Híbrido-leve: Híbrido de verdade ou apenas um paliativo?
Entenda as vantagens e desvantagens por traz dos modelos MHEV, que vão ganhar muito espaço no mercado
Você sabia que o Renault Kwid é oficialmente um SUV? Embora isso possa soar estranho para alguns, o modelo atende a critérios específicos de proporções e altura do solo que permitem enquadrá-lo nesse segmento. Ou seja, mesmo sem capacidades off-road ou tração 4x4, ele se enquadra tecnicamente com os requisitos mínimos para ser classificado como SUV.
Com os híbridos-leves é basicamente a mesma coisa: eles são classificados como veículos eletrificados pela legislação por atenderem a critérios técnicos mínimos. Na prática, como jogada de marketing, as montadoras simplesmente eliminam o termo "leve" e usar a expressão "Híbrido" e isso pode causar confusões e até frustrações por parte do consumidor.
Híbridos-leves são híbridos de verdade?
Nos últimos anos, a demanda por veículos mais econômicos e sustentáveis tem aumentado consideravelmente, impulsionada, também pelo aumento dos preços dos combustíveis. Como resultado, muitas montadoras têm investido em tecnologias eletrificadas que combinam propulsão elétrica com propulsão oriunda de motores a combustão. Mas e os híbridos-leves (MHEV) são o quê nessa história?
O que é um Híbrido-leve?
A sigla MHEV vem de Mild Hybrid Electric Vehicle (Veículo Elétrico Híbrido Leve) e descreve um tipo de veículo híbrido que é menos complexo do que os híbridos convencionais (HEV) ou os híbridos plug-in (PHEV). O híbrido leve é uma solução primária e mais básica entre os carros com motor de combustão interna tradicional e os híbridos completos, oferecendo um sistema elétrico simples e acessível. Ele é mais barato de produzir do que os híbridos completos, pois não exige componentes tão sofisticados, como um motor elétrico tradicional ou uma bateria de grande capacidade.
No MHEV, o principal componente do sistema híbrido é uma bateria pequena associada a um gerador elétrico. Esse gerador substitui o motor de partida e o alternador convencionais, atuando como um "minimotor". Os sistemas mais eficientes, acumula energia durante a frenagem (recuperação de energia cinética) e usa essa energia para ajudar a ligar o motor de combustão, alimentar os equipamentos de bordo e fornecer um pequeno aumento de torque durante acelerações rápidas. O sistema é gerenciado por um computador de bordo, que otimiza o uso da energia.
Os veículos MHEV têm como objetivo reduzir o consumo de combustível e as emissões de CO2. Eles não oferecem uma experiência de condução completamente elétrica, mas ajudam a aliviar o motor de combustão interna, o que pode resultar em uma redução no consumo de combustível de cerca de 5% a 15%, dependendo do modelo. Essa economia é particularmente perceptível durante a condução urbana, onde há paradas e partidas frequentes, uma situação onde os híbridos leves se saem melhor.
Porém, como o MHEV não possui um motor elétrico de tração, como os HEVs ou PHEVs, ele não pode ser considerado um "híbrido completo". O veículo ainda depende do motor de combustão para se mover, com o sistema elétrico apenas dando suporte ao motor tradicional, especialmente em momentos de alta carga ou baixa eficiência. Isso significa que o MHEV não oferece a possibilidade de condução elétrica exclusiva por alguns quilômetros, como acontece com os híbridos completos.
A Expansão dos Híbridos-Leves (MHEV)
No Brasil, os modelos híbridos-leves (MHEV) vêm ganhando espaço no mercado. Em novembro de 2024, os micro-híbridos representaram 11,2% das vendas do segmento de eletrificados, superando até os tradicionais híbridos HEV flex (9,1%).
Esse crescimento se deve ao fato de ser uma solução técnica extremamente simples e muito mais barata do que uma tecnologia "híbrida completa". O crescimento dos híbridos-leve será exponencial nos próximos anos e atingirá a grande maioria dos carros produzidos no Brasil, principalmente por conta dos incentivos previstos no Mover para as montadoras.
Híbrido-leve é híbrido ou não?
Embora os veículos com esse nível de tecnologia atendam a critérios da legislação para serem classificados como veículos híbridos-leves, o grau de eletrificação deles é bastante limitado. O sistema elétrico desses veículos não é capaz de mover o carro de forma independente, o que significa que eles não contribuem de forma significativa para a descarbonização da matriz de transporte.
Nessa linha, a questão que muitos especialistas levantam é se, de fato, o MHEV oferece uma experiência de direção que justifique a classificação de veículo híbrido. Se considerarmos que o sistema híbrido-leve não é capaz de prover propulsão apenas com o motor elétrico, na combinação do elétrico com a combustão ou ainda escolher entre elétrico e/ou combustão, daí o termo híbrido (elétrico e/ou combustão), é incorreto dizer que um veículo híbrido-leve é "híbrido".
Exemplos de consumos: MHEV vs HEV
Fiat Pulse Hybrid (MHEV) | Toyota Corolla Hybrid (HEV) | |
Consumo urbano (etanol) | 9,3 km/l | 12,8 km/l |
Consumo rodoviário (etanol) | 10,2 km/l | 11,1 km/l |
Consumo urbano (gasolina) | 13,4 km/l | 18,5 km/l |
Consumo rodoviário (gasolina) | 14,4 km/l | 15,7 km/l |
Conclusão
Os veículos híbridos-leves (MHEV) são eletrificados que oferecem ganhos modestos de consumo, com uma média de redução de 10% nas emissões em comparação aos veículos tradicionais com motor de combustão. No entanto, eles não proporcionam a experiência completa de um carro híbrido, já que não conseguem rodar de forma 100% elétrica nem atingem as médias de consumo mais vantajosas, que são possíveis apenas com veículos HEV (híbridos convencionais).
Se você está na dúvida se um veículo pode ser considerado híbrido, basta verificar se ele é capaz de roda no modo elétrico apenas ou na combinação de ambos. Se o sistema não for capaz de tracionar as rodas por alguns quilômetros em modo puramente elétrico, NÃO é híbrido.
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