Houve tempo em que os BMW Série 5 eram associados a motores de seis cilindros em linha ou V8. Eis que, M5 à parte, o único "Fünfer" hoje à venda no Brasil vem com um motor de quatro cilindros. Antes de torcer no nariz, saiba que estamos falando do 530e, um híbrido plug-in em que o conhecido quatro-em-linha 2.0 turbo (B48), de 184 cv, conta com o auxílio de um motor elétrico de 83 kW (113 cv).
Juntando os dois, são 292 cv de potência máxima combinada, com 42,8 kgfm de torque - números superiores aos do Série 5 com motor V8 (540i) de vinte anos atrás. Diferentemente de muitos alemães vendidos no Brasil, este é um híbrido "para valer" com bateria que pode ser carregada na tomada (PHEV, para os íntimos) e um motor elétrico que está ali para trabalhar intensamente. Não se trata de um mild hybrid (MHEV), em que um arranque/alternador de 48V está presente para dar uma forcinha de vez em quando.
O 530e nasceu em 2017, com a sétima geração da Série 5 (codinome G30), e estreou no Brasil no Salão do Automóvel de 2018. Recentemente, passou por uma plástica de meia vida. Lá fora, a Série 5 ainda oferece versões com motores seis-em-linha e V8, e a opção de trazer unicamente o 530e para nosso mercado se deu por questões tributárias. Carros elétricos e híbridos pagam alíquotas de importação mais baixas, IPI reduzido e, em muitos estados, fazem jus a descontos ou até mesmo a isenção total de IPVA.
Hoje o 530e é vendido por R$ 425.950, enquanto o Mercedes Classe E "mais em conta", da versão E 300 AMG Line (100% a combustão, com um 2.0 turbo de 258 cv), sai por R$ 555.900. Ou seja: R$ 130 mil a mais, por um carro com 34cv a menos. Já o BMW M5 Competition, com seu brutal V8 de 625cv, custa R$ 1.006.950. Tivemos a oportunidade de passar uma tarde com o 530e de cara nova, cedido pela concessionária BM Rio, durante um road show da marca. A primeira impressão é que a plástica fez muito bem ao carro. Ficou elegante, sem espalhafato.
Faróis e lanternas ganharam linhas mais retas e marcadas, conversando entre si. A grade cresceu um pouco, mas sem cair nos exageros recentes da marca. O pacote M Sport inclui um para-choque bem esportivo, em que duas grandes entradas de ar falsas ocupam o antigo posto dos faróis de milha. O contorno externo das lanternas traseiras não mudou, mas sim seu desenho interno, mais definido.
Essas mudanças não foram somente estéticas. Os faróis agora são a laser, adaptativos para não ofuscar quem vai na frente, e com alcance de até 600 metros (contra 250 ou 300 metros dos LEDs usados antes). Daí terem eliminado os faróis auxiliares. A grade tem persianas elétricas que, além do belo efeito visual, ajudam a manter a temperatura ideal de funcionamento.
Por fora, além do 530e na tampa do porta-malas, só um detalhe indica que esse Série 5 é um híbrido plug-in: no para-lama dianteiro esquerdo, uma tampa esconde a tomada de recarga. O kit M Sport traz aros de 19" (em vez de 18") e pinças de freio na cor azul.
A escala dos instrumentos digitais também ficou mais limpa e retilínea, ganhando modernidade. A tela multimídia cresceu (são 12,4") e a faixa central do painel traz acabamento mais escuro.
Este é um carro que só faz sentido para quem mora em casa e tem um carregador na parede da garagem. Promoções da marca costumam incluir no preço do carro o wallbox e sua instalação. A recarga total em rede trifásica de 220V leva entre 3 horas e meia a 4 horas.
Carro ligado, o painel dá boas vindas mas você não ouve nada, como em um modelo 100% elétrico. Ajuste elétrico do banco ao gosto do freguês e o motorista pode pôr o assento bem rente ao chão. Falando nisso, o encosto tem muito apoio lateral. A visão do mundo ao redor é muito boa e você não se sente ao volante de um carro com quase 5 metros de comprimento. O 530e avaliado trazia ainda uma impecável forração de couro marrom conhaque.
Os mimos incluem uma persiana na vigia traseira e inteligência artificial para fazer companhia. Está cansado? Diga: "Olá, BMW! Estou com sono". Um "programa de vitalização" vai modificar a iluminação da cabine, pôr música animada (uma batida de rock genérica guardada no próprio computador do carro), baixar a temperatura e jogar uma pancada de ar das saídas de ventilação. Está estressado? Fale isso para os gnomos eletrônicos e a temperatura ambiente subirá um pouquinho, a cabine ganhará iluminação alaranjada morna e, dos alto-falantes, sairá uma musiquinha de elevador.
Mas nada é perfeito. Muitas vezes a "moça da inteligência artificial" não entende os comandos por voz e fala sem parar. Quem tem Alexa em casa sabe o quanto isso é irritante... Melhor não despertá-la.
Nesse sedã com 2,97 m de entre-eixos, sobra espaço interno. O mesmo não se pode dizer da área do porta-malas, com assoalho alto por abrigar parte da bateria de 12 kWh e o gerenciamento eletrônico do sistema híbrido. O tanque também teve que mudar de lugar. Parte do assoalho, contudo, pode ser facilmente rebaixada para que entre um pouco mais de bagagem (são 410 litros, no total). Estepe não há, apenas um kit de emergência com selante e compressor.
Além de trazer o auxiliar de estacionamento convencional, hoje já bem comum, o 530e faz um truque que impressiona: é o Reversing Assistant, que copia em marcha à ré os últimos 50 metros que você andou para a frente, facilitando o trabalho de tirar o carro de uma garagem estreita ou cheia de pilastras. Vai até bem rápido!
Seu smartphone pode ser usado como chave para abrir e ligar o carro. Tal função pode ser compartilhada com até cinco pessoas, e o dono do carro pode até impor limites de velocidade ou alcance a cada usuário. Com um aplicativo, o proprietário do 530e também é capaz de controlar à distância várias funções do sedã. Mesmo de outro país, ele consegue ligar a ventilação do carro, travar e destravar as portas, buzinar, acender os faróis e tirar fotos de todos os ângulos, mostrando onde o carro está.
Com bateria cheia, é possível rodar de 35 a 55 km usando somente o modo elétrico - a distância total dependerá muito do pé do motorista. Quando pegamos o carro na concessionária, o computador de bordo registrava apenas 2 km de autonomia em modo elétrico, mas bastou uma hora rodando em modo híbrido e comportado para que esse alcance subisse para 9 km.
Espertamente, a BMW pôs o motor elétrico junto do movido a gasolina - e ambos acoplados ao câmbio automático ZF de oito velocidades. Além de manter a sensação de troca de marchas em qualquer situação e eliminar o peso do conversor de torque, essa solução tornou as transições entre elétrico e combustão muito suaves, quase imperceptíveis (graças também ao excelente isolamento acústico). Quem retirar a tampa plástica que cobre o motor a gasolina verá apenas um emaranhado de cabos esparramados sobre o pequeno 2.0 turbo, perdido na vastidão do cofre dianteiro.
Como em qualquer híbrido PHEV há modos que privilegiam o uso totalmente elétrico, híbrido normal ou econômico, para garantir o máximo de alcance possível. Aumentam ou reduzem a regeneração de energia cinética e influem até na iluminação. No caso do 530e, há até uma função função Xtraboost que entrega 40 cv adicionais por dez segundos (é assim que se chega aos 292 cv de potência total). No mundo real, onde nem sempre há um carregador disponível, ponha o seletor em modo híbrido que o 530e levará você a qualquer lugar, sem que seja necessário abrir o manual de instruções.
Apesar do "M" nos para-lamas, dos 252 cv (e mais o Xtraboost), do mundo de força à disposição e de ser capaz de fazer o 0-100 km/h em 5,9s, o 530e não passa a sensação de ser uma máquina de guerra. Trata-se de um sedã muito mais confortável do que esportivo. Seu motor elétrico preenche bem as lacunas de torque do 2.0 turbo, mas sempre privilegiando a suavidade de marcha. O carro anda muito bem, faz de tudo, mas falta-lhe aquela pitada de prazer puro dos BMW seis-em-linha.
Por carregar toda a traquitana necessária a um híbrido plug-in, o 530e pesa 1.835 kg - ou 240 kg a mais do que o atual 540i, com motor de seis cilindros em linha. A suspensão, contudo, deixa esse sedã de tração traseira tão neutro e plantado no asfalto que parece que estamos guiando um modelo com tração integral. A direção é surpreendentemente direta para um carro deste porte, e os largos pneus Bridgestone Turanza 245/40 R19 (na frente) e 275/35 R19 (atrás) também ajudam muito. Já o pedal de freio tem curso mais longo do que a média.
Uma das melhores surpresas da tarde foi o modo de condução semiautônoma eDrive. Funciona muito bem no trânsito pesado: faz curvas sozinho e acompanha o trânsito, acelerando e freando. O sistema pareceu-nos quase tão preciso, confiável e intuitivo quanto o dos Volvo atuais, o que é um tremendo elogio.
Estando com bateria carregada, a vontade é usar sempre o modo 100% elétrico pelo silêncio, ausência de vibrações e, claro, economia. Nos ciclos do Inmetro, o 530e fez nada menos do que 22km/l na cidade e 24km/l na estrada. Tais marcas, é claro, vão depender muito da forma de guiar e da disponibilidade constante de um wallbox na garagem.
Aliás, ao dirigir carros híbridos ou elétricos, o motorista instintivamente acaba aliviando o pé direito, como que disputando consigo mesmo um campeonato de economia. Andar de olho no monitor de fluxo de energia torna-se parte de sua rotina diária. A relação homem/máquina está mudando.
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BMW 530e MSport
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