No final de junho, a Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) enviou uma carta para o governo pedindo que o cronograma linear de aumento do imposto de importação para carros elétricos e híbridos seja descartado e que a alíquota seja elevada imediatamente para 35%. O pedido não envolvia apenas o imposto, como também a adoção de uma cota de importação por empresa, com um “volume médio de 4.800 veículos eletrificados por ano.”
As informações são do site AutoIndústria, que acessou o conteúdo da carta através de uma fonte ligada a Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). O pedido da Anfavea é que o sistema de cotas para a importação de carros elétricos e híbridos seja alterado, abandonando a regra atual que define que a cota seja proporcionalmente maior para quem importou e emplacou mais veículos eletrificados no Brasil entre janeiro e novembro de 2023. As cotas deverão crescer para o ano que vem por conta do aumento nas vendas deste ano, e é isso que a Anfavea quer barrar.
O argumento da associação das fabricantes é que as vendas dos carros importados chineses cresceram 500% este ano e isto é uma ameaça ao investimento das empresas do setor que já produzem no Brasil, que anunciaram R$ 130 bilhões de aporte. É uma ameaça comum da Anfavea, que sempre afirma que os investimentos podem ser revistos ou até cancelados, afetando empregos e a economia nacional.
“Nesse sentido, solicitamos o aumento imediato de Imposto de Importação a 35% para todos os veículos, com estabelecimento simultâneo de cota de importação linear por empresa, no volume médio de 4.800 veículos/ano, e que detenham ato de registro de Compromisso em conformidade com o Programa Mover”, diz a Anfavea no documento, assinado por Márcio de Lima Leite, presidente da associação, e por Igor Calvet, diretor executivo.
As vendas de carros eletrificados no 1º semestre de 2024 cresceram 724% em comparação ao ano anterior. A BYD tem 41,05% de participação entre elétricos e híbridos, seguida pela GWM com 16,05%. Das fabricantes com produção nacional, a única com um resultado mais expressivo é a Toyota, que tem 13,29% do mercado. O BYD Dolphin Mini chegou a emplacar mais do que alguns hatchbacks tradicionais como Peugeot 208 e Citroën C3 durante a entrega das unidades reservadas na pré-venda, enquanto o GWM Haval H6 está constantemente na 3ª posição entre os SUVs médios.
A cota de 4.800 unidades afetará diretamente a BYD e GWM, que emplacaram 32.561 e 12.731 unidades no 1º semestre, respectivamente. A Volvo também acabaria sofrendo com esta mudança, pois vendeu 4.119 veículos na primeira metade de 2024. A Caoa Chery, com 5.129 carros eletrificados vendidos entre janeiro e junho, seria outra a ultrapassar o limite, porém a empresa está preparando-se para produzir o Tiggo 8 PHEV em Anápolis (GO), o que reduziria o volume consideravelmente.
A situação é uma repetição do que aconteceu em 2011, quando o governo anunciou o chamado “Super IPI” de 30% para carros importados, atendendo um pedido das fabricantes nacionais para barrar a “invasão chinesa”, na época simbolizada por JAC Motors, Chery e Lifan – e que acabou afetando outras marcas, como Kia. A medida protecionista derrubou as vendas de importados na época e acabou com os planos da Kia e JAC de erguer fábricas no país, por terem não terem mais um volume de vendas grande o suficiente para custear o investimento.
Na última edição do Motor1.com Podcast, abordamos como a Anfavea e, principalmente, a Stellantis estão constantemente trabalhando para barrar a chegada de tecnologias inovadoras que estão sendo trazidas pelas chinesas - e que não possuem equivalente de produção nacional - enquanto as marcas aqui instaladas seguem um ritmo lento de inovação.
Fonte: AutoIndústria
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