan está alinhado ao mercado premium neste quesito: pode ser aberto pelo smartphone via NFC, porta-malas elétrico com abertura por movimentos dos pés, 6 câmeras com efeito 3D e gravação de condução interna e externa, piloto automático adaptativo, assistente de faixa, alerta de colisão com frenagem automática, alerta de ponto-cego, alerta de tráfego cruzado e mais. Complementa com itens como teto-solar panorâmico e LEDs internos.
Como anda?
O nosso contato com o BYD Tang foi curto. Alguns minutos com o SUV no Haras Tuiuti, uma pista que conhecemos bem, com traçado bem travado e duas boas retas. Não é o melhor ambiente para um SUV de 2.479 kg, apesar dos seus mais de 500 cv. Mas já vale como um primeiro contato com a novidade que quer seu espaço entre os premium.
De fato, o acabamento e design do interior do Tan estão em um bom patamar. Não devem a modelos mais tradicionais. O volante de dois raios é grande, condiz com a proposta de luxo e conforto, e os bancos ajudam a se posicionar bem. É realmente espaçoso, sem economias. A alavanca de câmbio é pequena, mas fácil de usar. Abaixo, um seletor de modos de condução varia entre Sport e Eco, e um controle para usar em pisos escorregadios muda até o painel de instrumentos.
Andando "normal", o Tan é suave. Tem a entrega de torque de um elétrico, mas amansada nesta modo. O acelerador responde sem dificuldades ou delays, a direção é leve e a suspensão, ao menos na pista, se mostrou mais focada em conforto que dinâmica. Chega a ser um pouco indireta, mas não vai incomodar a não ser que você tenha um Audi ou BMW. Gostaria de ver como a suspensão se comporta no nosso asfalto, mas ficará para uma oportunidade futura - espero que breve. A regeneração de energia pode ser regulada por um painel no console central.
No Sport, ele chega aos 100 km/h em menos de 5 segundos - tem até cronômetro - e limitado a 180 km/h. A eletrônica é um pouco "desesperada", cortando a força dos motores em qualquer curva mais fechada, mesmo que não seja de risco. A direção ainda não ganha tanto peso e comunicação, mas faz o serviço. A suspensão é realmente focada em conforto. Nas retas, respostas de esportivo. Nas curvas, um SUV de 7 lugares tradicional para levar a família. Tem as sensações de um elétrico, como o torque instantâneo, mas seu forte é, até o momento, o conforto.
Quanto custa?
Segundo a BYD, o Tan custará "entre R$ 400 mil e R$ 500 mil". Se podemos chutar, mais especificamente perto dos R$ 450 mil. Está de olho nos Audi e-tron, Mercedes-Benz EQC, Porsche Cayenne, Volvo XC90 e até mesmo o Toyota SW4. A maior questão? Não é o carro, pelo contrário.
Um bom carro, o BYD Tan vai ter que enfrentar o preconceito do mercado, principalmente quando falamos em premium e a força de "branding". Nova e chinesa, a BYD baterá com um mercado que não teve boas experiência no passado com modelos deste país, apesar da já sabida evolução que tivemos nos últimos anos, principalmente elétricos. Para isso, a empresa aposta desde concessionárias em grupos que já possuem marcas premium até lojas em áreas nobres das grandes capitais. Será que está na hora de aceitarmos os chineses no mundo premium? Talvez.