O Mercedes-Benz EQC é o primeiro veículo 100% elétrico da marca da estrela de três pontas e chegou em nosso país em agosto de 2020. E o alemão chegou em terras tupiniquins com uma missão difícil no segmento, que já contava com concorrentes de peso como Jaguar I-Pace e Audi e-tron – esse último líder entre os SUVs elétricos de luxo em 2021. Mas quais são as credenciais do EQC frente aos rivais?
Para começar, se você reparar e olhar atentamente as linhas do Mercedes-Benz EQC 400, vai notar que já as viu em algum lugar. O SUV 100% elétrico pegou emprestado a base do GLC, a alternativa encontrada pela marca para acelerar o desenvolvimento do EQC e apresentá-lo em 2018, já que na época a marca alemã ainda não tinha uma plataforma específica para elétricos - o que mudou com a chegada do sedã EQS este ano.
Como mencionamos no parágrafo anterior, o EQC tem um “quê” de GLC, SUV com o qual compartilha a plataforma. A carroceria reserva suas semelhanças, como no recorte do capô sobre os para-lamas dianteiros e também nos volumes laterais da carroceria e vincos na parte inferior das portas. De resto, o EQC traz alterações visuais suficientes para se descolar do irmão com motor a combustão.
Não tem como ficar indiferente com a dianteira do EQC, destacado pelos faróis em forma de asa com detalhes em azul e luzes diurnas de LED, que acabam se integrando a outro filete de LED aplicado na grade dianteira, dando um efeito futurista ao SUV - pois é, Volkswagen Taos, você não foi o primeiro a ter essa ideia.
A grade frontal da versão vendida no Brasil traz filetes horizontais cromados finos que remetem a grade usada nas versões conservadoras dos sedãs da montadora, dando um ar mais clássico ao SUV, o que destoa de seu estilo mais futurista. Na Europa, ele conta com opção de grade com estilo mais esportivo inspirado nos AMG.
Mas sem dúvidas, um dos detalhes que mais causa discordância é a faixa preta que liga a base dos faróis, em formato de arco ao contornar a grade dianteira. Alguns gostaram e outros até comentaram que o SUV elétrico ficaria melhor se não tivesse esse acabamento. Questão de gosto, mas é inevitável dizer que a dianteira do EQC segue o estilo “falem bem, falem mal, mas falem de mim” para chamar a atenção, assim resultando em uma mistura de elementos de ar moderno e retrô ao mesmo tempo.
A traseira talvez seja seu melhor ângulo, principalmente pelas lanternas inteiriças que causam um belo efeito estético a noite. Grande diferença em relação ao GLC também é o caimento do teto, que é mais acentuado na parte traseira no elétrico. Os detalhes em azul aparecem também nas rodas de 20 polegadas através de grafismos que remetem a conexões elétricas.
Apesar da similaridade em alguns pontos com o GLC, o EQC é 70% diferente do irmão a combustão, segundo a Mercedes-Benz. As maiores mudanças ficaram nos eixos com os motores e pela aplicação das baterias de íons de lítio no assoalho, fora os módulos elétricos no lugar do motor na dianteira, entre outras alterações.
Mas falando da propulsão, o EQC vem com dois motores elétricos de 204 cv e 38,7 kgfm cada, sendo um instalado no eixo dianteiro e o outro no traseiro – assumindo o papel da tração integral 4Matic. A potência combinada é de 408 cv e generosos 77,5 kgfm de torque, que como é padrão nos elétricos, surge instantaneamente ao menor toque no acelerador – colando as costas nos bancos e deixando as saídas de pedágio mais divertidas.Em nossos testes, cumpriu a prova de aceleração de 0 a 100 km/h em 5,1 segundos, o mesmo divulgado pela fábrica. É um desempenho louvável para um veículo que pesa 2.495 kg, sendo 654 kg só das baterias.
O seletor de modos de condução muda o comportamento do carro, deixando o pedal do acelerador com resposta mais lenta e progressiva no modo Eco ou mesmo mais arisco no modo Sport, este responsável pelas acelerações mais intensas. Ao volante, o EQC tem suspensão macia, mas que bate seco com certa facilidade ao passar por buracos nem tão fundos assim ou valetas na cidade - característica até comum em outros modelos Mercedes-Benz que já testamos.
Na estrada, é bastante assentado por conta dos quase 700 kg de bateria instaladas no assoalho, que deixam o centro de gravidade do SUV mais baixo. A carroceria sente o peso nas curvas e oscila razoavelmente, enquanto que em rodovias dá aquela ligeira sensação de “flutuar” ao passar por desníveis na pista – mas nada que comprometa a segurança, já que é uma característica da suspensão com seu ajuste mais macio e voltado ao conforto. Diferente do e-tron, não há ajuste pneumático.
O isolamento acústico também é destaque e pode-se ouvir apenas o baixo ruído da rolagem dos pneus, isso tanto pelo silêncio típico dos elétricos quanto pelo mérito dos vidros dianteiros mais grossos e que também melhoram o conforto térmico.
Ao longo da semana de teste, o EQC teve um consumo de energia parecido com o do rival Audi e-tron. Com isso, ele registrou uma média de cidade: 4,0 km/kWh na cidade, o que daria uma autonomia de 320 km no uso urbano. Mas vale lembrar que a autonomia do EQC pode aumentar com o uso mais frequente do modo de regeneração de bateria com o uso de freio motor, que pode ser ativado pelas aletas atrás do volante.
A aleta esquerda deixa a regeneração mais forte e configurável em 2 níveis, ou seja, “amarra” mais o carro ao tirar o pé do acelerador (aparece D- no painel), situação que permite dirigir usando praticamente um pedal, pois o freio acaba sendo necessário só em algumas situações. Já a aleta do lado direita reduz a regeneração e deixa o SUV com rodagem mais solta, como em um carro convencional. Ainda sobre o consumo, na estrada o EQC fez 5,2 km/kWh, o que lhe daria uma autonomia de 416 km - algo curioso, já que normalmente os elétricos tendem a consumir mais no circuito rodoviário.
É importante lembrar que ao considerar o EQC ou qualquer outro veículo 100% elétrico para compra, você deve ter em mente que usar um carro elétrico além do uso urbano está ligado totalmente a novos hábitos e planejamento. Ou seja, se for viajar com o EQC, terá que escolher um destino que tenha estações de recarga no seu caminho, que felizmente estão se tornando mais comuns Brasil afora – ao menos perto das grandes regiões metropolitanas.
Em uma parada para recarregar a bateria em um raro posto de recarga rápida com carregador de 50 kW, a bateria foi de 25% para 97% em apenas 1 hora e 18 minutos. Com isso, a autonomia que estava em 104 km no momento da chegada ao posto, foi para 403,52 km considerando o consumo rodoviário registrado. Com a estação de recarga wallbox especial da marca, a bateria é recarregada totalmente em 7,5 horas em sua casa.
Quando vamos para o interior do EQC, o design é mais convencional. Lá estão as duas telas digitais configuráveis padrão da marca de 10,25" cada, com a do lado esquerdo sendo o painel de instrumentos e a outra à direita a central multimídia MBUX. O painel traz saídas de ar com acabamento em bronze, enquanto o volante traz botões e comandos sensíveis ao toque, que permite mexer no computador de bordo e nos recursos do sistema multimídia, que concentra de configurações de climatização a informações do sistema elétrico do carro.
E como já era previsto, o acabamento é padrão Mercedes. Isso quer dizer que praticamente toda a cabine conta com revestimento em couro e detalhes em alumínio nos painéis das portas, material presente até nos botões de acionamento dos vidros elétricos. O console central concentra botões para funções como a câmera 360º e um touchpad, que acabou perdendo o sentido com a tela touchscreen. Mas estranho mesmo é o acabamento das portas dianteiras acima da linha das janelas, o que acaba dando a sensação de uma adaptação não muito bem-sucedida por ali, pois o EQC divide plataforma com o GLC.
Os bancos são bem confortáveis e possuem extensores para a base das pernas, enquanto que a melhor posição de dirigir é facilmente achada com a coluna de direção ajustável eletricamente. A cabine chama a atenção pelas luzes ambiente, que podem ter cor única ou mesclar duas cores que aparecem no painel, na região dos pés, nas portas, embaixo dos bancos dianteiros e até na área dos puxadores das portas.
O espaço interno é suficiente, sem aperto, embora poderia ser maior a se considerarmos a distância entre-eixos de 2,87 metros. O que vai incomodar mesmo é o túnel central alto, que certamente vai deixar mais desconfortável quem viajar sentado no assento do meio. O que não faz sentido é a saída de ar para os bancos atrás sem regulagem de temperatura, um pênalti para um carro de mais de R$ 600 mil. O porta-malas tem 500 litros de capacidade, compatível com o segmento, mas poderia ser ainda maior caso o compartimento abaixo não fosse ocupado pelos carregadores portáteis e adaptadores para a recarga do SUV.
O EQC 400 é vendido em versão única, que traz itens como o sistema de condução semi-autônoma, que dirige, acelera e freia o carro sozinho e até faz curvas, desde que as faixas na via estejam bem demarcadas. Mas o sistema lembra que o motorista é quem está no comando, pois emite um alerta a cada 5 segundos para o condutor manter as mãos no volante.
Entre os principais equipamentos há ainda assistente de estacionamento, banco do motorista com regulagem elétrica e memória, teto solar panorâmico, 7 airbags (2 dianteiros, 2 laterais, 2 de cortina e 1 para os joelhos do motorista), detector de fadiga, sistema de som Burmester com efeito surround, porta-malas com abertura e fechamento elétrico (acionado ao passar os pés sob o para-choque) e chave presencial para acesso e partida.
Os faróis são full-LED com facho alto automático, fora que ao ligar o carro há uma animação com as luzes piscando e apontando para cima, para os lados e para baixo - um show de luzes digno de um avião Boeing 787. O clima de “nave” é completo pelo sistema head-up display com projeção de informações no para-brisa, que pode ser configurável para exibir informações do navegador GPS.
São essas as credenciais do EQC 400 4Matic, que tem preço tabelado em R$ 629.900. É verdade que ele é mais caro que o Audi e-tron de base (R$ 614.990), mas para compensar já traz um pacote fechado de equipamentos, sem opcionais. Quem comprar o EQC ganha um carregador portátil e uma estação Wallbox residencial, cuja instalação é gratuita e feita pela Enel graças a uma parceria.
No entanto, o que pesa contra o SUV é que hoje em dia o público quer carros elétricos com visual próximo ou igual a de um carro comum, mas a Mercedes parece que ainda quer seguir o caminho do design futurista – como deixou claro nos lançamentos do Salão de Munique.
De certa forma é nadar contra a maré do mercado, ao menos no Brasil, onde o Audi e-tron vendeu quatro vezes mais (86 unidades) que o Mercedes EQC (22 carros) no acumulado até julho deste ano. Mas se você é cliente fiel da marca e não dispensa o acabamento interno refinado e a suspensão macia, certamente o EQC é uma boa opção neste mercado em franco crescimento. Para te convencer, a empresa oferece 3 anos de garantia e manutenção preventiva pelo mesmo período.
Fotos: Mario Villaescusa (para o InsideEVs Brasil)
Mercedes-Benz EQC 400
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