Nos últimos meses, temos visto uma mudança de posicionamento de muitos membros da indústria automotiva. Até o ano passado havia uma certa disputa entre quem defende o etanol como uma solução para a descarbonização; e quem acredita que devemos seguir a tendência mundial e ter somente elétricos. Hoje, há um consenso de que as duas opções devem conviver para que o Brasil consiga atender as metas globais de descarbonização.

Um grande exemplo deste posicionamento é o da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). Ricardo Bastos, presidente da associação, deu uma palestra durante o Electric Days Brasil 2023 sobre as novas oportunidades de negócios da mobilidade elétrica e deixou bem claro o posicionamento de defender a eletrificação de todas as formas, sejam motores híbridos flex ou carros 100% elétricos, ou até mesmo o hidrogênio verde. “Somos contra proibir motores a combustão”, esclarece Bastos, ao falar sobre o posicionamento da ABVE de não escolher tecnologia na defesa pela eletromobilidade.

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Vendas de híbridos, híbridos plug-in e elétricos hoje contabilizam 26.014 unidades, caminhando para superar o resultado de 2022, quando 49.245 unidades foram emplacadas. Desde 2012, quando os primeiros elétricos e híbridos chegaram ao Brasil, ainda que para projetos especiais como os Toyota Prius e Nissan Leaf usados como taxi, o país soma 152.453 veículos eletrificados. Bastos acredita que devemos chegar a 100 mil unidades emplacadas por ano em 2024.

O crescimento dos carros eletrificados é constante. Em 2022, a participação de mercado foi de 2,5%. Considerando somente os que são produzidos no Brasil (mesmo que o conjunto seja importado), este número cai para 1,34%. Isto vira o argumento da ABVE para defender a manutenção da isenção do imposto de importação para os híbridos e elétricos, por ainda ser uma tecnologia que está começando a ser adotada e a indústria está começando os investimentos para produzir mais modelos no país. “Nós queremos que o Brasil produza todas estas tecnologias, este é o atrativo que nós temos”, explica o presidente da ABVE.

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Outro motivo apontado por Bastos para a manutenção do regime para os eletrificados importados é a construção da infraestrutura. Os carros ainda estão chegando aos poucos, mas isto vai motivando a instalação da rede de carregadores, ainda concentrada nas regiões Sudeste e Sul. Para o executivo, se não tiver o carro, ninguém irá criar a estrutura necessária enquanto não existe uma produção nacional mais expressiva, além de que a extensão das isenções cria previsibilidade para a indústria.

Demanda urgente, a falta de um plano nacional de descarbonização e eletromobilidade será resolvido em breve. Segundo Bastos, o governo prepara-se para anunciar a Frente Parlamentar pela Eletromobilidade e que a ABVE irá apoiá-la com todo o material que foi preparado nos últimos anos, inclusive o que foi feito para a construção do Rota 2030.

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Um ponto pouco discutido e que está sendo defendido pela ABVE é um apoio aos veículos levíssimos como bicicletas e patinetes, não só com a redução de impostos como também com programas de geração de renda para trabalhadores de baixa qualificação profissional, usando os veículos levíssimos para delivery, reciclagem ou em pequenas empresas.

Tema que causou muita polêmica quando anunciado, a medição oficial da autonomia dos elétricos e dos híbridos adotada pelo Inmetro tem sido muito criticada pela indústria. A associação tem conversado com o Inmetro, a ABNT e o governo para criar uma aferição em condições reais da autonomia dos eletrificados, criando uma base tecnológica.

Existe uma expectativa pelo anúncio da segunda fase do Rota 2030, prometido para agosto. A indústria automotiva tem participado mais das discussões e a ABVE não ficou de fora, com propostas para incentivar a produção local. O regime automotivo trará metas de emissões de poluentes, mais restritivas e uma estratégia mais abrangente para a descarbonização, adotando tecnologias diferentes ao invés de investir somente no etanol ou nos elétricos.