O Renault Zoe, um habitué na garagem do InsideEVs, recebeu uma nova missão. Desta vez, o carro elétrico que já passou aqui na redação para teste e até avaliação de longo prazo, foi escalado para uma viagem bate e volta até a capital do Paraná para uma visita ao complexo industrial da Renault em São José dos Pinhais.
Nessa viagem, acompanhei o Fábio Trindade, diretor executivo da Motorsport Network no Brasil, até a capital paranaense, revezando ao volante durante a viagem de pouco mais de 400 km. Se por um lado, o Renault Zoe já era um carro bem conhecido aqui na redação, por outro a viagem mais longa era algo inédito com esse modelo.
E quando a gente pensa em carro elétrico, acho que a primeira coisa que vem à cabeça é a autonomia. Sim, o tão temido alcance, ou ainda 'ansiedade de alcance', que é um termo bastante usado lá fora.
Então vamos logo às contas: uma viagem de 400 km pra uma autonomia declarada de 385 km, ou seja, nenhum problema se você considerar uma parada pra recarga no meio do caminho. No nosso caso, a programação era parar no Posto Graal Buenos Aires, na Rodovia Régis Bittencourt, região de Registro (SP).
Saindo de São Paulo (SP) logo após a hora do almoço, o objetivo era chegar em Curitiba a tempo de jantar e descansar para visitar a fábrica no dia seguinte, logo pela manhã.
Pé na estrada, trânsito carregado na saída de SP, mas ainda assim fluindo, e como sempre: olho no consumo de energia e na autonomia. Nos primeiros quilômetros o consumo fica um pouco mais alto, mas depois vai melhorando e então vem o trecho da serra do Cafezal, um longo declive com cerca de 30 km.
No final da descida, a grata surpresa de dirigir um carro elétrico: o painel indicando uma autonomia de quase 400 km. No entanto, vale lembrar que a medição do carro elétrico é atualizada constantemente e se baseia nos últimos quilômetros percorridos. Então dava pra saber que esse número voltaria a cair rapidamente assim que voltássemos a dirigir no trecho 'normal'.
E de fato, assim foi, até percorremos os 180 km até a primeira parada no posto Graal Buenos Aires, um dos principais pontos de apoio nesta rota. O local possui uma estação de recarga da EDP, com dois carregadores, um de 22 kW e outro ultrarrápido de 150 kW. No caso do Zoe, a potência máxima de carregamento é de 50 kW em corrente contínua, mas mesmo tivemos que utilizar o de menor capacidade. Motivo? Um BMW i3, velho conhecido do local e até com menções no Google, estacionou e utilizou o carregador mais potente.
Para utilizar os carregadores da EDP é necessário localizar o ponto de recarga no mapa e liberar o uso por meio do aplicativo no smartphone. Vale destacar que o app é fundamental nesse processo e no caso de impossibilidade de utilizá-lo, seja qual for o motivo, é necessário o uso de um cartão. Como nem todo mundo tem um cartão da EDP (nós nem sabíamos que existia essa opção), a empresa geralmente deixa um com algum funcionário do local onde o carregador fica instalado.
A dica para quem vai viajar com carro elétrico é manter esses aplicativos sempre atualizados, e possivelmente logados, para evitar surpresas desagradáveis. Neste nosso primeiro contato, o aplicativo solicitava atualização, mas o que complicou foi o processo de recuperação de senha que estava inoperante em um dos smartphones, mas no fim das contas conseguimos.
Nessa primeira parada, ficamos cerca de 1 hora e meia, tempo suficiente para um lanche e conferir os e-mails enquanto o carro era recarregado. Na saída, uma surpresa: a bateria estava com 87% (não 100%, como previsto) e o carregador estava 'travado', ou seja, não dava pra retomar o carregamento, não sendo possível desbloqueá-lo nem mesmo pelo aplicativo, onde o status da recarga ficou pendente.
Como o meu aplicativo estava com o carregamento 'travado' e o Fábio não conseguiu recuperar a senha, decidimos seguir viagem. Afinal a autonomia disponível era suficiente para chegar ao destino, ao menos em teoria, então não havia motivo pra preocupação.
Pé na estrada, iniciamos a segunda perna da viagem, descendo rumo ao Sul enquanto o dia escurecia. Poucos quilômetros adiante o relevo começa a mudar drasticamente: muitas subidas e poucas descidas de serra em uma sequência que chega a ser cansativa por conta das reduções constantes, radares de baixa velocidade e muitos caminhões.
E é aqui que começa o problema: o consumo de energia e a estimativa de autonomia começam a cair bruscamente nessas condições, e por causa dos caminhões, tivemos que reduzir bastante a velocidade média da viagem e planejar uma segunda parada para recarga, inicialmente descartada.
Por volta das 21h00 nos aproximamos da região metropolitana de Curitiba. Um certo alívio e algumas possibilidades de pontos de recarga começam a surgir na tela do aplicativo. Temperatura batendo 9º, mas com sensação de 7º e uma garoa persistente, finalmente paramos no posto indicado. No local, um carregador Volvo com 7 kW, o que é pouco para um eletroposto na rodovia, mas como estávamos próximos de Curitiba, serviria para atenuar um pouco a "ansiedade de alcance".
Após estacionar, entramos no local para fugir do frio e tomar um café. Mas em menos de 10 minutos um funcionário do posto nos acena e informa que o carregador está 'apagado'. Logo de cara verificamos que o mesmo estava com o disjuntor desarmado e poderia voltar a funcionar normalmente. Decidimos seguir viagem sem mais recarga, era muito tarde e o restinho de energia era suficiente para chegar ao destino. Sem folga, mas o bastante, era só manter o pé controlado.
Quase 22h00 e enfim chegamos ao destino, o Hotel Mercure no bairro de Batel, região central de Curitiba. Primeira parte da missão concluída e ainda restava 12% da bateria, ou em termos práticos, cerca de 30 km de autonomia indicando no marcador. Ao estacionar o carro, perguntamos se havia algum ponto de recarga, algo esperado para um hotel deste porte, mas não tinha. O funcionário nos disse que vários clientes já pediram, o que inclui donos de BMW, Volvo, Audi e Porsche.
Logo pela manhã, por volta das das 8h30, saímos rumo ao complexo da Renault em São José dos Pinhais (PR), ali mesmo na região metropolitana, a 18 km do local. Como era contrafluxo, a viagem foi tranquila e chegamos na fábrica no horário programado, estacionando o Zoe na vaga exclusiva do carregador, que tinha 22 kWh de potência. Sim, chegamos com 12 km de autonomia restante.
Considerando o tempo de duração da visita (toda a parte da manhã), a potência de 22 kWh seria mais que suficiente para carregar totalmente a bateria. Sem problemas nesse ponto.
Visita à fábrica terminada, almoço concluído, é hora de voltar. Com a bateria a 100% o plano era parar para carregar no posto Graal Petropen, na BR-116 e mesma região onde paramos na ida, porém no sentido oposto.
Saímos de Curitiba com trânsito livre e sem ocorrências. Cerca de 200 km depois, seguindo o fluxo normalmente, chegava a hora da primeira parada, conforme previsto. Dia claro, sem chuva e com velocidade máxima da via quase que constante.
Ao chegar ao posto e estacionar no carregador, que também era da EDP, desta vez optamos pelo de recarga ultrarrápida. A potência era de 150 kW, no caso limitada a 50 kW, que é o máximo suportado pelo Zoe em corrente contínua DC. Desta vez com a lição de casa feita: aplicativo atualizado previamente e logado.
Pelas contas, seria preciso menos de 1 hora para recarregar 100% da bateria. De fato, depois de uma pausa para um lanche, voltamos ao carro após 50 minutos: estado da carga era de 95%. Esperamos menos de 10 minutos, desconectamos o plugue e iniciamos a segunda perna da viagem com a bateria totalmente carregada - tudo tranquilo e conforme o programado.
Considerando a estimativa de autonomia, e agora, diferentemente da ida, levando em conta um pequeno trecho de subida de serra e a distância restante a ser percorrida, o resto da viagem seria tranquilo. Deu pra dirigir acompanhando o fluxo, sem restrições, inclusive aproveitando a desenvoltura do motor elétrico pra subir a serra sem esforço algum - o carro parece estar no plano.
Antes das 20h00, depois de quase 200 km após a única parada, chegamos ao destino final, a redação do Motor1/InsideEVs na zona oeste de São Paulo (SP) sem nenhuma ocorrência e com consumo final de 16 kWh/100 km - viagem tranquila.
Como eu disse no início, a gente já havia testado e avaliado o Renault Zoe, inclusive com a última avaliação sendo de longa duração, então o comportamento do carro elétrico não era exatamente uma novidade. Destaque sempre para o torque disponível a partir de 0 rpm, ótimo para retomadas extremamente seguras. Nas serras, o Zoe ganha velocidade fácil, mais fácil que carros a combustão.
A viagem mais longa foi uma oportunidade de entender melhor o carro e a experiência de dirigir fora da cidade, que de certa forma foge um pouco da proposta de um carro elétrico compacto, que é principalmente o uso urbano. E claro, para entendermos as variações e desafios de infraestrutura.
Pontos de recarga, sem dúvida, é o nosso grande desafio. Pelos aplicativos, São Paulo nos mostra centenas de opções na área metropolitana, mas basta entrar nas estradas para ficarem escassos. A tendência, claro, é que o número de carregadores aumente gradativamente, acompanhando a chegada de mais carros elétricos.
Sobre o carro, o Zoe agradou pelo desempenho, mais que suficiente em todas as situações que enfrentamos e também pelo conforto a bordo, seja pelo bom nível de acabamento e isolamento acústico, como pela suspensão bem calibrada, estabilidade e visibilidade.
Apesar de não ser a geração mais recente de carros elétricos da marca (a evolução é muito rápida nesse segmento e a própria Renault terá boas novidades por aqui em breve), o Zoe não deixou a desejar em praticamente nada. E sobre o ponto crucial, que é a autonomia, os 385 km (WLTP) declarados correspondem à realidade principalmente em seu uso na cidade. Encarar longos de trechos de serra, atrás de caminhões em baixa velocidade, obviamente, impactará neste número.
Se já é possível viajar de carro elétrico? A resposta é sim. No caso do Zoe, e como em todo carro elétrico, é preciso planejamento. Distâncias entre 400 e 500 km são viáveis com apenas uma parada para recarga. No entanto, isso vai variar de acordo com o estilo de condução, topografia e até temperatura (lembrando que no clima mais frio o consumo de energia aumenta).
Com Fábio Trindade/Motor1.com
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